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— Podemos conversar? - Paulo levantou os olhos de seus papéis para mim, estava surpreso.

- Claro, aconteceu algo? - sentei-me de frente para ele, tomando fôlego.

- Não exatamente. - o modelo me encarou, esperando que eu continuasse - Quando te pedi para ir embora pela primeira vez, doeu, e muito, mas algo em mim dizia que era o certo, a segunda, eu nem precisei sentir, você permaneceu aqui. Mas agora...

-Agora..?

- Eu não sei Paulo, não consigo apenas... te deixar ir.

— E o que você quer Alicia? Que eu me sente nesta cadeira, e espere você decidir o que quer fazer? Que eu espere você me chamar de volta? — seu tom neutro me fez gelar, odiava quando ele o usava, nunca conseguia interpretar ele.

- Não, eu não...

— Fala Alicia, o que lhe trouxe aqui?

Respirei fundo. Nem eu sabia o que fazia ali, poderia pedir para que ficasse na minha vida, que me amasse, mas não conseguia dizer em alto e bom som. Suplicar amor é humilhante e nenhum ser humano devia se humilhar a tal ato, porém, ainda assim, eu queria me humilhar naquele momento.

— Eu não sei. - Paulo olhou o relógio em seu pulso.

- Certo, tem duas horas para pensar, até meu turno acabar.

- É dez da manhã Paulo.

- Duas horas Gusman.

- Esquece que estivesse aqui. - Paulo riu, olhei para ele confusa - Qual a graça?

- Você.

— Como?

— Não é difícil dizer o que sente, ou pensa, apenas fale.

- Para você é fácil.

A porta se abriu em um baque.

- Desculpa interromper. - Alex falou - Seu pai solicita sua presença, senhor Guerra.

Paulo se levantou, organizou rapidamente os papéis em sua mesa.

- Vejo você lá em cima, daqui a duas horas.

Encarei confusa o modelo sair da sala junto com Alex.

(...)

— Eu não sei o que significa Bibi. - revirei os olhos, mesmo que ela não pudesse ver.

- Como não? Alicia Gusman, você tem que saber.

Depois de ser deixada na sala do Guerra mais novo, acabei voltando para minha e liguei para Bibi.

A fala de Paulo ainda rondava minha mente, não fazia ideia do que ele se referia.

— Acontece que eu não sei. - suspirei cansada, minha mesa estava uma bagunça, diversos desenhos espalhados ali.

- Pense es alguma coisa que seja apenas de vocês.

- Bianca, não temos uma coisa só nossa há anos.

- E o que tinham?

Como um estalo em minha mente.

- A cobertura.

— O que? Que cobertura mulher?

- Nos vemos mais tarde, tchau Bibi.

Desliguei rapidamente, não dando a chance para ela me responder. Chequei o relógio, ainda me restava uma hora e meia até vê-lo. Tentei focar nos papéis em minha mesa, mas não conseguia. Minha mente gritava por ele.

- Isso aí é fumaça? - me assustei ao ouvir a voz de Jorge. Levei o olhar para a porta, aonde o rapaz se encontrava encostado no batente, ele riu - No que está pensando?

— O que faz aqui?

- Me responda primeiro.

— Nos desenhos.

- Ally você não sabe mentir.

- Paulo Guerra, feliz agora?

— O que aconteceu?

— O que faz aqui? - perguntei novamente.

- Trabalho para os Guerra agora, esqueceu?

- Pensei que fosse representar Sofia.

— Sim, é isso que eu estou fazendo. Agora me diga, o que aconteceu?

— Eu mandei ele embora novamente, mas ao que tudo indica, meu coração não aceitou isso dessa vez.

Jorge riu.

— E está esperando o que para ir falar com ele?

- Hora marcada.

- Pensei que fosse vip. - zombou, revirei os olhos. A audácia do ser humano é inacreditável - Quer ajuda com os papéis? - sorri com a sua proposta.

- Eu adoraria.

Jorge se sentou na cadeira em minha frente.

Expliquei para ele o que deveria ser feito, e minutos depois estávamos separando os desenhos, escolhendo os melhores tecidos e cores. A hora passou rapidamente, apenas me dei conta disso quando Alex entrou em minha sala, avisando que a reunião dos Guerra havia acabado, e que eu havia sido liberada mais cedo. Sabia bem quem havia me dado o resto da tarde de folga. Me despedi de Jorge e Alex, segui para a escada de emergência, era a única maneira de chegar lá em cima. Ao abrir a porta, meu coração saltou pela boca, minha mente se perdeu em lembranças. Aquele lugar era completamente nostálgico para mim. E como esperado, Paulo estava lá. O modelo apreciava a paisagem.

- Pensei que essa área fosse restrita para os funcionários.

Ele não precisou se virar para mim, mas eu sabia que ele estava sorrindo.

— Poderia ter feito uma entrada mais triunfante.

— Desculpa não deu tempo de encomendar elefantes.

- Eu agi por impulso. - confessei - Pensei estar fazendo o certo, mas a verdade é que, eu fiz exatamente o que Marie queria.

- Porque não contou para o Jorge sobre Marie?

- Contou para ele?

- Pensei que ele soubesse.

- Paulo! - respirei fundo, porque ele sempre testava minha paciência? - Quem mais sabe?

- Além de Jorge? Meu pai e Sofia.

- Paulo Guerra, pedi para ficar fora disso.

Ele sorriu, virando-se para mim.

- Sabe que nunca te deixei desprotegida, e não será agora que deixarei.

- Falei que daria um jeito nisso sozinha.

- E olha só onde estamos agora. - revirei os olhos -
O que quer fazer agora?

Encarei ele, estava sério, por mais que eu gostasse de vê-lo daquele modo, aquele não era um bom momento para aprecia-lo.

- Eu não sei. - confessei.

- Coração, você precisa se decidir. Apesar de eu sempre estar aqui, ainda irei me cansar desse vai e volta.

Suspirei. Eu o amava, mas porque era tão difícil pedir para que ficasse comigo? Para que tentássemos algo novamente, porque era tão complicado?

De repente mãe - PAULICIA Onde histórias criam vida. Descubra agora