Para sempre

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Há pelo menos 1 hora, eu estava recobrando a consciência, de bruços no chão da floresta, sendo algemada pelo Delegado Bloomgate. Enquanto ele me erguia do chão e me carregava forçadamente pela trilha em que eles vieram, eu vi, ao longe, em uma área mais aberta, um helicóptero de resgate, daqueles com vários paramédicos e equipamentos para manter alguém vivo até o hospital, levantando voo e passando acima de nossas cabeças. Acho que nesse instante eu me virei para o Alan e perguntei sobre o Jake. Não me lembro. Também não lembro se ele me respondeu. O que eu posso dizer, ainda sem muita certeza, porque só me recordo de flashes desses momentos, é que me colocaram em uma viatura e me trouxeram para a delegacia de Duskwood onde, agora, estou sentada em uma cela velha e empoeirada há mais tempo do que eu consigo lembrar.

Desvio os olhos da pintura descascada na parede e fito minhas mãos, e o sangue já seco nelas indica que tudo foi verdade, apesar de parecer não passar de um sonho obscuro e cada vez mais distante em minha mente atordoada.

Sempre achei que se um dia eu me encontrasse em uma situação como essa, estaria sacudindo as grades enferrujadas da cela e esbravejando para ser ouvida pelos corredores da delegacia sobre como tudo isso é injusto. Mas meu corpo está estranhamente calmo agora. Meu coração bate tranquilamente. Minha respiração está serena. Meus pés nem estão batendo ao chão como é de costume. Me sinto entorpecida. Talvez seja o choque, como algumas pessoas diriam.

Após horas, o silêncio desse lugar começa a me incomodar. Desde que entramos naquela viatura e viemos para Duskwood, Alan não dissera uma palavra. E, embora tenha me emprestado a sua jaqueta da polícia para que eu não congelasse, me deixou trancada aqui sem qualquer notícia por um tempo infindável. Imagino que, com todas as descobertas que devem estar fazendo naquele lugar sombrio, haja muito trabalho a ser feito. Mas eu acho que merecia ao menos uma chance de me explicar.

Exausta de dar voltas e voltas na minha própria mente e de esperar pelo meu interrogatório, me deito naquela cama desconfortável com lençóis que cheiram a naftalina, me cubro com a jaqueta e adormeço.

Não sei dizer quanto tempo dormi, mas o tilintar das chaves e o som da tranca da cela se abrindo me despertam. Me viro, sentando-me na cama e vejo Alan adentrar. Ele para em minha frente, com uma troca de roupas empilhada em uma das mãos e, na outra, um copo de café e as chaves que usara para abrir a grade.

Sua expressão é séria e cansada. Seus olhos evitam os meus a todo custo e eu não consigo decifrar o que está passando dentro de sua cabeça, mas temo que seja raiva. Ele teria ótimas razões para senti-la. Uma delas é que entreguei seu fiel amigo aos braços da morte.

Alan deixa as roupas limpas e perfeitamente dobradas sobre a cama, ao meu lado, estende o braço e me entrega o copo de café, ainda sem olhar para mim, e se afasta de volta para fora da cela.

— Limpe-se e se vista. – Ele guarda as chaves no bolso. — Quando estiver pronta, me encontre na sala de interrogatório. Temos algumas coisas para conversar.

Vejo-o ir embora, sumindo pelo corredor em direção ao resto da delegacia e continuo imóvel, com o copo de café aquecendo minhas mãos, olhando a grade aberta em minha frente. Eu não sei o que esperar. Esse não era o tratamento habitual que uma suspeita de assassinato teria, imagino. Onde Alan queria chegar com tudo isso? Ele prometeu que não confiaria mais em mim e, logo após me ver afundar o crânio de um homem com as próprias mãos, me oferece roupas limpas e deixa a minha cela aberta? Qual é o seu jogo, delegado?

Desconfiada, bebo um gole do café e me levanto. Retiro o vestido que antes era branco e o deixo sobre a cama com a jaqueta que Alan me emprestara. Caminho até uma pequena pia ao canto da cela, abro a torneira e tento me lavar o máximo que posso, embora o sangue seco seja difícil de sair. Enrolo um pedaço de papel higiênico na mão, umedeço-o na água da torneira e esfrego pelo meu rosto e pescoço, tentando me livrar do que ainda restava daquele monstro em mim.

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