VIII. Resultado

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O fatídico dia havia chegado para entregar as espadas que tanto trabalhou em suas forjas, e Aquilies fazia sua rotina matutina. Corria pelas mesmas ruas, mas agora com um sentimento novo. Sentia ansiedade, e também um senso de dever. Faltava apenas a última etapa de montar a parte da guarda-mão, cabo e pomo das espadas, que andou aperfeiçoando.

Mestre Godo, que apesar de tê-lo conferido a tarefa de forjar as espadas por completo, contribuiu na confecção das bainhas e fivelas, uma vez que demandaria ainda mais esforços e tempo de aprendizado para seu aprendiz num ofício totalmente diferente da metalurgia, que era o foco de Aquilies desde que começou esse trabalho.

Mesmo tendo recebido os diagramas na porta de sua casa, Aquilies não ousou perguntar pela ajuda de seu mestre. Ao longo da semana que antecedeu o dia da entrega, o garoto treinou e criou diversos protótipos com seu árduo trabalho em detalhes, e logo hoje, sentiu que estava preparado para finalizar o trabalho.

O dia amanheceu bastante frio, e ficaria ainda mais frio a cada dia que passava nesse mês. No entanto, Aquilies continuou usando o mesmo conjunto de roupas de terceira mão. Ainda que sentisse um pouco de frio, se manteve aquecido pela sua corrida nos quarteirões de seu bairro periférico. Porém, ao ingerir de seu odre de água, sentiu a garganta sendo irritada por uma sensação gélida.

Visto a situação precária, um vizinho o chamou:

— Ô Aquilies! — disse uma voz masculina da janela de uma das casas.

O menino olhou em direção ao chamado.

— Rolf? — Ergueu a cabeça para ver a janela do segundo andar. — O que foi?

Por poucos segundos, ele saiu da janela e foi para dentro de casa, mas logo voltou.

— Pegue! É do seu tamanho! — Jogou um antigo casacão de pele de foca, no qual não cabia mais em Rolf.

Aquilies agarrou o manto, de considerável valor, e o vestiu.

— Obrigado! — Aquilies sabia que ele foi um dos amigos de seu pai, então adicionou: — Meu pai também agradece!

O vizinho apenas acenou junto de um sorriso, enquanto Aquilies acenou ao longe conforme corria para longe. Não demoradamente, percebeu o peso extra que o sobretudo mostrou ser, apesar de confortável. Contudo, admitiu como uma dificuldade a mais em seu treino cardíaco. Aquilies nunca cogitou em adicionar pesos em suas corridas, mas aceitou de bom grado a espontânea novidade.

Isso se demonstrou ser extremamente desgastante para o garoto, mas conseguiu chegar até o seu ponto de descanso, a praça da cidade. Primeiro, sentou nos degraus e depois deitou nelas. Seus olhos viram um céu branco, como se a qualquer momento os primeiros flocos de neve pudessem cair. Junto disso, a cidade se apresentava pouco movimentada por ser o primeiro dia desta semana.

Aquilies se viu sozinho na praça, nem mesmo o piar dos pássaros acontecia como de costume. Com essa sensação, olhou para a estátua do navio, que encontrava-se vazia. Nisso, uma ideia surgiu em sua mente, e, rapidamente, levantou dali e foi até o barco de bronze. Junto da estátua havia uma placa, porém, ele não soube ler o que foi escrito. Apenas compreendeu o desenho de proibição, que era mais que suficiente para entender a mensagem.

Apoiou os pés nessa mesma placa e subiu no barco, mesmo tendo pavor por eventos passados, mas tolerou por não estar em alto mar. Andou pelo deque do barco e tocou em cada parte dele, como o mastro, parapeito, timão, que realmente correspondia ao movimento de giro, e até a grande vela. Nunca viu o metal estar tão perfeitamente curvo e fino como aquela imitação metálica de vela.

Teve acesso ao porão do barco quando abriu os alçapões, contudo, para sua infelicidade, estava totalmente escuro por dentro. Logo, voltou à claridade do sol e sentou acima do parapeito da proa, olhando à distância os altos telhados das casas de bairros nobres. Certamente, era lá que as suas duas clientes aguardavam seus pedidos, numa casa de férias própria ou pousada luxuosa.

O Prelúdio da JornadaOnde histórias criam vida. Descubra agora