Parte 3 - Os Avatares da Ilha: Capítulo 20 - Toquem Tambores

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DIAS 21 a 28

Floresta da Living Island

A luz do sol ainda não havia tocado a ilha quando Leonardo acordou. Sobressaltado por acordar no meio da mata, sua mente levou alguns segundos para começar a funcionar corretamente, e conforme o sono diminuía, lembranças da tarde anterior começaram a inundar sua memória.

Havia tirado a vida de Peterson, mas o corpo de Peterson não estava mais ali. Teria realmente assassinado Peterson? A falta de um cadáver dizia que não. E se tudo fora apenas um sonho, ou até mesmo um delírio de sua mente cada vez mais fragmentada? Nem mesmo os pedaços do cérebro de Peterson estavam ali.

Mais desperto, Leonardo percebeu que a noite não estava tão escura como de costume. A claridade não equiparava à do dia, porém conseguia enxergar tudo o que estava ao seu redor com facilidade. Ao olhar para cima, ele conseguiu enxergar, entre buracos nas copas das árvores, pedaços de um céu repleto de estrelas.

A necessidade de voltar ao acampamento surgiu no mesmo instante, mas como poderia encontrar o caminho correto sem o barbante? Pensando com mais racionalidade, Leonardo disse para si mesmo:

— Eu preciso me controlar mais, olha pra onde esses surtos me levam?

Ao terminar de falar, Leonardo ouviu um assobio que apenas Peterson era capaz de fazer, e feliz por crer que não havia tirado a vida do amigo, virou-se, mas a imagem que suas retinas captaram, emanava o mais profundo terror. Aquele era realmente Peterson, mas sua cabeça, apesar de inteira, estava completamente desfigurada, não havia traço algum de humanidade naquele rosto. Olhando para a figura horripilante à sua frente, Leonardo se perguntava como Peterson conseguira assobiar sem os lábios.

Alguns minutos se passaram enquanto Leonardo olhava fixamente para o cadáver, que permanecia inerte. Porém, quando Peterson fez menção de movimentar uma de suas mãos, Leonardo soltou um grito agudo, temendo sofrer algum tipo de vingança, mas o fantasma apenas fez um sinal, como se estivesse chamando-o.

Contrariando seu senso de autopreservação, Leonardo começou a andar na direção que o desencarnado lhe mostrava, e enquanto o seguia, Leonardo tentou puxar assunto.

— Viado, eu não sei onde eu tava com a cabeça quando eu te matei. Mas você não me deixou escolha. — disse ele, envergonhado. — Com certeza você ia dar com a língua nos dentes, ia ser um X9, você não ia querer vencer comigo. Quer saber? A culpa da sua morte é toda sua!

O fantasma parecia não ouvir o que Leonardo dizia, sempre seguia em frente, sem se virar para trás, sem responder, semelhante a um robô teleguiado, ou pior, um zumbi.

— Não vai se defender não, ô troço ruim? — Leonardo aumentou o de voz, pegou uma pedra no caminho e a jogou no defunto, mas mesmo com a pedra acertando-o, o fantasma não se desviou de sua tarefa. — Por que você não se vinga logo de mim e me mata?

Sem demonstrar qualquer tipo de abalo, o cadáver de Peterson continuava andando e Leonardo continuava seguindo-o. Após meia hora de caminhada, Peterson parou de andar e desapareceu, deixando Leonardo sozinho, mais uma vez. O lugar onde fora deixado era a gigantesca plantação que havia no meio da mata, e como a plantação se situava em uma imensa clareira, Leonardo pôde ver, finalmente, a numerosidade das estrelas que enfeitavam aquele céu noturno.

Mesmo com luminosidade noturna aumentada, Leonardo não queria atravessar a floresta, à noite, para chegar ao acampamento, então decidiu que esperaria o amanhecer para enfim procurar o caminho correto. O que precisava fazer imediatamente, era comer algo e dormir.

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