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O celular vibrando no bolso traseiro da minha calça estava começando a me irritar. Não queria falar com ninguém no momento, já havia avisado Bianca que me atrasaria para voltar hoje, mas que recompensaria no seu salário.

Suspirei ao achar o que tanto procurava. Meus olhos marejavam, estar ali me deixava completamente emotiva. Passei a mão pela sua lapide, Daniel Zapata.

— Oi meu pequeno aviador. — abri um pequeno sorriso - Faz alguns meses que eu não venho te ver, está tudo tão complicado aqui Dani. - suspirei - Eu tenho vontade de desistir de tudo sabe? Jogar tudo pro ar, e apenas me isolar de tudo e todos, porque está dificil Daniel, muito. Mas Rosalina é linda, uma criança fantástica. - sorri - Você seria um pai tão babão, céus, eu passo horas vendo ela dormir e imagino como vocês ficariam babando nela.

Observei um casal jovem passar por mim, o rosto de ambos estava vermelho. Me perguntei quem eles havia perdido. Um filho? Um irmão? Amigo? Como se sentiram naquela situação? Alguns lidavam com as perdas melhores que outros.

— Eu e Paulo estamos tentando de novo, sei o quanto você ficaria feliz e preocupado com isso, mas está tudo bem, eu acho. - suspirei - Me acertei com os meus pais, acho que os anos separados fez bem para a gente.
- mordi o lábio inferior - Eu sinto tanto sua falta
Dani, sinto que as vezes não sei lidar com as coisas sozinhas, e isso é pessimo. Eu sou mãe Daniel, mãe da filha de vocês e eu estou com medo de falhar, eu não posso falhar, mas e inevitável, espero que me entendam.

Cinco anos antes

- Precisamos conversar Ally. - a voz de Daniel preencheu meus ouvidos.

- Claro, sobre o que quer conversar?

Guardei meus esboços pessoais novamente na pasta, aquelas eram minhas peças exclusivas, só minhas.
Observei Daniel se sentar sobre o sofá próximo a mim, suas mãos tremiam, me deixando claro que o assunto era sério.

- Majo está bem? - perguntei rapidamente vendo que a garota ainda não tinha voltado do seu trabalho.

- Sim, está. - suspirou - É sobre mim.

- Pode falar então Dani.

- Fui ao médico algumas semanas atrás, era apenas uma consulta de rotina. - respirou fundo - Sei o quanto odeia enrolação, então vou direto ao ponto, estou com câncer.

- O que? - olhei-o completamento surpresa, eu não esperava por aquilo - Majo já sabe?

- Não, você é a primeira a saber.

— Há chances de cura não é?

- Sim, existe chance.

- Então porque está assim Daniel? Eu te conheço, você sempre vê o lado positivo das coisas, o que não faz vê agora?

- Algo em mim não acredita que sairei dessa.

- Ei não, não, não e não. - levantei-me rapidamente do chão - Não iremos pensar dessa forma ok?

- Ally você sabe que é cinquenta a cinquenta, eu posso morrer.

— Ou você pode se recuperar e viver mais ainda. - suspirei - Iremos pensar positivo, já sabe se é avançado?

- Irei fazer o exame no próximo mês.

- Tudo irá ficar bem Dani, só pense positivo com tudo isso.

- Nossos papéis estão invertidos agora?

- Podemos dizer que sim. - sorri.

- Irei atrás de um banco de Sêmen antes de fazer qualquer outro exame.

- Deixe-me adivinhar, não contará para Majo.

— Se tudo ocorrer bem, ela nunca saberá.

- E se tudo ocorrer mal?

- Pensei que você fosse a positiva hoje.

- Só estou tentando entender sua ideia.

- Se tudo ocorrer mal, Majo ainda terá uma chance de continuar comigo de alga forma, se ela quiser obviamente.

— Não sei se acho esse momento romântico ou se te bato por pensar que algo ruim irá acontecer com você.

- Não vivemos em um conto de fadas Ally, pessoas morrem todos os dias aqui.

- Não é porque pessoas morrem todos os dias que devemos tratar isso como algo normal.

- A única certeza que temos é a morte.

— Sim depois dos oitentas anos devemos esperar por ela, não antes disso.

— Sei que é pedir muito de você, mas você poderia ir comigo? - sorriu - Não quero ir sozinho.

- E perder você ejaculando em um potinho? Nunca. — rimos - Estarei lá apenas se pagar um lanche para mim depois.

- Como quiser.

Daniel me puxou para um abraço, me trazendo uma segurança que minutos eu havia perdido. O que eu faria sem esse homem na minha vida? Daniel era como um irmão mais velho para mim, e eu não existia sem ele. Não queria perdê-lo, mas infelizmente não estava nas minhas mãos protegê-lo ou não.

Atualmente

- Eu falhei com você Daniel, falhei duas vezes já, e estou com medo de falhar a terceira vez. Sei que Paulo dá conta de tudo sozinho, ele sempre foi assim, mas eu - suspirei - Eu não cuidava nem de mim quem dirá de Rosalina. Talvez você esteja me olhando agora e repetindo "você está fazendo um bom trabalho" ao menos eu gosto de pensar que você esteja repetindo isso, me sinto um pouco melhor com isso. Talvez eu esteja no caminho certo, ou então no caminho totalmente errado, eu não sei. So não espero errar tanto com Rosalina, ela é uma criança fantástica que infelizmente não conhecerá os pais incríveis que tinha. Nunca chegarei aos pés de vocês, é impossível chegar, mas tentarei ser o melhor para Rosalina, por mais que alguns dias seja difíceis, espero que não fique bravo comigo por ter contratado Bianca, ela é uma boa pessoa, me lembra muito a Majo. Acho que no final, Rosalina terá uma amostra de como você e Maria foram.

Olhei o pôr do sol em silêncio, eu precisava voltar para casa o quanto antes. Voltei-me para a lápide novamente, passando meus dedos por ela.

— Tenho que ir agora, mas eu volto no próximo mês, eu prometo Daniel.

De repente mãe - PAULICIA Onde histórias criam vida. Descubra agora