O Prelúdio da Jornada

V. Pressentimento

Taylor andava tenso, pois não via o seu pai desde que houve o último dia de festas há quase duas semanas atrás, portanto, esteve sob tutela do Trio Sinistro, composto por Tio Theo, com quem Taylor tinha mais afeição, Bailey e Almir. Antes de se juntarem com o Bastardo, eles eram as cabeças por trás de grandes assaltos e golpes por toda a extensão do reino de Nova Helder. Eram um trio realmente sinistro no que faziam de melhor: pilhar e matar.

Contudo, Tyler amoleceu os corações corrompidos destes veteranos da terceira década deste século, que viram um reino se romper em dois. Tio Theo era o mais velho, beirando a casa dos sessenta anos, enquanto que Bailey e Almir tinham por volta de quarenta a cinquenta anos. Seu pai era mais novo que eles por alguns anos.

Esse ano em específico, no qual completou uma década de vida, estava sendo o mais entediante de todos aos olhos de Taylor. Cada vez menos participava das empreitadas, e muitos dos membros mais velhos ansiavam pela ação. Entretanto, um crescente receio vem tomando conta de seu líder.

Taylor compreendia as preocupações de seu pai, mas não gostava das suas atitudes por conta de afastamentos cada vez mais longos. Para lidar com isso, treinou intermitentemente com seu par de adagas. A princípio, praticou cortes e estocadas com a mão não dominante, a mão esquerda. Alternativamente, trocava a prática com a mão dominante e, por fim, adotava uma postura de combate com ambas desembainhadas. Em todo o período, cortou apenas o vento, sem ter qualquer boneco de treino.

O Trio Sinistro ficou encarregado de vigiar o filho de Tyler, e para poupar esforços, mantiveram-se no esconderijo do subsolo. Havia outras bases espalhadas pelo reino inteiro, mas exclusivamente estavam atuando somente na capital nestes últimos meses. Bailey e Almir encontravam-se jogando cartas, e Tio Theo observava do canto do olho o treino de Taylor através de uma pequena fresta do chapéu de couro que cobria o seu rosto enquanto deitava nas escadas. A sua preguiça crescia com a idade, que já era avançada para os padrões do continente.

Mesmo no subsolo, Taylor sabia dizer que o sol ainda raiava forte na superfície. Todavia, seus ânimos eram retirados de si a cada dia que passava embaixo da terra. Apesar do esconderijo ser aconchegante, Taylor apenas enxergava pedras e mais pedras conforme olhava para cima, apenas querendo desesperadamente sair dessa gaiola.

Num descanso, Taylor percebeu que o Tio caiu no sono. Logo, pensou numa travessura para perturbar o velho. Subiu sem fazer barulho de passos para o seu pequeno quarto e procurou em seu baú bugigangas e espólios de golpes anteriores. Havia embalagens de comida vencida, moedas de bronze que roubou das idas às cantinas, lenços sujos de ranho endurecido, bijuterias falsificadas e, por fim, o que ele procurava, caixas de estalinhos.

O menino ainda lembrava da época que comemorou seu sexto ano de vida, pois seu pai teve o trabalho de roubar uma loja de travessuras. Havia trazido diversos aparatos frívolos, que perderam a graça em questão de dias. Mas, se divertiu genuinamente com um dia de graças que foi um de seus aniversários.

Atualmente, tudo apresentava-se tão mórbido e sério, e para descontrair, Taylor desceu degrau por degrau com extremo cuidado para não acordar o Tio. Bailey e Almir perceberam que o menino aprontava algo, mas queriam ver no que isso resultaria. Theo era o mais casca grossa entre os três, raramente viam um vislumbre da pessoa por trás do Assassino de Barões.

Taylor colocou uma boa porção dos estalinhos restantes alguns degraus acima da cabeça do Tio e pegou uma pedra suficientemente grande para explodir todos eles ao mesmo tempo. As mãos delicadas de Taylor soltaram a pedra, que provocou um barulho extremamente alto. Isso acordou Theo de susto, que balançou todo o corpo, parecendo que estava sendo alvejado por várias flechas.

Seu chapéu de couro caiu das escadas, e ele procurou de onde veio o som.

— Aaaah! Seu pestinha! — chamou Theo, referindo-se a Taylor com uma voz rouca.