Um sinal no meio da floresta

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Conto rapidamente ao Eric sobre as informações que acabei de descobrir sobre essa carta que parece de um baralho de tarô sombrio. Obviamente, ele fica ainda mais perdido do que eu, acerca do que isso poderia significar, e me garante que aquela não era a área de especialização do Adam. Mas, ainda assim, aquela carta estava em sua posse e provavelmente ele pretendia me entregá-la na Greenside. Largo a mochila sobre o sofá e me sento tentando organizar as inúmeras perguntas que enevoavam a minha cabeça. "Adam, por que tantos segredos? O que você estava fazendo?"

Enquanto vasculho minha memória em busca de algum Adam Dover ou alguém que se parecesse minimamente com aquele homem que me ligou assustado no meio da floresta, Eric manda outra mensagem dizendo que encontrou outra coisa surpreendente no carro. Ele me manda uma foto de algo que parece um rádio comunicador ou um walkie-talkie, mas logo ele me informa que não há qualquer botão nele para alterar a frequência.

"Vega" é a marca bem no topo daquele dispositivo. Eu me apresso em pesquisá-lo na internet e logo descubro que é um tipo de dispositivo rastreador multifuncional via GPS, que recebe um certo sinal e direciona o portador para onde o sinal está, emitindo um som agudo, parecido com um bipe.

De repente, uma notificação do meu aplicativo espião me tira a atenção. Vejo uma conversa de Eric e uma garota chamada Ash se iniciar e me lembro perfeitamente que horas antes de conhecer Eric, estava em um trabalho de localização de uma pessoa que estava utilizando um celular roubado. Para esse tipo de trabalho eu ativava esse aplicativo e sempre que eu enviava uma foto, um vídeo ou link para uma conversa e a pessoa abria, de forma automática, sua localização era enviada para esse aplicativo. Mas não era só isso que ele fazia, também tinha a capacidade de clonar conversas do celular da "vítima" do meu "phishing". Não era a minha intenção espionar Eric, eu apenas esqueci o aplicativo ativado, mas já que estávamos aqui, qual o problema de dar uma espiadinha? Minha lista de invasão de privacidade já era longa o suficiente para que mais uma não fizesse qualquer diferença.


Ash: Eric?

Bom, você está online!

Eric: Ash, não tenho tempo agora

Ash: bem, então arrume um tempo, é importante! 😠

Me escute

A Sra. Hunt acabou de me ligar

Aparentemente há um carro da polícia na frente da casa do Adam

Bem na entrada

Eric?

Você leu o que eu disse?

A polícia está na casa do Adam!

E ele não está atendendo o telefone

Acho que algo ruim pode ter acontecido com ele 😕

Eric: Ash, por favor, espere um minuto

Ash: O quê?

O que você quer dizer com "espere um minuto"?!

Eric: Te mando uma mensagem em breve

Ash: Eric

Você sabe o que está acontecendo?!


Dou um pequeno pulo quando recebo uma mensagem do Eric. Quase como uma sensação de ter sido pega espionando.


Eric: Alison?

Nós temos um problema


Claramente, eu finjo que não estava "escutando atrás da porta" e deixo ele me contar os detalhes da conversa e explicar quem era a Ash. Mas esse não era o ponto problemático de que Eric estava falando, mas sim que Ash já estava percebendo que algo estava acontecendo e que ele sabia o que era. Eu, com certeza, preferiria que tudo isso ficasse só entre mim e o Eric, muita gente envolvida costumava atrapalhar. No entanto, já era tarde demais para guardar segredo. Após eu concordar, já aparece um novo grupo no meu chat.

Ash parece uma garota impetuosa e já vai direto ao assunto pedindo para que alguém a explicasse o que estava acontecendo. Então, eu tomo a frente e começo a falar o que descobrimos até o momento. Em certa altura da conversa, Ash decide envolver outros amigos com quem ela já havia entrado em contato enquanto o Eric não a respondia. Outra vez, tarde demais para negar.

Enquanto Eric liga para seus amigos para inteirá-los do assunto antes de colocá-los no grupo, eu volto ao meu plano original. Volto a pegar a mochila e puxo a mala até a porta onde alcanço a chave do carro pendurada no porta-chaves. Saio para a garagem e guardo a mala no porta-malas, mas deixo a mochila no banco do passageiro. Volto até a casa, desligo as luzes, tranco a porta e deixo uma mensagem para David, meu ajudante do escritório de investigação e o mais próximo que eu tenho de um amigo, avisando-o da minha viagem repentina. Assim que adentro o carro e coloco o celular no suporte do painel, vejo Violet e Charlie entrarem no grupo do chat. Também não os conheço, mas não demoro muito com as apresentações. Coloco no GPS o destino para Redlog Pines, ativo a digitação por voz, ligo o carro e sigo a rota indicada para meu novo caso.

Em certo momento da conversa, Charlie menospreza a seriedade do desaparecimento de Adam como se aquela situação fosse algo corriqueiro. Começo a pensar que Adam era conhecido por dar sumiços em seus amigos. Pergunto o que ele queria dizer com aquilo, mas Eric interrompe a conversa e começa a explicar mais detalhes sobre o Vega que encontramos no porta-malas do carro do Adam. Logo a discussão passa a ser sobre ele seguir o sinal do Vega pela floresta em busca de Adam, ou do que ele seguia, ou entregá-lo a polícia, que ainda não havia aparecido no local do chamado de Eric.

Ao saber que tínhamos chamado a polícia anteriormente, Charlie já se coloca completamente contra e diz que eles não ajudarão em nada. Pela curta explicação de Charlie, parece que o policial responsável por atender os chamados é um tal de Timothy Bucket e ele é um bêbado. Anoto o seu nome para pesquisar depois. Apesar do relato nada promissor que Charlie faz sobre a polícia local, Eric insiste que já tomou sua decisão. É, então, que uma fala de Charlie me deixa em alerta. Ele reclama o Vega para si. Estranho. Até poucos segundos atrás parecia não levar a sério o desaparecimento de seu amigo, mas agora queria ele mesmo portar a única pista que tínhamos para seguir? Faço outra anotação no bloco de notas através da Siri e intervenho na conversa.


Alison: Não faça isso, Eric

Eric: Nada disso importa de qualquer maneira

Tem um carro vindo

Violet: Que alívio 🙂

Eric: Enviarei uma mensagem quando a conversa aqui terminar

Charlie: E o que vamos fazer enquanto isso?

Ash: Faremos o que você faz de pior

Ficar quieto

Alison: Acho que ela está brava com você

Charlie: Ela nunca deixa de ficar brava comigo

😩


O silêncio deles no grupo me faz voltar para dentro da minha cabeça onde, apesar de eu estar bastante preocupada com o que encontraria ao chegar em Redlog Pines, no fundo, sentia toda aquela curiosidade me deixar completamente animada. Eu queria muito encontrar Adam e salvá-lo do quer que fosse, mas também queria respostas para todas as minhas perguntas e algo me dizia que, a cada minuto, eu estava quilômetros mais perto de obtê-las.

Algum tempo depois, Eric retorna dizendo que não entregou o Vega ao policial Bucket porque havia sido exatamente como o Charlie disse que seria. O policial apenas pegou o depoimento de Eric e saiu sem ao menos dar uma olhada no local ou no carro. Com certeza, aquela foi a decisão correta, ou pelo menos, a menos imbecil. Em seguida, Eric diz que vai adentrar a floresta e seguir o sinal que o Vega está rastreando. Uma nova discussão surge, afinal Charlie queria ir com Eric e Ash não queria que nenhum dos dois fizesse isso. Entretanto, não acho que há outra escolha. Ou seguimos o sinal, ou esperamos que um milagre aconteça. Eu não acredito que milagres aconteçam assim tão facilmente e, além disso, não acho que Adam tenha tempo a perder esperando por um. Temos que encontrá-lo. 

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