Algumas coisas nunca mudam

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A floresta está escura e quieta. Eu ouço o som das folhas secas abaixo dos meus pés e sinto o vento gelar o meu rosto. A única coisa que posso enxergar é o estreito caminho à minha frente, no meio dos enormes pinheiros. Mas, de repente, ouço um forte estrondo e a floresta se ilumina em tons avermelhados. O tremor que sinto no meu corpo me faz concluir que uma explosão aconteceu há algumas centenas de metros a frente. Eu continuo em choque, mas minhas pernas involuntariamente se movem em direção as chamas que surgem no horizonte.

Meu coração acelera indicando que eu deveria voltar para a escuridão atrás de mim, mas minha mente insiste em ver o que há no destino a minha frente. Eu corro desesperadamente, o ar frio arde as minas narinas e é como se eu escutasse o tique-taque de um relógio me dizendo que o tempo estava acabando, então, eu me esforço ainda mais. No entanto, quanto mais eu corro, mais distante estou do fogo que vejo entre as árvores.

De repente, surge um som suave, com uma melodia que eu reconheceria em qualquer lugar e a floresta a minha volta simplesmente desaparece. Eu abro os olhos, fito por alguns segundos o teto escuro do quarto e, antes de alcançar o celular que tocava insistentemente sobre a mesa de cabeceira, a ligação para. Exausta das tantas noites mal dormidas, apenas me viro para o lado e tento voltar a dormir, mas meus batimentos continuam acelerados demais por conta do pesadelo que eu acabara de sair.

Outra vez aquela noite veio me assombrar. Por quase 2 meses, todas as noites eu corro por aquela floresta escura e fria tentando chegar a tempo de salvá-los. Jake e Richy. Eu falhei com os dois. Eu precisava estar lá. Era comigo que Richy queria conversar. Era o meu lugar que Jake tomou. Talvez eu tivesse mudado o rumo que as coisas tomaram se fizesse meu papel nisso tudo. Mas eu falhei. E eu continuo falhando até em meus próprios sonhos.

Aquelas imagens em minha mente me torturam noite após noite. Entretanto, elas são a única coisa que me restou de Duskwood e não quero pensar que elas podem simplesmente parar de aparecer em uma noite qualquer, porque, então, tudo não passará de apenas um sonho sem um final feliz.

Jake desapareceu e, desde esse dia, só tenho pensado no pior. Mas como se seu silêncio não fosse o suficiente para me desfazer em pedaços, todos os outros também sumiram. Jessy, Dan, Phil, Cleo, Thomas e, até o delegado Alan. Como fumaça ao vento, todos os contatos e conversas se dissiparam do chat, sem restar qualquer sinal. Varri as redes sociais em busca deles, pesquisei em toda a internet e não encontrei nenhum rastro se quer, nada que me fizesse acreditar que tudo aquilo foi real. Mas eu sei que o que senti foi real e está tudo guardado na minha memória. Só não sei dizer até quando ela será confiável. Temo começar a esquecer detalhes, rostos e nomes, pouco a pouco.

Eu havia sido banida da vida dos meus amigos para sempre sem nenhuma explicação e trazida de volta para minha solitária e entediante realidade. Não que um sequestro fosse um entretenimento, mas toda aquela história tinha me dado um novo objetivo de vida e pessoas com quem eu passei a me importar. E agora, um vazio ocupa o lugar que antes era deles. Eu sinto tanta falta...

Um som agudo vindo do celular me faz abrir os olhos novamente. Uma notificação de mensagem a essa hora da noite? Só poderia ser engano. Mas logo depois de uma ligação de um número desconhecido? Talvez não fosse tanto engano assim. Alcanço o celular de novo e abro o chat que contém uma solicitação de bate-papo de um número que eu não reconhecia. Aceito e abro a conversa.

+55 327 017: Ei


Encaro a tela do celular cogitando seriamente em apenas bloquear e tentar voltar a dormir, mas aquela minha inquietante curiosidade já havia sido despertada e eu respondo.

Alison: Olá, estranho.

+55 327 017: Então, acho que lhe devo um obrigado? 🙂

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