Toda criança imagina o seu futuro,
Imagina como será sua casa, sua carreira, seu marido ou esposa. Imagina uma vida dos sonhos, uma vida que anseia ter quando crescer.
Tem as que se imaginam ganhando muito dinheiro e tendo tudo o que quiser, tem os que sonham em trabalhar viajando para a lua, ou até mesmo, as que desejam apenas ter sua própria casa e poder fazer o que quiser dentro dela, comer sorvete no almoço.
Eu era uma dessas crianças que sonhava com meu futuro. Queria uma casa grande e bem iluminada, ter uma marca de joias em que meu trabalho fosse apenas desenhar as coleções e receber o dinheiro das vendas. Sonhava em ter um cachorro bem grande e bonito, um jardim vasto com várias flores, sonhava em continuar participando das competições de luta e tiro ao alvo simplesmente para ver meus pais vibrarem e torcendo por mim. Mas como na maioria das vezes acontece, crescemos e então, a vida adulta nos empurra para um lado oposto ao que sonhamos e tanto idealizamos como quando éramos crianças.
Sempre tive uma paixão incomum por armas de fogo, sentia como se elas fossem uma extensão de mim, sempre foi mágico tocar em uma, puxar o gatilho era um alívio e por isso, depois do meu irmão ter tentado me matar quando tínhamos doze anos eu acabei mergulhando ainda mais no mundo delas, aprendendo, estudando. Buscando focar em alguma coisa que não fosse a decepção de ter meu próprio irmão como um inimigo, tanto foco, me tornou um prodígio e uma profissional, aos quinze anos eu era completamente capaz de manusear armas de grande portes com uma facilidade como respirar.
Meu pai me incentivava, fazia uma festa sempre que conseguia ir mais longe, seu treinamento era rigoroso, as vezes até cruel e eu nunca havia entendido como o que um dia foi um hobby de repente se tornou algo indispensável, inegociável.
Minha criação foi recheada de regras, aulas, o que me tornou de certa forma dura de mais, fria de mais, minha vida sempre foi robótica, exceto as vezes que meu irmão tentou me matar, nada de novo acontecia. Quem me via de fora, me imaginava tendo uma vida repleta de luxos, e sinceramente, é uma verdade, sempre tive tudo o que o dinheiro podia comprar, mas isso não me fez uma menina mimada e fútil, meus pais, não, meu pai nunca deixaria que o pequeno diamante dele fosse alguém frágil.
" Você nunca se perguntou a razão por trás disso?"
Azael me questionou uma vez quando o nosso pai não deixou que ele fosse comigo em uma de minhas aulas de luta, usando a desculpa de que eu precisava focar e ter um irmão inexperiente não era bom. Não prestei atenção naquilo na época e nem me permiti pensar naquilo por muito tempo. Pelo menos não até que eu fosse jogada dentro de uma espécie de escola maluca com apenas uma mala pequena de roupas e objetos pessoais, não até que eu tivesse que acordar de madrugada para correr carregando 150kg de peso em minhas costas, não questionei até que esse peso aumentasse para 200kg e eu tivesse que carregar enquanto nadava em um riacho nojento, até que eu tivesse meus pés amarrados e fosse colocada de cabeça para baixo nos convés de um navio, enquanto meu pescoço só podia descansar se eu colocasse a cabeça dentro da água salgada do mar.
Mas com certeza eu me questionei um milhão de vezes quando me jogaram na China, na Rússia e em outros malditos países para ser treinada.
- Fada!
Suspirando entediada com aquele apelido ridículo que escolheram para mim há dois anos atrás quando entrei nesse lugar já que segundo as regras daqui ninguém podia saber a identidade de ninguém, de acordo com o que eles querem, quem sai daqui, nunca existiu. Porém, eles poderiam ter escolhido uma coisa mais original e não simplesmente, escolher a porra da primeira coisa idiota simplesmente pela maldita cor branca dos meus cabelos e o cinza frio dos meus olhos. Sinceramente só seria pior se meu apelido fosse sereia.
- Fada!
O apelido ridículo soa em meus ouvidos novamente e leva tudo de mim não rosnar. Levanto os olhos para encontrar o único ali que não queria desesperadamente me foder como uma conquista de bosta e que justamente por isso se tornou meu parceiro pois, assim como ele, não tenho interesse nenhum em ir para cama com ele, por tanto nossa parceria é unicamente profissional o que torna as coisas mais fáceis e inevitavelmente mais lucrativa.
E nunca, jamais admitiria isso em voz alta mas de certa forma, indo contra tudo eu aprecio a companhia dele, isto é, quando ele não me chama noventa vezes por segundo com o único intuito de tentar me fazer reagir de alguma forma se não indiferente. Sério, muito maduro!
- Te ouvi da primeira vez, lobinho!
Com indiferença usando o apelido ridículo dele, que escolheram simplesmente pelo fato dele ter entrado aqui com um casaco de pele de lobo, como eu disse, eles são muito originais com nomes.
- Precisa de ajuda com o ombro deslocado?
A pergunta dele me faz ter a sensação que meu ombro lateja, porém, não é verdade. Balanço a cabeça negando pois já havia resolvido aquilo, despretensiosamente olho para o nariz dele checando se estava quebrado, não estava.
Os treinos eram fodidos no início, mas agora se tornaram mais uma coisa robótica, meu cérebro já está tão acostumado com a pressão que nada me impressiona mais, ou me faz suar, meu corpo já se acostumou tanto em sentir dor que as vezes até esqueço que sinto isso e é foda, querendo ou não, também é triste se dá conta que você se tornou algo tão vazio que nem mesmo seu corpo importa.
Quase dou risada do meu próprio pensamento pois é por não me importar com nada, ou não ter o que perder que escolhi está aqui, afinal.
- Você não está preocupada com a reunião?
Depois de longos minutos em silêncio ele resolve questionar o que de fato o havia levado ali, nós dois, sendo convocados a uma reunião com os líderes.
- Não!
Respondo direta, sincera, brutal e escuto o bufar do garoto ao meu lado que cruza os braços ao dizer;
- Não sei por qual razão ainda pergunto, você parece mais uma boneca de gelo.
Um diamante, impossível de ser quebrado.
Era o que meu pai me dizia em momentos como esses, espanto os pensamentos, não importa agora.
- Eles irão fazer o quê com a gente? Quebrar um de nossos ossos? Nos dá choque? Arrancar nossa pele, ou sei lá, atirar na gente e nos fazer arrancar a bala com as mãos?
Nada que já não tiveram feito antes, por isso não me assusta, meu corpo se tornou algo grosso de mais.
- Você acha que será isso? Mais tortura?
Fecho os olhos entediada com aquela conversa, pensar naquilo não nos ajudaria, mas se ele queria falar sobre não me custava nada ajudá-lo.
- Não se preocupe, tudo bem? Já passamos por coisas de mais aqui, eles não podem nos destruir se pudessem, já haviam feito!
Éramos bons de mais para isso, por isso estávamos no topo da porra da lista de conquistas desde que nos aceitamos como duplas, éramos fodas, não tinha quem tivesse poder ali pra contestar isso.
Mas o que eu não esperava era que naquele dia estaríamos oficialmente liberados de nosso treinamento, que receberíamos o fardamento oficial dos exspiravit e que a partir dali, matar se tornaria uma coisa corriqueira na minha vida.

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Exspiravit
Fiksi PenggemarNasci para ser uma rainha, uma herdeira do mais poderoso dos impérios. Fui criada pelo pior e mais sombrio dos homens, a crueldade ja nasceu em mim, impregnada em cada uma das minhas células. Me conhecem como a dona da noite, a rainha do gelo. Me te...