Eu sinto muito

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Corro pela casa almejando alcançar meu quarto antes que Kara me ligue e ignorando os chamados de Lex, já que fugi em meio a nossa conversa sobre suas divergências que ocorreram em nossa família nos últimos dias. Tranco a porta do cômodo antes de sentar-me em minha cama, sentindo a ansiedade tomar conta de mim só por culpa de uma ligação.

Conversar com Kara tornou-se o ponto alto do meu dia, a garota sempre me tira do tédio ocasionado pelos meus dias monótonos e preenche o vazio que sinto sempre que estou sozinha.

— Aí Deus! — Murmuro ao sentir o celular vibrar, encaro a tela que piscava notificando a ligação via WhatsApp de um número desconhecido. — Vamos lá...

Sussurro insegura antes de atender a ligação.

— Alô?

O curioso caso de chupa minha boceta! — A voz levemente rouca preencheu meus ouvidos, seu tom era risonho. Libero uma baixa risada pela cantada ridícula.

— Creio que um dia você consiga uma cantada melhor, Senhorita Kara.

Certamente, Senhorita Lutessa. Mas não pode negar que essa cantada lhe deixou ansiosa para chupar minha boceta. — Mordo o lábio inferior.

— Não mesmo, até porque nunca me relacionei com uma mulher.

Porra, por que me matou dessa forma crush? — Seu tom passou para dramático. — Me imagine caída na cama com a mão no peito como se estivesse tendo um ataque cardíaco. — Solto um riso.

— Lamento dizer, mas sou hétero.

Urgh, cancela. Você não é mais minha crush, foi rebaixada ao cargo de somente uma garota que conheci pela internet.

— Nossa, pegou pesado! — Não consegui conter a tristeza em minha voz.

Certo, posso trocá-la para o cargo de amiga virtual.

— Uhn, detestei.

Safadinha, sei que gosta de ser minha crush e de me ouvir dizer o quanto quero estar entre suas pernas. — Zombou me fazendo rir.

— Talvez seja... Suas gracinhas quase me fizeram esquecer o verdadeiro motivo dessa ligação.

Droga, não foi dessa vez que consegui te enrolar. — Resmungou.

— Sem brincadeiras Kara, fiquei muito preocupada com seu sumiço. Você pode conversar comigo sobre qualquer coisa. — A linha ficou silenciosa.

Fez doze anos desde a morte dela. — O tom baixo e melancólico deixou-me triste, assim como suas palavras me deixaram sem reação. — Eu tinha nove anos, minha irmã mais velha tinha quatorze e a caçula quatro anos.

— O que aconteceu? Ela estava doente?

Ela teve um AVC quando estava comido e com Nia em casa, eu não fazia ideia do que estava acontecendo e não soube como agir para ajudá-la. Minhas irmãs me culpam pela morte dela e minha madrasta também.

— Sinto muito Kara, sinto de verdade!

Não sinta, eu devia ter feito algo para ajudar e não fiz. Ela era minha mãe e eu a deixei morrer. Imagine como ela se sentiu ao ver sua única filha biológica deixá-la morrer?

— Ei, você não teve culpa! — Afirmo. — Kara, você era uma criança e não sabia o que estava acontecendo com sua mãe. Não deve se sentir culpada por algo que você era incapaz de compreender, por algo que estava fora do seu controle. Sei que se fosse um pouco mais velha, que se visse sua mãe passar mal, faria de tudo para ajudá-la e sua mãe também sabe.

Eu deixei minha mãe morrer Lutessa.

— Não, claro que não! Você não tinha noção do que estava acontecendo. Nunca mais repita isso, por favor. Você não é culpada pelo que aconteceu, não escute o que suas irmãs dizem e nem o que a estúpida da sua madrasta também fala. Elas como sua família deveriam te dar suporte e não acusá-la de algo tão grave.

Obrigada...

— Não me agradeça por dizer a verdade e também não se culpe pelo que aconteceu. — Ouço o suspiro dela. — Você pode falar comigo sobre qualquer coisa, está bem? Estou aqui para te ouvir e para te ajudar, Kah. Mesmo que as vezes eu te decepcione por ser hétero. — Brinco, ouço a baixa risada dela.

Você não precisa me lembrar dessa fatídica revelação! — Ela faz uma pausa. — Vou deixar você descansar, sei que está se tornando madrugada aí.

— Não me importo de ficar falando com você até tarde.

Não quero que fique exausta amanhã e nem posso permitir que fique.

— Deixo você desligar se prometer me ligar amanhã também.

Eu prometo.

— Até amanhã Kara.

Até amanhã esposinha. — Brincou antes de encerrar a chamada, libero um suspiro em meio ao sorriso que sustento no rosto.

CONNECTED - Karlena / SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora