XVI. Duelo

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Desde que o dia amanheceu, Aquilies sentiu que metade da cidade estava querendo ver o desenrolar da justiça em forma de duelo. No período que se antecedeu, o garoto obteve a confirmação da participação do cavaleiro Mylo na Justiça por Combate através de uma notificação emitida pelo próprio duque do norte, Ryan Falconer. Com certeza ele nem sabe quem eu sou e deve ter feito isso por insistência de sua filha.

Muita expectativa foi colocada neste embate, por conta do coincidente envolvimento do duque. Alguns especularam que era uma jogada política, e outros achavam que era um ato generoso do representante de Antiga Helder no Conselho de Assuntos Exteriores, que reunia as pessoas mais aptas para o serviço da diplomacia entre os Nove Reinos, como demonstração de sua proatividade quanto à questão dos refugiados insulares e de sua inclusão ao continente.

Não imaginava que isso tomaria proporções continentais.

Além disso, outro convidado de honra para testemunhar tal evento era o marquês de Villaria, o herói da Batalha do Cerco Quebrado, Henrik Fozalto. Praticamente, os dias que se seguiram foram designados exclusivamente para a preparação do bairro central, onde ocorreria o duelo, devido à presença majestosa destas duas figuras.

Obviamente, o suserano do barão da cidade, o conde da Baía do Horizonte, e sua viscondessa também estariam presentes. Inclusive, o baronete Temério tinha um assento garantido junto dos demais baronetes responsáveis por outros bairros da cidade. Ou seja, o duelo fez com que todos os níveis nobiliárquicos, exceto o rei e seus herdeiros, fossem convocados para testemunharem em nome de um estrangeiro, que em ordem decrescente, eram eles: duque, marquês, conde, visconde, barão, baronete, cavaleiro, e forçando muito a barra, escudeiro; tendo Riza como a escudeira de Sir Mylo, mesmo que informalmente.

É, eu não esperava mesmo que isso fosse atingir esse nível.

O que mataria Aquilies de surpresa seria a presença do general Trosten neste duelo, entretanto, as últimas notícias diziam que ele havia se aliado com um infame bandido justiceiro numa barganha em que ambos tinham que cooperar numa operação de resgate de refém em terras do reino vizinho, Nova Helder. Fofoqueiros acreditam que a identidade de tal fora da lei seja do Bastardo, pois a imprensa não mencionou nomes nem apelidos, mesmo com jornais anteriores tratando da trama sobre a erradicação de seu grupo.

Ainda sobre justiça, o simples guarda Jones entrou em contato com Aquilies para atualizá-lo de sua investigação particular quanto à conspiração criminosa e, agora, política que assolava a neutralidade da cidade portuária em relação à Revolta Mareal.

Ele me disse que tem um grupo de crime organizado sendo financiado pelo duque do sul para fazerem, uh, um golpe de estado? Acho que é isso o que ele falou, se eu tiver bem lembrado. Mas ele acha que eles vão dar no pé porque souberam da reunião de tantos figurões da alta aristocracia e, consequentemente, o aumento no número de tropas que estarão na cidade.

Indiretamente, Aquilies foi a razão para toda essa movimentação acontecer. Ele nem sabia como se sentir, mas certamente, sua mãe estaria animada e super feliz por ele ser o centro das atenções. "Tá famosinho, hein, meu bem", imaginou Aquilies, pensando o que sua mãe falaria na voz dela.

O garoto nem se deu conta de que o mês estava acabando, sendo hoje o último dia. Ele passou a maior parte do tempo trabalhando na forja e aprendendo a ler horas antes de precisar sair da casa de Rolf. Com essa nova rotina, Aquilies deixou de treinar de forma tão intensa, visto que metade do esforço para se tornar um justiceiro era proveniente do conhecimento.

Ele até aprendeu algumas palavras, mas ainda não conseguia ler uma frase por completo sem ter que consultar o dicionário que havia comprado na mesma livraria onde conseguiu seu primeiro livro, o De A a Z: Vinte e seis contos para qualquer um se alfabetizar.

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