IX. Mudança

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Neve cobria o chão, e Taylor estava finalmente ao ar livre. Com ele, apenas Bailey e o piloto anônimo faziam companhia. Desde que saiu do esconderijo, presumiu que a decisão foi pensada logicamente pelo seu pai, que optou por pouca companhia para não chamar atenção e com indivíduos mais do que suficientemente capacitados para fugirem e se esconderem de eventuais problemas.

Taylor havia passado mais de um mês aprisionado no esconderijo e se sentiu aliviado ao respirar o ar natural de inverno, ainda mais com neve. O sol raiava forte, mas o frio prevalecia. Estavam todos agasalhados e com montarias, inclusive o menino de cabelo branco. Ele se identificava melhor com essa estação e com qualquer coisa que fosse branca. Adorava a neve, e agora o seu novo cavalo.

O pequeno potro também era órfão, o pai havia sido capturado e abatido num sacrifício após o primeiro ano de vida de sua cria e a mãe havia morrido no parto. Contudo, ganhou um companheiro, o menino Taylor. Ambos eram parecidos, e, lentamente, iam construindo seus laços. O garoto apenas estava sentado na sela sem ter nenhum controle, pois estava sendo guiado pela corda do piloto.

Ninguém sabia o seu nome, nem mesmo Tyler, e nunca foram de falar muito com esse homem. Chamavam ele de piloto, montador, andante, hipista e até mesmo de cavaleiro, no sentido de ser o melhor quando o assunto era andar a cavalo. Em menos de meia hora de condução feita por ele, Taylor conseguiu comprovar facilmente essa admirável habilidade dele com os equinos.

Nas noites que se seguiram após a confirmação da presença de um traidor, o cavaleiro ficou entre os mais suspeitos por conta de sua natureza quieta, era o que Taylor pensava. Muitos aspectos apontam a comportamentos traiçoeiros vindo dele, como a falta de comprometimento, diálogo e abertura emocional com a gangue. Entretanto, participou na maioria dos assaltos, com margens cada vez maiores de seu restrito tempo, sendo uma peça-chave para diversos sucessos.

"Vocês me têm por apenas sete minutos, não importa o que aconteça", essa frase era o seu bordão, pois, não importava o que fosse, toda a operação não podia demorar mais que sete minutos. Entre os membros mais antigos da trupe, ele recebia o apelido de Víbora, mas Taylor não compreendia o significado. Além disso, não entendia se ele tinha mesmo fidelidade com a gangue, apesar de continuar comparecendo aos esconderijos há nove anos.

Esse homem era uma verdadeira incógnita, e a única coisa que sabia dele era que tinha por volta de vinte e seis anos. Eram poucos que conversavam ou, ao menos, tinham iniciativa para falar com o piloto. Apesar de ter um comportamento medonho, era relativamente atraente pela sua aparência e também pela personalidade misteriosa. Taylor soube através de fofocas que Dona Helena já demonstrou ter certo interesse no jovem homem, mas ele não a correspondeu, apenas respondeu com um simples "Não" para ela com um olhar mórbido.

O enfermeiro de batalha Alexander e ele compartilhavam de mesmos comportamentos, todavia, o piloto escolheu ser assim por vontade própria. Ele não era totalmente frio como Grigor, pois o menino viu esse homem sendo brutal numa situação de vida ou morte, que torturantemente matou um guarda ao despedaçar o braço dele com diversos golpes de marreta, uma vez que o guarda acertou um golpe de espada contra Tyler.

Taylor decidiu não lembrar mais fatos sobre o piloto porque estava se tornando perturbador demais. Bailey não se atreveu a falar na presença do piloto por receio do que ele poderia responder. Seguiram viagem quietos pelo restante da ida, com Bailey e o piloto lado a lado, enquanto Taylor ficava atrás.

O arco nas costas e aljava de flechas na cintura do antigo caçador Bailey transmitiam segurança para o garoto, que trazia seu par de adagas. Não soube dizer que tipo de arma o piloto escondia por baixo de seu sobretudo de couro aveludado. Bailey trajava uma calça branca e um casaco antigo feito com a pelagem de raposas brancas, quase perfeito para camuflagem na neve, que foi usado em temporadas de caça de invernos anteriores. Enquanto isso, Taylor pegou qualquer casaco nos espólios compartilhados do esconderijo, pois raramente havia artigos roubados que atendessem a única criança na gangue.

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