O monstro se foi

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A escuridão completa toma conta do lugar e um som muito agudo surge dos alto-falantes acoplados aos quatro cantos daquele salão, fazendo todos ficarem desnorteados. Isso também me faz sair do transe e retomar o controle de mim mesma, mas agora o problema é não enxergar nada ao meu redor.

Em seguida, o ruído para, mas o alívio dura poucos segundos. Agora, um alarme grave parece soar, não só pelo salão em que estamos, mas em toda a instalação do bunker. As luzes piscam, acendendo e apagando com tempos espaçados, como naqueles filmes de ficção científica, quando alguma experiência no laboratório dá muito errado.

Alcanço os ombros de Jessy, que está de joelhos ao meu lado, completamente assustada e tento me levantar, mas percebo que uma vertigem impacta a minha capacidade de andar. Há algo no ar que sai dos dutos de ventilação que está deixando a todos sonolentos e confusos.

Vejo algumas pessoas se arrastarem para tentar chegar até a grande porta que está bem a nossa frente, mas elas também não conseguem ficar em pé.

Esse parece o fim. Mas eu não aceito que seja assim. Pelo menos, não para a minha melhor amiga. Não vou deixá-la terminar a vida aqui, embaixo da terra em um bunker velho e mofado, intoxicada pelo que quer que seja que estamos respirando. Eu luto contra a minha falta de equilíbrio e a tontura da minha cabeça, ficando em pé.

— Vamos, Jessy. – Pego seus braços, tentando levantá-la. — Precisamos sair daqui.

— Acho que vou desmaiar. Minhas pernas. Eu não as sinto.

— A porta é logo ali. Nós vamos conseguir.

Apoio-a com muito custo, porque também sinto minhas pernas fraquejarem, e damos alguns passos em direção à saída. No entanto, tudo está girando em minha mente e eu tropeço em uma das pessoas que está desacordada no chão. Nós caímos.

— Alison, vá. – Jessy diz com dificuldade. — Busque ajuda. Eu vou esperar... Bem aqui... – Ela se deita ao chão e sua voz fica cada vez mais pausada.

— Jessy, fique acordada. – Dou alguns tapinhas em seu rosto. — Não durma.

Meu pedido é, também, para mim mesma, que já sinto dificuldade em raciocinar o que devo fazer. Eu a puxo, mas ela não se mexe. E, estou ficando exausta demais para me mover, então, me arrasto para a porta. Se houvesse alguma chance de eu conseguir ajuda fora dali, eu faria isso. Por ela.

Não sei quanto me movi até minhas forças se esvaírem, mas estou prestes a desistir quando sinto mãos firmes me segurarem pelos ombros, me virando de barriga para cima e apoiando minha cabeça.

— Coloque isso. – Manda a voz grave e abafada.

Ainda atordoada, tento abrir meus olhos, mas só vejo a silhueta de alguém, vestindo uma máscara de gás em meu rosto. Sem pensar em mais nada, eu imediatamente começo a puxar profundamente o ar para os meus pulmões, enquanto noto o homem depositar minha cabeça delicadamente em algo macio, se levantar e caminhar até uma outra pessoa no chão.

Depois de respirar várias vezes ar limpo e sentir minhas funções cognitivas voltando aos poucos, apoio-me sobre os braços, elevando meu tronco e procuro em volta o meu anjo da guarda. O vejo agachado ao lado de Jessy, que estava desacordada, a colocar outra máscara de gás em seu rosto, como fez comigo. Depois, ele caminha novamente até mim.

— Você está machucada?

Ele se abaixa mirando uma pequena lanterna em meu rosto e, em seguida, ao resto do corpo, parecendo preocupado. Eu balanço a cabeça em sinal negativo. A única coisa ferida ali era a minha mente quebrada. Mas isso eu não sabia como explicar.

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