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Quatro meses depois.

As mãos babadas de Rosalina acertaram a tela do meu celular. Olhei brava pra ela, que por sua vez voltou as mãos para boca. Seis meses de puro amor e ódio com Rosalina Medsen Zapata. Ainda não acredito que consegui viver tanto tempo como mãe, apesar de quase estar jogando a bebê pela janela. Deixei meu celular sobre a mesinha de centro. Rosalina agora dominava a casa, tudo tinha que ser na vontade dela ou então ela babava em cima.

- Irei fazer o nosso almoço, então não destrua nada.

Fui para a cozinha, que pela primeira vez em meses, estava arrumada. Peguei o que havia sobrado do nosso jantar da noite anterior, Jorge exagera na comida.
Separei os legumes, e os amacei para Rosalina. Deixei meu almoço de lado, comeria depois.

Respirei fundo ao voltar para sala. Meu sofá estava todo babado, com uma cobertura especial de suco. Se essa criança continuar assim, irei mandar ela para os seus avós, sinceramente eu não aguento mais. Desde que Rosalina começou a pegar coisas e as tacar para longe minha casa tinha virado um desastre.

- Rosalina! Quantas vezes terei que te falar para não derrubar as coisas no sofá? - bufei - Se continuar desse jeito irei te mandar para os seus avós.

- Uau, quanto estresse coração. - me assustei com a voz e a pessoa parada na porta.

- Como entrou?

- Porta aberta.

- O que faz aqui Paulo?

- Vim fazer companhia.

- Eu já tenho uma.

- Está até querendo despachar a princesinha aí, não sei se é uma boa ideia deixar vocês sozinhas.

- Não tenho comida para dividir com você agora, volte mais tarde.

- Não me importo.

- Paulo. - suspirei, céus me dê paciência. - O que você quer?

- Conversar.

- Sobre?

- Sofia.

— Como ela está? E o bebê?

- Estão bem.

Encarei seu rosto, havia algo a mais ali. Me sentei no sofá ao lado de Rosalina, para lhe dar comida, algo que foi bem aceita pela bebê, que mantinha os olhos no desenho da televisão.

- O que houve? - Paulo se sentou sobre o tapete da sala, de frente para mim.

- Não quero mais fazer isso.

- Isso o quê Paulo?

- A criança. - olhei-o, encorajando ele a continuar. -
Sofia me pediu para assumi-lo.

- E você não quer.

- Não. - respondeu mesmo sabendo que não foi uma pergunta. - Não é que eu não tenha me apegado ao bebê, eu me apeguei, criei um carinho enorme por ele, mas não posso fazer isso. - suspirou - Já fiz muita coisa por fama, para estar nas capas das revistas, mas isso, eu não posso fazer.

- Falou para ela?

- Não, estou evitando qualquer aproximação, tenho medo de Marie me ver e enfiar uma aliança em meu dedo, e me forçar a falar sim.

- Casamento não é a pior coisa do mundo Paulo.

- Se não for com quem você ama, pode ter certeza que é.

- As pessoas não se casavam por amor antigamente.

- Mas agora se casam.

- Não pode evitar ela para sempre, principalmente por conta do bebê, todos ainda acham que é seu.

- Está aí a questão que eu queria chegar. - respirei fundo, ciente que o que veria a seguir não seria nada bom.

— Se me disser que a criança é sua, e que mentiu para mim durante toda esses meses, pode ter certeza Paulo Guerra, você será um homem morto.

- Sua confiança em mim é extraordinária coração, porém não, o bebê realmente não é meu, mas...

- Mas o que?

- Acho que descobri quem é o pai.

— E?

- Dá para ver a luz no fim do túnel junto comigo coração? Ele assume o bebê, e pronto, fim de papo, fim de casamento forçado, estarei livre novamente.

- Primeiro: você sempre esteve livre Paulo, segundo: quem aceitou assumir o bebê foi você, não pode simplesmente jogar a bola para outro.

- Coração...

- Não Paulo, você aceitou fazer isso e agora tem que ir até o fim.

- Ele nem sabe que o filho é dele.

- Não é problema nosso. - Paulo bufou.

- E se o bebê nascer com o rosto dele? Todos saberão que não é meu.

- Então torça para que ele se pareça com Sofia.

- Coração...

— O que?

- Me deixe contar, irá fazer bem para ele.

- Se ela não quis contar, nao cabe a você fazer isso.
Ela é a mãe, ela sabe o que é melhor para o bebê.

- Deixa de ser chata coração, imagine a cara de Marie ao descobrir que o neto dela não é um Guerra.

- Certo isso é tentador, mas não se trata apenas de Marie, e como ela ficará chocada com isso. - virei-me para Rosalina - A questão Paulo, é o bebê, imagina a vida desta criança, ele nem nasceu ainda e se tornará o centro de uma polêmica enorme, você aceitou isso agora lide com as consequências.

- Quando aceitei isso não imaginei que Marie seria tão impertinente.

- Aparentemente alguém está lidando com consequências do próprio ato, que fantástico. - sorri debochada para o rapaz, que em resposta revirou os olhos.

- Parece um bom plano.

— Em um conto de fadas? Sim. Na vida real? Não.

— O que eu faço agora coração? Não foi exatamente assim que me imaginei sendo pai.

- Aparentemente somos iguais Paulo.

Ele se virou para Rosalina. A bebê estava lambuzada com a papinha, mas sua concentração era no desenho da televisão. Como aquele serzinho podia se entreter tanto com um simples desenho?

- Acredite, quando se der conta já estará amando o bebê.

- Jacob.

- O que?

- O nome dele vai ser Jacob.

- Nome bonito.

- Era o nome do pai de Sofia, ela quis homenagear. - sorri para ele.

— Ainda se lembra?

- Me lembro de muita coisa Paulo, seja mais específico.

- O nome que escolhemos para nossos filhos.

Sorrimos. Eu lembrava muito bem, tivemos aquela conversa enquanto estávamos deitados em sua cama.
Era uma lembrança viva em minha mente, sonhava com aquela conversa durante toda a gestação de Majo.

- Marcelina e Matteo.

- Foi a primeira vez que concordamos rapidamente.

- Primeira e única. - rimos.

- Quando foi que erramos?

- Não sei Paulo. - suspirei - Eu não sei.

- Acho melhor eu ir, vocês duas parecem estar cansadas. - ele se levantou, depositou um beijo na testa de Rosalina e depois em mim. - Nos vemos amanhã. - assenti, vendo-o sair do apartamento.

- Vem Rosalina, você precisa urgentemente de um banho.

A garotinha me olhou, seus olhos brilhavam. Seus bracinhos se ergueram em um pedido silencioso por colo.

De repente mãe - PAULICIA Onde histórias criam vida. Descubra agora