O medo e o alívio em seus olhos

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Ainda incrédula sobre a ligação que provavelmente tinha sido de Adam Dover, não penso muito antes de correr ao chat e chamar aquele mesmo estranho.

Alison: Ei, espere

+55 327 017: ?

Alison: Acabei de receber uma ligação muito estranha

+55 327 017: Era o Adam?

Alison: Sim... quero dizer, talvez

+55 327 017: Por acaso você se lembra do número?

Alison: Claro

+55 431 893

+55 327 017: Sim. Esse é o número do Adam

Então, o que ele disse?

Alison: Acho que...

Algo sobre "Greenside"

+55 327 017: Hm

Alison: Mas por que ele ligaria pra mim,

de todas as pessoas no mundo?

Por que não liga pra você?


+55 327 017: Eu também não entendo

Essa coisa toda está ficando mais estranha a cada minuto

Vou dar uma olhada no resto do estacionamento

Só pra ter certeza


Enquanto o estranho do outro lado da tela averiguava o local combinado para o encontro com seu amigo, eu me levanto da cama e caminho até a cozinha, já que qualquer resquício de sono havia se dissipado àquela altura.

Penso em pegar um copo d'água, mas logo concluo que um café seria muito mais preciso, visto que essa história poderia levar mais tempo do que o esperado. Ligo a cafeteira e espero, percebendo uma nova notificação de mensagem em meu celular.


+55 327 017: Humm

Alison: E aí?

+55 327 017: Você ficaria comigo um pouco mais?

Pelo menos até eu terminar de olhar

Alison: Eu estava planejando fazer isso, de

qualquer maneira

+55 327 017: Obrigado

E desculpe pelo transtorno

Alison: Sem problemas


Ouço o bipe da cafeteira indicando que meu café estava pronto e, então, pego a caneca e caminho até o sofá da sala, onde me acomodo e decido começar a me inteirar do que parecia ser o meu novo caso de desaparecimento.

Faço algumas perguntas para meu novo amigo sem nome, tentando extrair informações sobre o local, seu relacionamento com Adam e se aquele era um comportamento habitual dele. Curiosamente, o estranho também me pergunta algo: se eu era de Redlog Pines. É óbvio que ele acharia isso, afinal, no começo achou que eu havia buscado Adam pessoalmente. Pensando melhor, pela ligação que recebi há pouco, acho que Adam esperava o mesmo de mim.

Quando respondi que nem sabia que aquele lugar existia até o momento que ele me contou, foi que percebeu que eu não tinha ideia do que era Greenside. Meu novo amigo, então, me explicou que esse era o nome de uma montanha ao redor da cidade, onde vários turistas se aventuravam na trilha para chegar ao mirante e desfrutar de uma vista incrível durante o dia, mas que, durante a noite, não era um lugar muito confiável e seguro para se estar.

Entre conversas, deixo toda a minha curiosidade fluir e pergunto que horas eram onde ele estava, enquanto faço algumas anotações em um bloco de notas do meu celular. Ao me responder que era meia-noite e sete, percebo que estamos no mesmo fuso horário. Redlog Pines não deve ser tão longe de East Springs, mas não conto isso ao estranho, apenas faço outra anotação.

Continuo uma conversa descontraída para aliviar a tensão em meu novo amigo que caminha solitariamente pelo estacionamento escuro. No entanto, segundos após eu digitar a última mensagem ao estranho, surge uma solicitação de bate-papo do número de Adam. Outra vez, parece que ele me contatou primeiro, ao invés de seu amigo. Me apresso em tentar tirar alguma explicação dele.


Solicitação de bate-papo +55 431 893

Alison: Adam?


Espero alguns segundos e nenhuma resposta me é dada apesar de Adam aparecer online.


Alison: Estamos procurando por você 😕

Você precisa de ajuda?


Nesse exato momento, outra ligação do número de Adam aparece na tela do meu celular e eu imediatamente atendo. Vejo um rosto que, apesar de não reconhecer, me parece familiar e, pelo jeito que ele fica aliviado em me ver, também devo ser familiar para ele.

Ei! Consegui. Finalmente. – Adam dá um meio sorriso, mas seu semblante volta a ficar preocupado como antes. — Eu sinto muito.

— Do que você está falando, Adam? Estamos procurando você. Um amigo seu...

Ele me interrompe, parecendo apressado, sem tempo, como se precisasse muito me dizer algo com uma urgência que não havia um segundo a perder.

Não esperava que chegasse a esse ponto. Não vou conseguir ir até Greenside. Eu... – Adam olha para trás, como se procurasse alguém naquela escuridão imensa da floresta em que ele parecia estar, por causa dos sons de seus passos nas folhas caídas ao chão. — Eu o vi. Era o...

— Adam, eu não te ouço bem. A conexão está falhando. Quem era? O que você viu?

Não sei se ele também não conseguia me ouvir, mas ele não responde à minha pergunta e apenas continua a falar, mesmo com a ligação falhando.

Na florest... Sombra das árvores... escuridão. – Seus olhos passeiam ao seu redor, cada vez aparentando estar mais assustado. — Eu sei... Eu sei que é completamente impossível. – Há lágrimas em seus olhos e elas transbordam, fazendo um nó se instalar em minha garganta. — Mas ele estava lá.

Eu podia sentir o medo em seu olhar, mas também o quanto ele se sentia seguro comigo e o quanto confiava em mim. Mas por quê? O que eu significava para ele? Eu não consigo me lembrar dele...

— Quem estava lá, Adam?

Agora só resta uma coisa a fazer. Não tenho outra escolha. Mas isso também significa que não poderei mais ajudar você.

— Me ajudar? Eu não entendo...

Você vai ter que fazer isso sozinha. Mesmo que seja difícil. Mesmo que pareça impossível. É com você agora.

— Adam, por favor, me explique o que você quer dizer com isso. Por que isso parece uma despedida?

Estou contando com você.

— Adam! Adam? Droga!

A ligação se encerra e só então eu percebo que tinha me levantado do sofá, como se meu corpo estivesse se preparando para sair correndo a caminho de Redlog Pines. Acho que essa reação foi um reflexo das lembranças de quando eu escolhi não embarcar no primeiro voo para Duskwood, aquelas mesmas lembranças que, por mais doloridas que fossem, eu relutava em abandonar. Eu volto a me sentar, tentando manter a calma. Eu estaria cometendo o mesmo erro de antes?

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