Passado de dor.

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  Algum tempo depois eles chegam a casa de Luan, Limão havia parado em uma barraca e comprado salgados e dois copos de uma bebida muito popular a base de guaraná, Luan o convida para entrar.

Os dois se sentam na cama e começam a comer, em silêncio, Luan estava cada vez mais tímido e inseguro, já Limão não tinha a menor ideia do que devia fazer.

_Posso te perguntar uma coisa? _Pergunta Luan com a voz rouca e sem olhar diretamente para Limão.

_Tu quer saber do meu passado, não é?

_Sim! Quero saber quem você é.

_Essa fita aí é pesada, não quero que tu fique com peninha de mim. _Diz Limão, acendendo um cigarro.

_Eu preciso saber quem é você, por favor! _Pede Luan, segurando a mão do mais velho.

_Eu sou de Minas, vivi em BH com a minha vó, minha mãe era uma drogada, vivia na rua, meu pai eu vi só uma vez, era um escroto do caralho... quando a minha vó morreu fui para as ruas, mas o conselho tutelar me pegou e me colocou no orfanato...

_O que houve lá? _Pergunta Luan, percebendo que Limão ficou com uma expressão assustadora enquanto segurava com força o edredom.

_Eu fui... abusado por um puto de um padre, eu tinha oito anos. _Diz Limão, olhando fixamente para o espelho.

_Nossa, que horrível!... e o que aconteceu depois. _Pergunta Luan, que logo em seguida se assusta com a gargalhada de Limão.

_Eu matei o desgraçado, só na base da tesourada, agora ele já tá no inferno. _Responde Limão, enquanto gargalhava se lembrando do corpo do padre ensanguentado sobre a cama.

_Quantas pessoas você matou? _Pergunta Luan, já com medo da resposta.

_Quatro, o padre, um velho que me bateu quando tentei roubar um pão e um play boy que botou fogo em um parça meu que dormia na rua, os dois matei aos quatorze, o último foi com dezenove, um palhaço que tentou me foder na cadeia, esse aí morreu feio. _Diz Limão.

_Então todos foram tipo que legitima defesa?

_O engraçado é que todos eles me olharam da mesma forma quando viram que iam morrer, como se pedissem por misericórdia, malditos, só de lembrar desse olhar já me dá ódio pra caralho.

_Você viveu esse tempo todo sem uma família? Sozinho? _Pergunta Luan.

_Eu sempre fui sozinho, morei na rua muito tempo, fazia pequenos trabalhos em troca de comida, quando não conseguia nada eu roubava, me bateram várias vezes na rua, uma vez fiquei dois dias sem comer nada, sentado debaixo de um viaduto, choveu a noite toda, eu sentia muito frio, chorei chamando pela minha vó, eu pensei que ia morrer, mas no outro dia tive que ir atrás da vida de novo, ...sempre sozinho. _Relembra Limão, não conseguindo mais segurar as lágrimas.

_Quantos anos você tinha?

_Doze.

  Limão se vira para Luan e o olhar do rapaz faz o mais novo se derreter, pela primeira vez ele viu lágrimas correndo pelo rosto do homem que tanto o havia feito chorar, mas foi impossível para Luan não se comover, Limão encarava com o mesmo olhar de uma criança chorosa prestes a pedir socorro.

  Luan se aproxima lentamente engatinhando sobre a cama e se senta atrás do outro o abraçando, aquela era uma visão surpreendente e assustadora para ele, Limão estava realmente vulnerável, quando é abraçado ele se curva um pouco para frente e chora copiosamente.

_Você nunca teve um parente, um lugar para voltar? _Pergunta Luan, praticamente em sussurros.

_Não, quer dizer, quando fugi um casal de velhos quis me adotar, mas depois daquele padre maldito nunca mais confiei em ninguém... as vezes ainda me pergunto, se eles ainda estão esperando por mim.

_Eu lamento muito por tudo o que aconteceu com você. _Diz Luan, colocando o queixo sobre o ombro do outro.

_Eu tô ligado que sou horrível hoje, mas eu merecia tudo isso quando eu era menor? O que eu fiz pra passar por tudo isso? Quem eu machuquei pra ter que ser rejeitado e abusado? Você disse que eu não merecia ser amado, mas será que eu nunca mereci?

  Depois de ouvir essas palavras Luan se levanta e vai até a gaveta do armário, pegando o envelope com os papeis de sua mãe e entregando para Limão, o rapaz abre o envelope e começa a olhar os papeis.

_O que é isso? _Pergunta Limão, olhando para Luan, confuso e tremendo.

_Essa é a minha mãe, o nome dela é Aline, foi ela que levou você para o orfanato.

_Que? _Limão praticamente grita dentro do quarto ao ouvir aquilo.

_Ela te deixou no orfanato e foi correr atrás da papelada, ela queria adotar você José, depois que você sumiu ela passou anos te procurando, nos mudamos para cá para que ela pudesse encontrar você, mesmo sabendo que tu era um criminoso ela sempre quis te ajudar... quando ela soube que tu estava preso ela foi até lá, mas infelizmente ela morreu no meio do caminho. _Explica Luan, praticamente soluçando em meio as lágrimas.

_O que quer dizer tudo isso? Eu não tô entendendo nada. _Pergunta Limão, olhando para Luan, apavorado e confuso.

_Quer dizer que esse tempo todo tinha alguém procurando você, tu sempre teve um lar, uma família, essa família. _Responde Luan, com um sorriso.

_Mas ela morreu, não foi? Eu sempre odiei ela por ter me levado pra aquele lugar, agora tu me diz que ela passou uma cota me procurando, e morreu tentando me achar? _Pergunta Limão, ainda mais confuso e sentindo um forte aperto no peito.

_Ela não morreu tentando te encontrar, ela morreu em um acidente indo buscar o filho dela que estava perdido a tanto tempo, ela te amou e te esperou todo esse tempo José. _Diz Luan, se aproximando e segurando o rosto do mais velho.

_Então, esse tempo todo, eu tinha alguém por mim? _Pergunta Limão.

_Ainda tem, minha mãe não está mais aqui, mas essa família sempre esperou por você, eu ainda não perdoei o que você fez, mas você vai ser sempre bem-vindo aqui, se não causar problemas, é claro. _Responde Luan, com um sorriso simpático.

Nesse momento Limão fecha os olhos por um instante e em seguida se agarra ao Luan e começa a chorar aos berros, como se estivesse se livrando de uma dor da qual sofria a anos, ele chorou por horas abraçado a Luan, até cair no sono.

... 

Limão doce; amor e sangue.     (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora