Intervalo | Lembrar é ficar

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Por Connie Ember


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Dou um nó no roupão branco e enrolo o cabelo em um coque molhado, não ligando para a forma que ele vai tomar depois de secar. Um sorriso bobo ainda está firmemente plantado em meu rosto, se recusando a ir embora. Nunca coloquei os pés neste hotel antes, mas me sinto em casa de uma forma que, em contraste, faz até o meu apartamento em Lyon parecer apenas uma hospedaria.

Dá para ouvir a água do chuveiro, ela continua correndo no banheiro e não me permite esquecer da presença de Rebeca. Como se eu pudesse.

Quero que se lembre de mim...

Saber que ela duvidou da minha memória, mesmo que por um segundo, ainda me faz balançar a cabeça. Rindo comigo mesma, eu me sento na cama e avisto o livro em que ela estava se agarrando, aquele cujo título se recusou a me mostrar só de pirraça.

Alcanço o volume e leio as palavras na capa. Infelizmente, estão em português, mas o meu conhecimento em espanhol me ajuda a entender. Não é exatamente o tipo de leitura que eu esperaria dela, não fazia ideia de que romances de época estavam inclusos na sua adoração por histórias picantes. Abro na primeira página, varrendo as frases no idioma materno dela, amando como, com cada descoberta, ela se torna cada vez mais real, cada vez mais presente.

Deslizo o polegar pela lombada, passo rápido as páginas e, de súbito, um papel cai do meio delas. Só espero que não tenha sido ele o que Rebeca estava usando para marcar onde interrompeu a leitura. Recupero-o de cima do edredom e, já que estou bisbilhotando, desdobro a folha gasta, esperando encontrar algo banal como uma lista de compras na caligrafia dela.

Não é uma lista de compras. Embora seja definitivamente uma lista.

Não há um título, apenas nomes femininos, um abaixo do outro, a maioria deles riscado com uma caneta de outra cor. Reconheço algumas dessas mulheres como ex-jogadoras de futebol. Com algumas delas até disputei campeonatos na Inglaterra, e outras duas já jogaram para a seleção inglesa junto comigo.

Mesmo sem saber exatamente o significado de uma lista como essa, minha mente é rápida em fazer suposições. A mais absurda delas, e justamente aquela em que meus pensamentos travam, é a de que Rebeca estava de alguma forma perseguindo essas mulheres. Flertando com elas. Dormindo com elas. Tentando me substituir.

Mas não, é bobo demais. Eu bufo, rindo do quão longe fui capaz de chegar em meros segundos.

Viro a folha e, do outro lado, há algo rabiscado em uma letra que, tenho quase certeza, não é a de Rebeca. Está em português:

Todas elas têm um ar de Connie Ember, não acha?

Reconheço meu nome, e um desconforto na base do estômago é tudo o que tenho para adivinhar o restante do que está escrito. Por que meu nome estaria do outro lado da folha, não junto com os demais na lista?

Antes que eu possa mergulhar na paranoia, a porta do banheiro se abre e Rebeca aparece diante dela, usando nada além de uma toalha em torno do corpo. Minha atenção é momentaneamente capturada pela visão de seu cabelo molhado derramando-se sobre os ombros, gotículas de água escorrendo dele e deslizando sobre sua clavícula. Com a pele limpa de qualquer maquiagem, as sardas claras perfeitamente visíveis e os olhos castanhos fixos nos meus, ela é tão brilhante, tão preciosa.

No entanto, as minhas mãos apertam o papel, meu olhar se desviando rapidamente para a lista, depois para Rebeca de novo.

­— O que é isso? — pergunto, meio engasgada.

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