43| Você pegou o número dele?

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| Los Angeles, Hollywood
Quarta-feira - Noite.
Às 17h10.

ㅡ Eu nunca imaginaria que o papai voltaria a entrar em contato com a gente depois de tantos anos ㅡ Liby comentou, me estendendo o pacote de arroz.

Já passava das 17h da tarde aquela altura, onde eu e Liby nos preparavamos para aquela primeira noite juntas no meu apartamento. Isso porque depois da ligação rápida que tivemos, ela percebeu que o assunto era sério demais para adiá-lo.

ㅡ Eu não esperava, honestamente. ㅡ Coloquei o arroz na água, após ter posto o sal. ㅡ Em anos se concentrando no trabalho e esquecendo da existência das filhas, não é de se esperar que ele volte a se pronunciar.

ㅡ Como é que você tá com isso? ㅡ Liby questionou, parecendo hesitante na sua pergunta. Percebi que ela já estava cortando os frangos em quadrados pequenos.

ㅡ Eu não sei direito, mas é uma sensação estranha. ㅡ Admiti, jogando o pacote vazio no lixo. ㅡ Depois de tantos anos sem falar com ele e, aleatoriamente, uma ligação? É...

ㅡ Esquesito?

ㅡ Exatamente. ㅡ Fui sincera, pegando os temperos necessários dentro do armário, além do pacote de milho. Eu adoraria colocar ervilhas, mas a Liby detestava. ㅡ Será que é uma boa ter uma conversa franca com ele, Liby? Tipo, saber verdadeiramente o que passou pela cabeça dele antes de se afastar?

ㅡ Sinceramente, eu não ligo a mínima para os argumentos e as justificativas dele, Sol. ㅡ Afirmou, deixando a faca em cima da tábua quando terminou de cortar os frangos. ㅡ Qualquer porra que ele disser eu não vou acreditar.

Engoli em seco quando Liby usou o tom mais frio do mundo, umidecendo os lábios com a língua.

ㅡ Mas eu vou entender caso você sinta vontade de conversar com ele, Sol. ㅡ Continuou, percebendo minha expressão. ㅡ Digo com propriedade que conheço você o suficiente para saber que quer uma justificativa. Talvez até queira saber do paradeiro da mamãe.

Desviei meus olhos, procurando a panela mais próxima para começar os preparativos do estrogonofe.

ㅡ Sol, nem tente disfarçar. ㅡ Liby tocou em meu ombro. ㅡ Eu também quero saber dela, mas o que adianta voltar para a mesma história depois de tantos anos? Não faz diferença.

ㅡ Você conheceu ela, Liby. Eu só passei 5 anos com ela, antes de vê-la sumir juntamente com qualquer lembrança que eu tinha. ㅡ Esbravejei, engolindo em seco de novo. Aquela história me deixava nervosa. ㅡ Quando eu tentava lembrar dela eu só via uma escuridão completa, sem qualquer característica ou voz.

ㅡ Sol... ㅡ Interrompi ela.

ㅡ Tudo bem, Liby, você não tem culpa. ㅡ Dei com os ombros, voltando minha atenção para o jantar. ㅡ A gente pode mudar de assunto? Não quero focar minha atenção nessa família estragada.

Liby forçou uma expressão ofendida.

ㅡ Ei! ㅡ Grunhiu, colocando a mão em frente ao peito. ㅡ Assim me ofende.

ㅡ Você entendeu o que eu quis dizer ㅡ Empurrei seu ombro de brincadeira, me afastando para deixá-la tomar conta do resto. ㅡ Aliás, qual horário que pode ir no shopping comigo? Estou doida para comprar esse vestido logo.

ㅡ Parece que tá empolgada para conhecer a família do vizinho gato ㅡ Comentou, sorrindo maliciosamente. ㅡ Como anda as coisas com ele?

ㅡ Indo perfeitamente bem, Liby. Garanto. ㅡ Assegurei, apoiando meu queixo na minha mão enquanto meu cotovelo estava na ilha que separava a sala da cozinha. ㅡ Praticamente, passamos nosso tempo inteiro juntos. Faculdade, almoço, tarde, jantar...

ㅡ Já são praticamente casados. ㅡ Soltou uma risada, balançando a cabeça. ㅡ Ele já dormiu aqui ou você dormiu na casa dele?

Sua pergunta direta me atingiu em cheio, atingindo meu coração e minhas bochechas ficaram vermelhas e quente automaticamente com seu questionamento.

Liby não pensava antes de perguntar.

ㅡ Puta que pariu, Sol! ㅡ Ela abriu a boca em choque quando notou meu rosto vermelho. ㅡ Em que momento você se tornou essa pessoa??

ㅡ Liby, você fala como se eu não fosse a mesma.

ㅡ Você jamais dormiria na mesma cama que um homem sem ter um compromisso sério. Com o Edu, você demorou séculos para se entregar a ele. ㅡ Relembrou, voltando atenção para o arroz. ㅡ Vocês...?

Entendi seu questionamento quando ela hesitou, balançando minha cabeça em negação rapidamente.

ㅡ Não, querida irmã. ㅡ Neguei, prontamente. ㅡ Atualmente, só ficamos nos beijos. Noah e eu estamos nos conhecendo, construindo uma união sólida.

ㅡ É justo.

ㅡ E você, Liby?

ㅡ O que é que tem eu?

ㅡ Não conheceu nenhum cara pelas ruas de Hollywood que chamou sua atenção?

ㅡ Sol...

ㅡ O que? É errado em querer ter sobrinhos? ㅡ A encarei, lançando um olhar sugestivo.

Sobrinhos? ㅡ Repetiu, torcendo os lábios. ㅡ Ah, por favor, eu não tenho capacidade de ser mãe.

ㅡ Você cuidou de mim. ㅡ Rebati, justificando.

ㅡ Eu tive ajuda da sua madrinha, é diferente.

ㅡ O seu marido pode te ajudar.

ㅡ Que marido, Sol? ㅡ Me encarou. ㅡ Eu não tenho relacionamento algum há anos, não tenho nenhum contato sequer.

ㅡ Então, nenhum cara chamou sua atenção?

Liby mordeu o lábio inferior, escorrendo o arroz rapidamente. Logo voltou sua atenção aos frangos, parecendo tentar ser o mais rápida possível.

Aquilo só fez um sorriso enorme se abrir em meus lábios, porque conhecia a Liby o suficiente para saber em que momento ela estava evitando continuar o assunto. E aquele era o momento.

ㅡ Meu Deus, Liby, você encontrou alguém! ㅡ Exclamei, sorrindo abertamente.

ㅡ Não encontrei alguém, mas sim um homem que... ㅡ Seu rosto transformou-se em uma expressão pensativa, parecendo procurar a palavra certa.

ㅡ Te atraiu.

ㅡ Mas ele era um babaca! ㅡ Torceu os lábios. ㅡ Eu estava voltando do trabalho ontem, depois daquela tempestade toda, toda a cidade estava alagada e com poças enorme. Aquele ridículo passou com a moto dele horrorosa pela minha frente, fazendo uma poça enorme molhar toda minha roupa.

ㅡ Nossa... que babaca.

ㅡ Exatamente! ㅡ Grunhiu, ligando o fogão. ㅡ Eu tive que voltar para o apartamento, trocar de roupa e ir na reunião extra que eu tinha. E adivinha quem era o filho do novo sócio da revista?

ㅡ O garoto da moto?

ㅡ Ai, eu xinguei ele de todos os nomes possíveis em português.

ㅡ Liby...

ㅡ Ele entendeu, Sol, entendeu! ㅡ Continuou, preparando os temperos automaticamente. ㅡ Ainda ficou rindo da minha cara, fazendo a maior cena para o pai dele.

ㅡ Você pegou o número dele, pelo menos?

ㅡ Não... Mandei ele ir pra puta que pariu!

ㅡ E se você ver ele de novo, vai pedir o número dele, né?

ㅡ Pelo amor de Deus, não! ㅡ Vociferou, pegando o creme de leite e colocando na panela. ㅡ Só quero que ele bem longe de mim.

ㅡ Quando você estiver casada com ele, prometo que jogo na sua cara essas suas palavras em vão. Prometo.

Sorri sarcástica para Liby, que voltou sua atenção para a panela quando se viu sem argumentos.

•••

Meu Vizinho | Reescrito.Onde histórias criam vida. Descubra agora