Erro e a errada

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13/04/2024 – sábado

Exatamente uma semana após a visita de Olga, Verônica estava sentada à sua mesa, os dedos voando sobre o teclado do computador enquanto finalizava um relatório importante que havia deixado para terminar em casa. O ar condicionado zumbia baixinho, criando uma atmosfera de calma no lugar. No entanto, algo no fundo de sua mente começou a incomodá-la, uma sensação difusa de que algo estava prestes a dar errado.

Ela tentou afastar a sensação, concentrando-se no trabalho. Mas quanto mais tentava ignorar, mais forte a intuição se tornava. O sol brilhava de forma forte na janela ampla do escritório. Talvez fosse a hora de uma pausa para aproveitar a tarde de sábado.

Do lado de fora daquele cômodo, a delegada Anita Berlinger tentava alimentar o pato, ela havia descoberto que quando patos correm, eles podem ser muito assustadores. Então ela tentava com muita calma passar despercebida pelo animal, falhando miseravelmente.

- Oi patinho! – Anita diz com a voz tremula. – A gente pode ser amigos, eu não mexo com você e você finge que não me viu aqui. – Os olhos castanhos que assistiam a cena da janela do andar superior achavam a cena hilaria e se negava a acreditar que uma das delegadas mais temida e importante do estado de São Paulo tentava fazer uma negociação com um pato.

O pato a encarava com uma feição neutra, e no outro segundo ignorando a presença da mulher. Anita aproveita da deixa e sai do quintal, se certificando de trancar a porta ao sair.

Berlinger odiava estar ociosa e sabia que a namorada estava ocupada e não gostaria de ser interrompida. O celular dela vibrava em cima da mesa da cozinha, interrompendo o silêncio que pairava na sala. Ela olhou para o visor e seu coração deu um salto quando viu o nome de Olga piscando na tela. Respirou fundo antes de atender, tentando manter a calma.

Anita engoliu em seco, sentindo um aperto no peito. Olhando rapidamente para a escada da casa, onde dava acesso ao escritório que Verônica, completamente alheia à conversa que estava prestes a acontecer.

- Oi, Olga. - Começou Anita, tentando não prolongar a conversa.

- Anita, podemos nos ver? - interrompeu Olga, com um tom suplicante. – Eu quero muito resolver as coisas entre nós.

Berlinger fechou os olhos por um momento, lutando contra a onda de culpa que a inundava. Ela já sabia que Olga havia procurado Verônica, mas um aperto no seu coração a avisava que seria um erro ir encontrar a mulher.

Houve um silêncio do outro lado da linha. Olga pôde imaginar Anita respirando fundo para se decidir. Quando Olga finalmente falou, sua voz estava mais séria. – Estou no seu bar favorito, mesa quatro. A cadeira da minha frente é toda sua.

Anita suspirou do outro lado da linha, resignada. – Estou indo, mas saiba que vamos apenas conversar. – Anita garante, mais para si própria do que para a outra mulher.

Olga não conseguiu responder. Ela apenas ouviu o silêncio do telefone por um momento antes de Anita desligar. Sentindo-se perdida e angustiada, a loira colocou o celular de volta na mesa, encarando-o como se fosse uma fonte de todos os seus problemas.

Anita decide ir, com determinação se levantou, pegou sua bolsa e começou a se preparar para sair. Ela sabia que estava prestes a ouvir palavras que não gostaria de ouvir, mas precisava ouvir e entender a mulher para assim conseguir seguir sua vida, sem mais rastros de Olga Ribeiro em seu relacionamento.

Com dois toques na porta do escritório, Verônica permite que a loira entre.

- Oi amor... – Anita diz entrando na sala.

- Oi linda, tudo certo? – Verônica pergunta virando sua cadeira em direção a mulher.

- Mais ou menos, meu bem... – Anita começa, guardando as mãos no bolso do moletom que usava. – Olga acabou de me ligar, disse que precisa conversar comigo para realinharmos tudo.

Anita joga a bomba no colo da morena e esperando a reação da mulher que ouvia tudo atentamente, sabendo que não poderia impedir a decisão que a loira tomasse. Mas agora não era sobre escolher, e sim, caráter.

- Você vai? – Verônica pergunta com toda compreensão que poderia ter naquela situação.

- Eu queria saber sua opinião. – Anita sabia que um relacionamento não funciona se não tiver abertura para fala, e naquele momento, a fala de Verônica era muito importante.

- Anita, eu confio em você. - Disse a morena, sua voz firme e sem hesitação. - Sei o quanto essa conversa pode ser importante para você, faça o que for melhor... – Anita sorri, se aproximando para um beijo.

- Estamos juntas nisso, amor. Seja o que for, eu amo você. Só você. – Anita garante.

Anita dirigia seu Mustang preto pelas ruas movimentadas de São Paulo, onde árvores alinhavam as calçadas e casas elegantes passavam rapidamente por suas janelas. O sol da tarde tingia o céu de tons de laranja e rosa enquanto ela se aproximava do destino.

Ao estacionar o carro no estacionamento fornecido pelo estabelecimento, a loira rapidamente adentra o bar. Os olhos azuis procurando pela mulher que lhe aguardava, a encontrando sentada em uma mesa no canto, perto da janela.

Olga mexia nervosamente na borda de sua taça de gin, finalmente começando a falar. - Anita, acho que precisamos acertar algumas coisas.

Berlinger olhou para a mulher com uma expressão séria, preparada para ouvir o que estava por vir. - Está bem, fale.

O bar tocava a musica preferida de Anita, "Nova demais pra mim" do Vitroles ecoava pelas caixas de som de alta potência do local, a mulher odiando ter que compartilhar um momento tão desconfortável ao som da sua música.

- Eu não sei por onde começar, quero dizer que sinto muito.

Anita pensa em responder, pelo começo. Mas decide escutar em silencio tudo que a mulher dizia.

- Eu não deveria ter me aproveitado no momento em que você e Verônica passavam, e te enrolando mais ainda.

- Eu assumo a minha responsabilidade, Olga. Não preciso que o faça por mim. – A morena assente, não sabendo mais como continuar a conversa.

- Como a noticia caiu no ouvido dela? Porque... – Anita a interrompe.

- Não caiu, eu contei e como já te disse, eu assumi o meu erro. Era somente isso, Olga?

- Eu sou o erro, mas você é a errada. – Olga debocha de Anita.

- Já imaginou se essa historinha dela de te perdoar for somente um plano para se vingar de você? – Anita não consegue esconder a careta em seu rosto só ao imaginar essa realidade acontecer.

- Olga, isso já não te diz a respeito! Era só isso que tinha para me dizer? – Anita decide encerrar ali, antes que a conversa tome um rumo que ela não gostaria.

- Era sim, Anita! Você está fazendo tudo para ela te perdoar, não é? – Olga questiona enquanto brinca com o canudo em seu copo.

- Estou, ela é tudo pra mim e você foi o maior erro que me aconteceu.

- Espero que você já tenha pensado na parte em que eu só virei amante porque nela falta alguma coisa.

- Não é nela que falta, era em mim. E o que faltava era caráter... – Anita diz se levantando da mesa, deixando uma nota de cem reais. – Tenha um boa noite, Ribeiro.

Olga abre a boca para responder, mas é interrompida por uma terceira voz se aproximando.

- Anita? – A voz que questiona soa bem atrás da loira.  

Nem sempre o amor proibido e em sigilo faz bem.

Betrayed | Veronita FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora