Adentrando a escuridão

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Eu não sabia o que Charlie queria dizer com aquelas palavras. Agora eu era a celebridade local? Pela sua piadinha e pela expressão no rosto de Eric, estou começando a achar que não sou uma pessoa muito bem-vinda na região. Depois do que Ash disse, estava claro que o Eric sabia mais do que aparentava e eu não deixaria isso passar.

— Você conhece o delegado Bloomgate?

— Acho que nós dois temos muitas perguntas a fazer. Mas poderíamos deixar essas questões para depois que acharmos o Adam? A cerca está ali. – Eric aponta com sua lanterna e a luz reflete os pedaços metálicos que ainda não estão completamente cobertos pela poeira, o musgo e as plantas.

— Achou alguma entrada? – Eu caminho em direção a enorme cerca de metal e me sinto um pequeno inseto olhando para ela de baixo. — Não dá para escalar algo desse tamanho.

— Tem uma parte arrebentada logo ali. – Eric volta a apontar a lanterna. — Essa passagem parece ter sido feita recentemente.

— Ah, pessoal. – Charlie interrompe. — Eu sinto muito, mas acho que vou ficar bem aqui. – Ele bate a mão sobre o tronco que está sentado e seu olhar não demonstra mais a mesma animação de antes.

Ash se vira com seu ar entediado e constantemente irritado para o amigo ao seu lado.

— Não me diga que o todo-poderoso Charlie está com medo?

— Não, é claro que não. – A entonação da sua voz entrega seu anseio por provar seu ponto. — Eu só estou meio cansado hoje. Uma coisa estranha, sabe? Acho que peguei um resfriado. – Charlie se autoanalisa para ver se está com febre. — E também acho que é mais seguro se um de nós ficar para caso vocês se desencontrem e o Adam aparecer.

— Tudo bem, posso fazer isso sozinho. – Eric toma a frente.

— Não. Eu vou com você. – Seguro em seu braço, obrigando-o a olhar para mim. — Eu vim até aqui para achar o Adam. Vou fazer isso. E você pode me responder algumas perguntas no caminho.

Passando a mão pela sua barba, Eric desvia o olhar para cima, suspira parecendo pensativo, e depois volta os olhos para mim.

— Eu não vou te convencer do contrário, não é?

— Você não tem onde me trancafiar. Então, não. – Sorrio debochadamente.

Instantaneamente à minha resposta, Eric balança a cabeça com um pequeno sorriso ao canto da boca e abre passagem pelo canto da cerca de arame que estava quebrada.

— E quanto a mim? – Ash se aproxima, pisando firme ao chão.

— Fique, Ash. – Eric apoia a mão sobre o ombro dela, tentando deixá-la mais calma. — Charlie tem razão. Se nos desencontrarmos de Adam, ele vai precisar de alguém do lado de cá.

Começo a perceber que Eric era bom com as palavras e também lia bem as pessoas. O que ele acabara de dizer fez a pose de Ash mudar em segundos e, em seu rosto, agora não enxergávamos mais a raiva, mas sim a sua preocupação com Adam. Em seguida, Eric passa pela abertura e me segue pela floresta proibida.

— Então, você é Eric Biggs? – Quebro o silêncio assim que saímos de perto da cerca.

— E você, Alison Carter. – Seus olhos continuam focados na floresta em sua frente. — Que mundo pequeno esse. – Seu tom de voz parece irônico, mas eu não consigo decifrar seu rosto sério. — Por que Adam está envolvido com você?

Agora sim. Essa última pergunta e o olhar acusatório que ele lança em minha direção, por curtos segundos antes de voltar a atenção novamente para o caminho, entregam que sua confiança está abalada.

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