Pato do amor

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26/03/2024 – terça-feira. 

O semáforo parecia não estar afim de trabalhar, e no fundo, a loira não o julgava. Anita Berlinger odiava terças-feiras. Era um dia tão sem sal, tão sem cor. Anita preferia as segundas, onde mal tinha tempo de respirar. Anita Berlinger preferia dias corridos pois não tinha tempo para pensar no inferno que ela havia causado em sua própria vida.

O relógio no paineldigital da BMW marcava exatamente 07:30, outro bufar irritado escapa dos lábios delineados pelo batom vermelho vivo e caro. Anita apoia a cabeça no vidro fechado da janela, tentando se distrair com a voz rouca e perfeitamente afinada do Cazuza que soava pelos autos falantes do carro

Uma movimentação não muito comum captando a atenção dos orbes azuis que vagavam em pensamentos aleatórios da vida. Um garoto com roupas simples, passava entre os carros parados pelo engarrafamento com um pato em baixo de um dos braços. Pela janela do carro, Anita poderia supor que ele gritava algo, mas sua voz era abafada pelo som interior do carro.

Curiosa para saber quais as circunstâncias que levara aquele menino a andar com um pato pelo centro da cidade, Berlinger abre a janela do carro e abaixa o volume do som, focando os olhos para tentar entender o que o menino dizia.

- Esse é o pato do amor, reconquiste o amor da sua vida! – O menino gritava.

Anita deixa que uma risada descreditada escapasse, uma risada descreditada de si por estar interessada no tal pato do amor. Com um leve piscar de farol, o menino chega perto da janela do carro, junto ao pato.

- Eai tia, tá na moral? Vai querer o Carlitos? – O garoto pergunta enquanto acaricia o pato.

"Tia?" será que já estava na hora de retocar o botox?

- É real que ele é o pato do amor? – Anita questiona ainda não acreditando que realmente compraria o animal.

- É sim, tia. Nunca ouvi nenhuma reclamação.

- Tá, e quanto é esse bicho?

- Bicho não, tia! Esse é o mano Carlitos.

- Okay! Carlitos, então. – Anita oferece um sorriso gentil ao menino.

- É 200 pilas, tia. – Sim, ela daria duzentos reais em um pato.

- Aceita cartão? – O menino a encara com deboche e ela arqueia uma sobrancelha em troca.

Que tipo de empreendimento é esse que não aceita cartão?

- É sério essa pergunta? – O tom cínico era presente na voz do jovem.

Anita abre a carteira que estava na bolsa, retirando três notas de 100 e oferecendo ao menino.

- Tia, é só duzentos!

- Compra um lanche pra você com o resto. – O sorriso do menino parece saltar do rosto.

- Valeu tia, você fez a boa.

- Vou abrir o porta malas e você bota o Carlitos lá, tá bom?

- Fechou!

E assim ele fizera, o pato fazia alguns barulhos estranhos e Anita tentava rezar para que o pato não morresse no meio do caminho. Uma coisa ela não tinha dúvidas, Verônica a mataria.

Enquanto voltava para casa, fazia uma ligação para a Delegada Titular, Glória Volp, avisando que não estaria presente na delegacia hoje, mas qualquer coisa ela podia ligar. Anita realmente aproveitara do seu novo cargo como Delegada Geral.

Betrayed | Veronita FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora