Retrocessos

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Na eminência de se fazer 44 anos, percebo que, o que fiz até o presente momento de nada valeu.

Nada sou, nada tenho e nada terei.

Luto e luto mas, parece que é em vão.

Um cigano me disse que eu iria morrer com 15 anos de idade e veja só, eu tinha treze, será que eu morri, nem estou dizendo fisicamente, mas prá própria vida?

Pois olhando para trás vejo esforços, vejo ação de minha parte, até consigo ver algum progresso, no entanto, pouco tempo depois vejo as coisas se desfazendo em um piscar de olhos.

Será que estou programado para dar game over, solitário num canto qualquer?

A minha filha já não fala mais comigo, para ela já virei cinzas.

O meu filho pouco se importa comigo.

O que eu deveria esperar de outras pessoas?

Provavelmente, não muita coisa...coisa boa?

O mau, o desprezo, são algumas coisas que espero com certeza.

Talvez deveria sumir, mas sumir para onde?

Se eu sou o portador do problema, e logo percebo que não vai adiantar sumir e nem vou conseguir, de forma alguma.

Minha mãe já falecida, meu pai nem cheguei a conhecer.

Meus irmãos já não nos falamos mais o tanto quanto deveríamos, apesar de serem vivos, com pouco carinho um com o outro.

Provavelmente, por tanta falta de aproximação, estou agindo da mesma forma.

Mas, isso não justifica, preciso ainda juntar forças e me reerguer, mas será que ainda dá tempo? Ou será que ainda continuarei com esforço em vão?

Conforme o tempo passa as coisas vão perdendo a graça.

Tento disfarçar, sorrindo...dormindo...escrevendo...estilhaçado na raça.

O trabalho que ainda me resta, a saúde que ainda tenho e os colegas que encontro pela praça.

A saudade de meus irmãos unidos, minha mãe com seus afazeres, meus filhos me abraçando, sem rancores, sem picuinhas e sem interesse algum.

Mas, com tudo isso devo eu, levantar a cabeça e seguir adiante, pois o que me resta?

Me resta viver, quanto tempo ainda?

Talvez não muito. Mas o que é muito?

Sem perspetiva estou, mas não sem esperança.

Quero viver ainda o que me resta, se são muitos ou se são poucos.

Aonde poderia eu viver o que me resta?

Não sei e nem importa, desde que eu viva, se feliz ou não, o que vier é lucro para mim.

Pois parece que não mereço nem um pouco do que a vida muitas vezes me oferece, talvez os céus me devolvem algo que eu possa ter feito, em um passado, do qual eu mesmo não conseguiria me recordar.

Ou mal ou o bem que hoje recebemos, são frutos de uma semente que plantamos num passado remoto.

Eapero eu ter plantado algumas sementes do bem no meu passado, pois sementes do mal, com certeza eu plantei, inevitavelmente.

Muitas vezes plantamos algumas sementes achando que é do bem e no fundo só achamos que é do bem.

Outras vezes, a semente é realmente do bem, no entanto, plantamos em lugar errado.

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