08| Quer uma carona?

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| Los Angeles, Hollywood
Terça-feira - Manhã.
Às 10h32.

As primeiras aulas do dia foram tranquilas, até. Era o início do bimestre e teríamos que conhecer cada conteúdo que estudariamos ao longo dele.

Quando a hora do intervalo chegou, a maioria dos alunos saíram da sala. Eu fiquei perdida no meio deles, procurando qualquer sinal da direção onde ficava o refeitório. Aquela faculdade era tão grande que, infelizmente, facilmente eu me perderia.

E o pior era que não conhecia ninguém.

ㅡ Oh, meu Deus, desculpa! ㅡ Pedi rapidamente, me xingando mentalmente por ter sido o segundo esbarro do dia.

ㅡ Tudo bem, vizinha, só foi um esbarro. ㅡ Quando aquela voz atravessou-me, meu corpo estremeceu lentamente enquanto eu me afastava.

Ergui meu queixo na mesma hora que me afastei, podendo ver seu rosto. Definitivamente, a cada momento que eu olhasse para ele, iria perder as palavras por saber que ele fica mais lindo. E eu não estava forçando, infelizmente, já que ele era tão lindo que chega me irritava mais.

ㅡ Ah... É você. ㅡ Estalei a língua no céu da boca, desdenhando.

ㅡ Sim, sou eu. ㅡ Seu sorriso convencido surgiu nos seus lábios, iluminando mais seu rosto. ㅡ Algum problema?

ㅡ Vários. Por exemplo, pensei que seria alguém mais relevante. ㅡ Dei com os ombros, curvando meus lábios em um sorriso debochado. ㅡ Sabe como é, né?

ㅡ Por quê pediu desculpas, então?

ㅡ O que eu acabei de dizer? ㅡ O encarei, juntando minhas sobrancelhas. ㅡ Agora, por favor, me dá licença.

O homem sorriu totalmente.

ㅡ Foi bom esbarrar com você.

Torci os lábios para ele enquanto me afastava dele, seguindo o grupo de alunos que caminhavam em direção contrária do setor 5. Poderia me perder? É claro, mas a minha intuição me fazia segui-los.

E já não bastava aguentá-lo na vizinhança, destino, precisava aguentar ele na faculdade também?

Soltei um suspiro aliviado ao encontrar o refeitório, por muita sorte, buscando pelo rosto conhecido da Polly. O refeitório estava lotado de tantos universitários, mas não foi difícil encontrar aquela cabeleira azul e rosa acenando para mim.

Me aproximei da mesa onde ela estava, desviando de alguns corpos, notando que ela não estava sozinha.

ㅡ Finalmente, cara! Achei que não iria vir.

ㅡ Esqueceu que eu sou nova aqui e, literalmente, é cheio de corredores e portas? ㅡ Indaguei, soltando uma risada para aliviar o clima.

As duas garotas que estavam sentadas na mesa com ela me olharam, percebendo minha presença. Uma delas era de pele clara, assim como a minha, com diversas sardas espalhadas pelo seu rosto delicado e com longos cabelos ruivos caindo por cima dos seus ombros.

A outra tinha uma pele escura brilhante, olhos bem escuros e um longo cabelo cacheado preto feito petróleo.

Abri um sorriso, tímido.

ㅡ Oi.

ㅡ Oi, gata! Senta aí! ㅡ A de pele escura sorriu, dando-me a um lugar ao seu lado. ㅡ Eu sou a Sarah. E você?

ㅡ Eu já te disse o nome dela, Sarah!

ㅡ Cala a boca!

ㅡ E eu sou a Nina. ㅡ A ruiva apresentou-se, me permitindo ver covinhas fofas se formando em suas bochechas quando ela sorriu. ㅡ Polly me disse que você é brasileira.

ㅡ Eu sou, sim. Natural do Rio de Janeiro. ㅡ Respondi, abrindo minha bolsa para pegar a vasilha que trouxe. Até o momento não tinha sentido fome, mas meu estômago roncou na hora.

ㅡ Eu sou natural de Tóquio. ㅡ Disse a Polly, erguendo o queixo. ㅡ O que foi?

ㅡ Nós diga algo que não sabemos, Polly.

ㅡ Vai a merda, Sarah, euem! Estou falando com a Sol!

Acabei rindo, puxando um pão de queijo da vasilha.

ㅡ O que é isso? ㅡ Nina olhou para mim quando eu mordi, saboreando o gosto delicioso do queijo.

ㅡ Ah... É um pão de queijo. ㅡ Balancei em minha mão, notando que elas continuavam com expressões confusas. ㅡ É algo típico do Brasil. Querem provar?

ㅡ É confiável? ㅡ Sarah questionou, pegando o pão de queijo na minha mão quando eu lhe ofereci.

ㅡ Juro que sim.

Nina e Polly pegaram em seguida, ainda desconfiadas, observando o pão com desconfiança. Eu até entendia, também estava receosa em confiar nas comidas daqui, mesmo sabendo que eu traria um toque brasileiro para elas.

Quando elas provaram, adoraram. Eu já sabia.

Quem não ama um pão de queijo?

ㅡ E então, Sol... ㅡ Nina esfregou as mãos depois de terminar de comer o pão. ㅡ O que trouxe até Los Angeles?

ㅡ Boa pergunta!

ㅡ Ah... Eu não sei ao certo em que momento eu me aproximei pela cidade. É claro que eu não tinha visto ela sem ser nas fotos, até o momento, mas ainda sim sempre que eu a via em jornais, fotos, filmes... Sempre tinha algo que chamava atenção aqui. ㅡ Comecei a explicar, sentindo meu coração na boca. ㅡ Chegar aqui se tornou um sonho para mim desde bem pequena. Meu e da minha irmã, na verdade, que chegou aqui antes de mim e me apoiou mais do que qualquer outra pessoa. ㅡ As garotas me olharam com atenção, parecendo realmente interessadas em saber. ㅡ Então... Passei a lutar pelo meu sonho. Atualmente estou aqui.

ㅡ Seja bem-vinda a cidade, Sol. Prometo que ela muito mais do que dizem.

Nina assentiu com as palavras da Sarah.

ㅡ Só não fique assustada pelas gravações de filmes aleatórias.

ㅡ Já presenciei uma ontem. Vou adorar me gabar dizendo que vi uma gravação de perto.

ㅡ Onde mais tem é na Calçada da Fama. ㅡ Polly comentou, bebericando seu café gelado. Ok, era café gelado.

Parecia até um crime esfriar aquela belezura.

ㅡ O que acha de irmos lá juntas? ㅡ Polly sugeriu, subindo e descendo com suas sobrancelhas.

Sorri, sentindo meu peito aquecer pela forma animada que elas sorriram no segundo seguinte.

Era quase uma hora da tarde quando as aulas acabaram. Me despedi das meninas com um sorriso no rosto, saindo da Universidade percebendo o clima estranho que surgiu de repente. O céu nublou aleatoriamente, escurecendo cada parte do lugar.

Eu ainda precisava saber como me locomover direito por aqui. Saber de cada ponto de ônibus, de como sairia do edifício até a universidade e vice-versa.

Não demorou muito que a chuva caísse, me prendendo no ponto.

ㅡ Puta que pariu, cara. Como é que eu vou sair daqui agora?

Como um passe de mágica, um carro surgiu na minha frente. A janela se abriu lentamente, enquanto eu piscava repetidamente tentando receber quem estava ali dentro.

Puta merda.

ㅡ Olha só... ㅡ Um sorriso não demorou a surgiu nos lábios dele. ㅡ Quer uma carona?

•••

Meu Vizinho | Reescrito.Onde histórias criam vida. Descubra agora