No outro, dia Luan acorda com o barulho dos irmãos brincando e Luana arrumando casa enquanto ouvia pagode, estava calor, o rapaz se revira na cama e quando olha o relógio na parede, já são nove horas, sua cabeça doí, ele tem fragmentos de lembranças da noite anterior e se sente horrível por se permitir entrar naquela situação.
Ele se levanta com cara de poucos amigos, passa pela cozinha sem dizer nada e vai tomar um banho, depois ele sai do banheiro, pega um copo com café e um pote com biscoitos e volta para o quarto.
Luan toma café comendo alguns biscoitos enquanto olha fixamente para o chão pensando sobre sua vida, tentando encontrar uma resposta para tudo de ruim que estava acontecendo nos últimos dias, ainda perdido em seus pensamentos olha para o guarda-roupas, se levanta e vai até a última gaveta do móvel, dentro dela encontra uma caixa de sapato cheia de pequenos objetos dos seus falecidos pais.
O rapaz começa a mexer nos objetos da caixa e imediatamente as lagrimas começam a correr por seu rosto, a saudade aperta forte e ele desaba, ele pega um álbum de fotos e começa a folear, ao encontrar uma foto sua ainda bebê nos braços da mãe, Luan toca a fotografia como se pudesse acariciar o rosto da mãe.
_Eu queria você aqui agora, as coisas estão tão complicadas, está doendo tanto aqui mamãe. _Diz Luan, apertando a foto contra o peito enquanto se abraça.
Ele continua mexendo na caixa até encontrar no fundo um envelope de papel, ele abre e encontra alguns documentos que ele nunca havia visto antes.
_Conselho tutelar de Belo Horizonte MG, protocolo para adoção de menores, nome do requerente: Aline Gonçalves Mel, menor assistido pelo programa de adoção: José Limão... O que? _Se pergunta Luan surpreso ao ler as informações do documento.
Ele continua olhando dentro do envelope e encontra alguns recortes de jornais com notícias de uma criança desaparecida, e no último recorte uma matéria de alguns meses antes de seus pais morrerem, mostrando uma foto de Limão preso suspeito de um crime de assassinato.
_Espera, o que significa tudo isso? _Se pergunta o rapaz em choque.
De repente ele se lembra que os pais morreram em um acidente de carro próximo a cidade de Bangu, ele volta ao recorte mais recente onde a notícia dizia que o suspeito foi encaminhado para um presidio na mesma cidade.
Luan pensa por alguns instantes e em seguida sai correndo para a casa de Camila, ele bate na porta insistentemente até que ela é aberta por sua amiga.
_Que porra é essa viado? Eu estava cochilando e tu quase me matou de susto. _Diz Camila.
_Desculpa amiga, mas é urgente, sua mãe ainda mora em São Gonçalo? _Pergunta Luan afobado.
_Sim amigo, mas por quê?
_Liga pra ela por favor, diz que tô indo lá, depois te conto tudo. _Diz Luan voltando correndo para casa em seguida, Camila fica da varanda sem entender nada.
Algumas horas depois o rapaz chega em São Gonçalo, ele caminha por uma rua tranquila de calçamento de pedra e casinhas coloridas, segue até a casa número 82 e aperta a campainha, instantes depois uma senhora aparece no portão, com seus sessenta e cinco anos, cabelos vermelhos e óculos de grau, a conhecida Dona Marta recebe Luan com um enorme sorriso.
_Luzinho meu filho, a quanto tempo. _Diz Marta o abraçando.
_Oi tia Marta, já faz muito tempo que ninguém me chama por esse apelido. _Diz Luan, constrangido.
_Você está tão bonito, como tem passado? Tá se alimentando direito? E as crianças? Por que não trouxe elas? _Pergunta Marta eufórica.
_Estamos todos bem, eu vim tratar de um assunto sério tia, por isso não trouxe eles. _Diz Luan com o semblante sério.
_Entre, vamos conversar lá dentro, está tão quente hoje.
Os dois adentram a casa, Luan olha ao redor, estava tudo exatamente como ele se lembrava, o velho Gol bolinha na garagem dividindo espaço com uma infinidade de plantas, e o sofá com forro de "fuxico" feito pela própria Marta, ele se senta enquanto a senhora vai até a cozinha buscar alguns biscoitos e café.
_Aqui meu querido, fique a vontade.
_Obrigado tia.
_Então, o que te trouxe aqui? Você parece tão preocupado. _Pergunta Marta.
_Tia, você foi conselheira tutelar junto com a minha mãe, não foi? _Pergunta Luan.
_Sim, nós trabalhamos juntas em Minas, depois eu me mudei para cá para trabalhar como professora e ela veio com vocês alguns anos depois, por quê?
_Entendo, o que a senhora sabe sobre isso? _Pergunta Luan, retirando um envelope de papel da mochila e entregando a Marta, ela abre o envelope e observa os papeis por alguns instantes.
_Ah sim! Eu me lembro, sua mãe passou anos obcecada por esse rapaz, acho que ela se sentiu responsável pelo que aconteceu com ele.
_O que aconteceu?
_Eu não sei os detalhes todos, mas a Aline me disse que ele era filho de uma drogada que vivia nas ruas e foi parar em um orfanato, pobre garoto, de alguma forma ele se envolveu no assassinato de um padre e desapareceu em seguida, ela o procurou por anos. _Conta Marta, olhando os recortes de jornal.
_Assassinato? _Pergunta Luan surpreso.
_Chocante, não é? E pensar que ele tinha apenas oito ou nove anos.
_E minha mãe queria adotar ele?
_Sim, Aline ficou obcecada por esse garoto, ela sempre dizia que ele merecia ter uma vida feliz, uma família, sempre chorava ao falar dele, muitos anos depois, mesmo ele já adulto, ela soube que esse rapaz estava aqui e se mudou para cá, o louco do seu pai sempre apoiou ela. _Conta Marta.
_Ela chegou a encontrar com ele?
_Não, coitada ela estava indo atrás dele em um presidio em Bangu quando sofreu aquele acidente horrível, sabe Luzinho, sua mãe era um anjo, mesmo ele sendo um criminoso perigoso ela não desistiu dele, é realmente uma pena que não tenha o encontrado antes, talvez ela estivesse viva e ele estivesse melhor. _Relembra Marta se emocionando.
_Entendo.
_Por que quer saber disso agora?
_Nada especial, eu encontrei esses papeis e fiquei curioso. _Diz Luan
_Tudo bem, mas olha, se você encontrar esse rapaz fuja dele, pode ser perigoso. _Alerta Marta.
Luan faz um sinal positivo com a cabeça enquanto se encolhe no sofá exibindo um sorriso amarelo.
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Limão doce; amor e sangue. (Romance gay)
RomanceConheça a história de José Limão, mais conhecido nas ruas do Rio de Janeiro apenas como "Limão". Traficante, violento, instável e preconceituoso, Limão vive intensamente, carregando na bagagem os traumas de sua vida infeliz, enquanto se autodestr...