Perdas!

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Jhon deixou que seu adversário lhe desse o primeiro golpe, ele precisava da dor para ativar a adrenalina que já queimava por suas veias. Sentia-se vivo quando subia no ringue, ali ele conseguia expurgar todos os seus demônios e as tentações que povoaram sua mente.

O homem deu-lhe um jab com o punho direito no rosto de Cameron, fazendo sua cabeça balançar com o impacto e seu corpo pesado mover-se dois passos. Jhon cuspiu o sangue e sorriu sádico para seu adversário, então investiu contra ele e com apenas quatro golpes o nocauteou, o homem caiu inconsciente no chão e Jhon riu com os dentes vermelhos de sangue ao ver que a plateia se calou por um momento e depois voltou a gritar a plenos pulmões.

Mais quatro adversários desafiaram Cameron, e tiveram o mesmo fim do primeiro. Jhon era bom no boxer, tinha ganhado muito dinheiro lutando em ringues clandestinos, por isso, mesmo a mais de vinte e quatro horas em jejum, ele ainda mantinha-se de pé. O suor já escorria pelo rosto do padre, mas o cheiro de sangue o mantinha ativo, ele ainda aguentava mais alguns rounds.

- Não brinca Connor! - jhon rosnou sorrindo para o amigo, quando o viu entrar no ringue, trajado com os acessórios para a luta.

- Eu também quero brincar! - Connor rosnou de volta e riu.

- Você está machucado, tem certeza? Eu não vou pegar leve! - Cameron olhava vidrado para Connor, sabia que iria machucá-lo, mas o amigo era orgulhoso demais para desistir do confronto.

- Eu vou ganhar dessa vez, você está cansado, parece até que vai desmaiar de fome! - Connor riu desdenhando com a mão.

- Não vai acontecer! Você nunca vai ganhar de mim. - Jhon alfinetou, todas as lutas que eles tiveram, Jhon sempre ganhava.

- Veremos! - Connor sorriu convicto.

- Veremos! - Jhon sorriu sádico.

O locutor apresentou os dois e anunciou o início da luta. Os dois se armaram em suas posições e jhon esperou o primeiro golpe. Connor deu-lhe um ganho de direita que zumbiu o ouvido de Jhon, o fazendo balançar a cabeça e cuspir sangue no chão, o padre percebeu o movimento do outro e rapidamente colocou os punhos na frente do rosto sentindo os golpes do amigo, o empurrando para trás até encostar nas cordas. Jhon riu e livrou-se dos golpes de Connor, afastando-se.

Sentiu seu corpo pesar fraco, mas não daria esse gostinho ao outro, precisava acabar com aquilo logo antes que desmaiasse, por isso foi para cima de Connor e deu um cruzado com a esquerda nas constelas e depois um gancho de direita fazendo-o tombar para trás e cair num baque pesado! Connor fez uma careta ao sentir as costas machucadas baterem contra o chão, mas sorriu satisfeito com a luta. Cameron se jogou ao lado dele, não se importando com o grito da plateia pedindo um vencedor e sorriu também satisfeito com a luta.

- Empate? - Jhon gritou para Connor.

- Empate! - Connor riu.

Padre Poll mandou que seus corpos fossem rebocados do ringue, e foram precisos quatro homens para tirá-los dali. Jhon e Connor eram grandes, mediam 1.90 e pesavam quase 100kg, por isso os homens tinham dificuldades em carregar os dois dali.

Os homens levaram-nos para o vestiário e os colocaram sentados no banco de madeira encostado na parede e saíram depois de elogiar Jhon pela força que tinha, padre Cameron sorriu confiante e fez uma careta ao sentir a dor em sua bochecha. Connor estava pior que ele, mas sorria satisfeito.

- Vamos, vou te pagar uma bebida! - Jhon falou para o amigo, depois de vestirem suas roupas e saírem para fora do local.

Connor dirigiu o carro de volta para a cidade e parou em frente a um dos restaurantes mais caros de Helsinki. Jhon riu e desceu do carro, sabia que ele faria aquilo, os padres não recebiam um salário muito bom, pois a vocação era por amor, não dinheiro, mas Connor sabia do passado de Jhon e o quanto era rico, por isso aproveitava-se do amigo, para comer bem todas as vezes que ele vinha.

O garçom os levou até uma mesa para dois e entregou-lhes o cardápio. Jhon pediu uma garrafa de vinho para os dois e eles fizeram seus pedidos.

Mas connor recusou o vinho e pediu ao garçom uma caneca grande de Chopp, o garçom fez uma careta ao observar a bata do padre, mas anotou rapidamente e saiu do mesmo modo, indo buscar o pedido.

O garçom voltou com as bebidas e fez outra careta ao ver o padre beber a caneca de uma vez como se fosse água. Connor riu do jeito do homem e pediu outra.

Os pratos começaram a chegar e Jhon duvidou que o amigo conseguiria comer tudo aquilo, mas devido a fome que sentia, ele tinha certeza que dariam conta. Algumas horas depois entre garfadas e conversas aleatórias, os dois saíram do restaurante, Jhon tinha deixado alguns milhares de dolares ali, mas aquilo não fazia diferença em sua fortuna, para ele, aquilo eram apenas trocados!

- Obrigado amigo, posso passar fome por mais alguns meses até você voltar! - Connor brincou ao se deitar em sua cama.

- Se o padre Poll ouvir isso vai rasgar sua boca fora! - Jhon riu.

- Não duvido disso, aquele velho ainda tem força, dias atrás ele deu uma surra em um ladrão, não sei como ele ainda consegue! - os dois riram.

- Estou pensando em pedir a ele que me transfira de volta para cá! - Jhon comentou fazendo Connor o olhar curioso!

- A garota ainda te incomoda? - Connor perguntou e teve sua resposta ao ver o padre Cameron tensionar o corpo - É por isso que eu corro para longe de mulheres! - Connor riu.

- Estou tentado a subjuga-la! Mas ela é muito nova. - Jhon se recostou na cabeceira da outra cama e olhou para o teto!

- Quantos anos ela tem? - Connor questionou.

- Vinte! - Jhon suspirou.

- Se é o que ela quer! - Connor apontou. - você sabe que podemos casar nao é?

- Não vou me casar novamente Connor! - Jhon olhou com raiva para o amigo.

- Não pode sofrer para o resto da vida Cameron! - Connor respondeu no mesmo tom.

- E porque você não casa também Connor? - Jhon questionou fitando o amigo com raiva, mas se arrependeu quando o viu entristecer o olhar e suspirar olhando para o teto. - me desculpe! - Jhon suspirou.

Connor não respondeu, mas Jhon sabia que ele não estava magoado, apenas triste com sua situação. A perda doía para os dois, eles haviam passado pelo mesmo tipo de trauma, talvez por isso, fosse amigos e se entendessem tão bem!

Na tarde seguinte, Jhon se despediu do amigo e voltou para a casa, ele havia ligado para uma empresa de limpeza e pedido que limpassem o local. Quando chegou, a grama estava aparada e limpa, a casa estava cheirosa e limpa também, fazendo o coração de Jhon doer ao lembrar delas ali o esperando para o jantar!

Subiu as escadas e pegou algumas roupas que precisaria em Vemuk e as colocou em uma mala grande. As poucas lojas ali não tinham roupas para o tamanho de Jhon, por isso, geralmente ele precisava vir a Helsinki para comprá-las.

Não levaria seus automóveis para a ilha, pois ali era tão pequeno que em meia hora dava pra andar pelo centro todo. As casas em Vemuk geralmente eram longe uma das outras e no centro da cidade ficavam algumas lojas de varejo, lojas de artigos de construção e pesca. Um posto de gasolina, um grande supermercado, cujo dono era o Phillip, um pronto de atendimento, uma escola, uma pequena delegacia, com apenas quatro policiais e restaurante pequeno. A igreja de Cameron ficava no fim da cidade e os fundos dela davam para a mata fechada.

Jhon deitou na cama, agora com lençóis limpos, e fitou o teto deixando as lágrimas descerem por seu rosto, dormiria ali aqueles dias e partiria para Vemuk na sexta-feira.

Jhon suspirou cansado ao sair do barco e começou a caminhar pelas ruas vazias de Vemuk. Estava passando por tentações ali naquela cidade, mas Helsinki era pior, a dor de entrar naquela casa, doía mais que o chicote rasgando sua pele, por isso, aquela noite tinha decidido que não iria sucumbir aquela garota, continuaria firme em sua vocação!

Susurrou uma prece baixinho enquanto entrava pela porta da paróquia, observou o altar sentindo o peito esquentar por voltar para casa e passou pela porta lateral, entrando pelo corredor que levava ao seu quarto, mas travou na porta ao ver a cena ali, em cima da sua cama.

- O que pensa que está fazendo? - rosnou com toda sua furia.

...

Padre Cameron - Renda-se ao Pecado...Onde histórias criam vida. Descubra agora