O tempo passava de uma forma agonizante,
Lento como uma tartaruga era citada em histórias, o cheiro ao meu redor me sufocava, uma mistura de cigarro, bebidas baratas e estranhamente, morte.
Quis abrir a boca e respirar um pouco mais forte, aliviar a pressão em meus pulmões que exigiam uma quantidade maior de oxigênio, porém, duvidava muito que o oxigênio ali fosse capaz de me ajudar, na verdade, ousava apostar que ajudaria a me destruir.
Quieta, sem fazer barulho nenhum observei as pessoas andando de um lado ao outro, alheias a mim, a minha situação, ao que eu representava. Isso era bom e muitas vezes fui elogiada pelo meu pai, pela minha capacidade de adquirir o que eu queria, quando eu queria, sem muito esforço. Se eu quisesse ser notada em algum lugar eu era, se eu quisesse ser ignorada e não vista, eu também era e é exatamente por isso que as pessoas não me olham, não me notam. Saudade comprimiu meu peito, uma dor que quase me fez tremer, mas não faria isso, não na frente da porcaria de um homem que alegava ser uma espécie de guardião meu e que havia me levado para um lugar que mais parecia uma casa de sexo barato, do quê de fato um restaurante.
Ignorei o cardápio a minha frente, não por nojo da comida que estava sendo servida ali mas por duvidar que conseguiria comer alguma coisa, então apenas segurei delicadamente o copo simples com água. Fingindo bem de mais uma indiferença aquilo tudo.
- Você deve ter muitas perguntas!
O barbudo finalmente começou a falar, enquanto me olhava de uma forma esquisita, era quase, quase como se ele tivesse vendo uma coisa de outro mundo. Sei que minha aparência não é comum, por isso era uma coisa extraordinária que eu conseguisse não ser vista. Inclusive, durante algum tempo minha mãe quis que eu mudasse a cor dos meus cabelos, coisa que obviamente foi recusada por mim.
- Na verdade, não.
Balbuciei enquanto olhava ao redor, atenta de mais.
- Eu quase, quase consigo ouvir seu pai falando como você agiria ao me conhecer, como você era, o que faria a meu respeito!
Inclinei a cabeça para o lado, não muito confiante de suas palavras, não muito confortável com a forma que ele falava de meu pai, com tanta intimidade. Aquilo poderia me fazer baixar a guarda, isso é, se eu não tivesse sido criada ao lado de Asael, o demônio em pele de anjo, que aos olhos dos outros me amava acima de tudo, mas pelas costas tentava me matar, que tinha como meta de vida me destruir.
- Você pode ir direto ao ponto? Você deve imaginar que não estou com cabeça para jogar conversa fora, e por qual maldita razão, você me trouxe até esse lugar?
Minha voz era letalmente baixa, como o sussurrar do vento, sendo perdida no meio da altura do som. Siriús parecendo perdido, passou a mão na barba, deu um longo gole na dose de cerveja barata que ele havia pedido quando chegamos ali e suspirou, esperei, sabia bem esperar, era meu dom secreto, a paciência. Por isso, não me levantei e fui embora quando invés de me responder ele passou longos segundos apenas batucando o dedo na mesa.
- É complicado, muito complicado, Ariel. Veja bem, tente me entender, era seu pai quem deveria estar aqui, era ele quem deveria ter essa conversa com você!
Ele não conseguia me encarar, olhar em meus olhos, como se estar naquela posição fosse horrível, quase rir da cena, pois, sinceramente? Se estava ruim para ele, imagina para mim que além de está vivendo uma merda de momento, tinha a sensação de não saber coisas que todos ao meu redor sabiam.
- Foi aqui que eu e seu pai nos vimos a última vez, foi aqui que fiz a promessa a ele e bem, achei que te trazer aqui ajudaria, um pouco.

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Exspiravit
FanfikceNasci para ser uma rainha, uma herdeira do mais poderoso dos impérios. Fui criada pelo pior e mais sombrio dos homens, a crueldade ja nasceu em mim, impregnada em cada uma das minhas células. Me conhecem como a dona da noite, a rainha do gelo. Me te...