A uma semana atrás, um sangramento fez eu descobrir um aborto. Sim. Eu tive um aborto espontâneo.
Eu não sei se devo agradecer ou não por isso ter acontecido.
Se esse feto viesse a vingar, eu não sei como iria ser.
Não sei se conseguiria ter um bebê que foi gerado por um estupro. Não sei se conseguiria segurar um bebê em meus braços e ver nele traços do homem que me causou tanta dor. Eu tive medo de não conseguir amar um ser inocente que não tinha culpa, mas levaria a culpa.
Da pra entender?
Eu não conseguiria fazer isso.
Mas, mesmo assim, doia como o inferno.
A uma semana o quarto era meu lugar favorito. Eu só levantava para ir ao banheiro ou pra ir comer alguma coisa. Isso por insistência do Shawn e da Demi que vinha me visitar todos os dias depois da clínica.
Se não fosse por eles, eu estaria a todos esses dias sem comer e acho que nem sentiria falta.
Shawn estava estranho desde o dia do ocorrido que ele saiu igual a um foguete da clínica. Todos os dias de manhã eu via ele sair de casa devido ao som do seu carro, e ele voltava próximo ao jantar com duas marmitas, uma pra ele, outra pra mim. Emily não estava em casa esses dias, acho que Shawn não queria que o meu desânimo afetasse ela.
E bem, não iria julgar. Eu até preferia assim.
Emily era super carinhosa e gostava de ficar próximo. Ela tinha se apegado a mim e eu a ela mesmo com pouco tempo de convivência. E eu só me sentiria pior, por não poder dar o que ela merecia. Pelo menos não por agora.
Era próximo das 20 horas quando me levanto da cadeira de onde estava sentada e levo o isopor onde era uma vez uma marmita até o lixo. Eu poderia até estar sem sentir fome, mas me obrigava a engolir a comida toda até não sobrar nada.
Não por mim, mas por ele que fazia um esforço para novamente me agradar mesmo ainda estando estranho. Eu sabia que ele estava escondendo alguma coisa e a curiosidade me atiçava a descobrir.
-Eu vou subir... - falo passando reto por ele sem olha-lo mas, diferente das outras vezes que ele ficava em silêncio me vendo ir, ele se levanta e antes que eu saia da cozinha, se aproxima.
-Espera um pouco. Eu sei que você quer voltar para o quarto e se isolar por lá. - sentia seu olhar em meu rosto mas mantive a minha cabeça baixa - Mas, dessa vez deixa a porta destrancada? Me dói toda noite escutar você tendo pesadelos e passando por isso sozinha.
Os pesadelos não me deixavam em paz uma noite sequer. Toda noite que acordava no susto, escutava batidas na porta e chamados pelo meu nome mas, nem me mexia da cama para abrir ou responder ele. E como ele não estava lá por mim por opção minha, eu passava o restante da noite acordada com medo de ter outro sonho ruim quando fechasse os olhos.
-Eu preciso lidar com isso sozinha. - me viro para sair mas, ele segura meu braço me mantendo no lugar.
Realmente eu precisava. Logo a casa que Luther forneceria para mim estaria pronta e eu iria embora dessa casa.
-Não. Não precisa. - sua mão toca em meu queixo e faz minha cabeça se erguer mas, olho para todos os cantos menos pra ele - Olha pra mim Camila! - Shawn pede e mesmo relutante eu o faço - Eu quero estar do seu lado. Eu quero fazer a coisa certa pelo menos uma vez! Você não entende que eu preciso de você!? - meu coração errar a batida - Eu estava um lixo e me sentindo pior ainda quando você estava longe. Eu tive medo de nunca mais poder olhar em seus olhos. Eu tive medo de nunca mais ter a oportunidade de escutar sua voz, sua risada. E pior, eu nunca iria sentir o gosto do seu beijo! - seu polegar toca meu lábio inferior.
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Hired To Kill [CONCLUÍDO]
FanfictionO que fazer quando sua vida dá uma reviravolta do dia pra noite. Em um dia, você está lutando, trabalhando duro para poder sobreviver. Você tem a chance de ter uma vida, amigos e um cachorro que se torna sua família já que você não tem ninguém. Em...