Laços e respostas

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Ainda aprisionada dentro das minhas lembranças obscuras, enterradas a sete palmos do meu inconsciente, agora posso ver com clareza o que meu cérebro tanto tentou esconder de mim. Eu não era apenas a criança amaldiçoada por um ser mitológico e rancoroso, era também uma assassina concebida, educada e treinada para suceder o trono de uma seita que escondia segredos sórdidos naquela floresta.

De repente, aquele sonho não parece mais uma lembrança. Adam me afasta de seus braços e me encara com o olhar sério.

— Allie, acorde!

Sua voz era dupla, o tom fino de garotinho misturado com o tom grave de adulto e um estalo de dedos vem a seguir.

Eu acordo em um pulo e me levanto sentando na cama onde fui deitada enquanto estava naquele estado de transe. Adam está sentado em uma cadeira ao meu lado, me observando bem de perto. Ele sorri com os lábios, mas eu sinto seus olhos me avaliarem de forma sombria. Estendendo a mão em minha direção, ele tenta alcançar o meu rosto, mas eu seguro seu pulso e me esquivo de seu toque.

Sei que essa não era a melhor reação a se ter quando se sabe que foi sequestrada por alguém que está acostumado a usar violência desde que nasceu, mas eu estava assustada e minha cabeça ainda estava enevoada das lembranças recém descobertas. Era muita coisa para assimilar e muitas decisões a tomar dali para frente. A sensação era de que eu teria um colapso a qualquer momento.

— Acalme-se. – Adam retira minha mão de seu pulso com gentileza.

Fico esperando minha mente ser tomada pela hipnose, através do gatilho que foi propositalmente colocado, mas ele não diz meu apelido.

— Não precisa ter medo de mim. Eu não vou machucar você. – Ele ainda continua segurando a minha mão entre as suas.

É claro, ele está tentando me tirar da defensiva e demonstrar um pouco de confiança. Que irônico, é o mesmo truque que eu vou usar para saber onde o nosso pai, ou melhor, o deus cervo, que transformou a minha vida nesse filme de terror, está. Eu respiro fundo e me obrigo a ficar calma. Preciso pensar com clareza, ou essa disputa de quem engana melhor não será fácil.

— Eu sei. – Abaixo os olhos para parecer constrangida. — Me desculpe, você me assustou.

Adam volta a sorrir, parecendo acreditar em mim.

Olho em volta e percebo que estou em uma espécie de quarto que parece uma cela, sem janelas, apenas uma porta de madeira maciça com uma grande trava de metal. No momento, ela está aberta. Por um segundo, penso em golpear Adam e sair correndo, mas logo penso o quanto isso seria idiota ao lembrar que ele poderia me fazer parar apenas com uma droga de palavra.

— É bom tê-la de volta entre nós. – Adam se levanta, andando em direção ao outro lado do quarto, onde havia um pequeno armário. — Logo você entenderá tudo.

— Já que estamos aqui, por que não me explica? – Minha fala o faz parar imediatamente, sem se virar para mim. — Você me ligou, queria que eu investigasse alguma coisa. Parecia mesmo que você precisava da minha ajuda. Seus amigos se mobilizaram para tentar encontrar você. Estávamos todos preocupados. Tudo isso foi uma mentira? Só para me trazer aqui?

— Sim. – Adam finalmente se vira e seus olhos intensos me encaram novamente.

Sua sinceridade me confunde e eu não consigo disfarçar a decepção em meu rosto. Obviamente, ele percebe que pode estar perdendo a minha confiança e se aproxima da cama onde estou sentada, sentando-se à beirada e segurando meu rosto em suas mãos.

— Tudo isso foi por você, Alison. Você não sabe como foi difícil te encontrar. Todos esses anos tentando descobrir onde sua mãe havia te escondido. – Adam parece ansiar por me contar o que houve desde o início. — A desgraçada, mesmo depois de tantas torturas, não contou nada sobre você.

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