Confissão

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  No fim da tarde, Limão estava sentado no alto de uma escadaria supervisionando a venda de drogas de um dos pontos da região, sete pessoas estavam espalhadas vendendo pela rua abaixo, entre adultos e adolescentes, Limão os observa enquanto fuma um baseado.

  As mães retornavam com suas crianças da escola, alguns deles sempre abordavam o rapaz pedindo alguns trocados, com seu jeito turrão ele sempre dava a elas algum dinheiro, em troca de uma cobrança a respeito da frequência na escola, troca que Limão sempre encerrava com um carinho nas cabeças das crianças.

  A muitos dias Limão não consegue parar de pensar em Luan, o tempo todo, ele sempre fica andando de moto pelas ruas quase toda noite, sempre bebendo e fumando, no rosto uma expressão cansada, exausto, ele precisa muito desabafar, mas olhando ao redor ele não encontra ninguém que pudesse o ouvir.

  De repente Limão tem uma ideia, ele se levanta e desce as escadas, sobe em sua moto e como sempre parte em alta velocidade, ele segue até a igreja católica mais próxima, desce da moto e fica alguns instantes olhando para dentro, o padre conversava com algumas pessoas enquanto algumas poucas rezavam, ele balança a cabeça negativamente e se vira para ir embora, mas por impulso retorna e adentra o local.

  Todos na igreja se espantam ao ver Limão entrando de bermuda e com a camisa pendurada no ombro isso sem contar sua boa companheira de luta na cintura, o padre olha fixamente para ele enquanto o rapaz se aproxima e os fiéis se afastam.

_Boa noite meu filho, em que posso te ajudar? _Pergunta o padre.

Limão fica em silêncio encarando o padre com uma expressão assustadora.

_Venha comigo, vamos conversar lá dentro.

O padre leva Limão até uma pequena sala, em seguida ele entra na porta ao lado ficando dentro da cabine do confessionário.

_Que Deus o abençoe meu filho, o que lhe aflige?

_Eu odeio padres, já até matei um. _Diz Limão.

_Hum, e você se arrepende disso? _Pergunta o padre, sem se deixar intimidar.

_Era um filho da puta. _Responde seco.

_Bom, eu não sou um filho da puta, por isso acho que você não veio me matar, não é?

_Não!

_Se não veio se arrepender ou confessar, acredito que queria um conselho, está com problemas? Gostando de alguém? _Pergunta o padre, pacientemente.

_Essa parada aí. _responde Limão olhando para o chão.

_E por que gostar de alguém o aflige? A não ser que essa pessoa não goste de você, essa moça incrível gosta de você?

Limão continua olhando para o chão enquanto suas pernas tremiam e ele se preparava pra sair correndo, o padre o observa atentamente.

_Ou... seria um rapaz?

_Eu vou embora! _Diz Limão, se levantando imediatamente.

_Espere! Se acalme meu filho. _Pede o padre.

  Limão para e fica um tempo olhando para a saída, ele aperta seus punhos com força, mas de repente ele respira fundo e começa a se acalmar.

_Não vai me julgar? _Pergunta Limão olhando para trás de relance.

  O padre se levanta e sai de onde estava indo até Limão, ele aponta para a cadeira, sinalizando para que o rapaz se sente, Limão olha para ele desconfiado, mas obedece.

_Esse não é um lugar para julgamentos rapaz, aqui as pessoas vêm em busca de perdão, de ajuda e cura espiritual, conforto e principalmente se arrepender, você se arrepende de amar esse rapaz? _Pergunta o padre.

_Um pouco, eu não sei se isso é certo e...

_Porque seria errado amar uma pessoa, olha meu filho, eu imagino que você já tenha cometido muitos erros na vida, eu não deveria dizer isso como padre, por isso vim aqui como um amigo, mas gostar desse rapaz talvez seja uma das melhores coisas que você já fez na vida. _Diz o padre, tocando o ombro do Limão.

_Eu não sei, acho que tô com ...medo.

_Do que exatamente você tem medo? Do que os outros vão falar? Da rejeição?

_Dos dois, tá ligado padre? Eu fico pensando no que os cria vão falar, mas nem é isso que pega tanto. _Diz Limão, balançando na cadeira como uma criança.

_Ele gosta de você?

_Sim! Ele é doido comigo, e mexeu muito comigo, eu fiz muita merda, fodi com tudo, agora ele me odeia, e eu não consigo nem dormir a noite mais... Eu... eu costumo ter pesadelos a noite, sempre que durmo sozinho acordo apavorado, mas com ele eu sempre dormia em paz. _Explica Limão dando uns leves tapas na cabeça.

_Se você fez algo ruim precisa pedir perdão a ele, e se perdoar.

_E se ele não me perdoar? Não me quiser? _Pergunta Limão, olhando nos olhos do padre.

_Aí você senta e chora. _Responde o padre, rindo em seguida.

_Tá me tirando? _Pergunta Limão, fechando a cara imediatamente.

_Se ele não te perdoar, não te aceitar, não há nada que você possa fazer, não tem como sair impunes do que fazemos meu rapaz, e as pessoas que magoamos não tem obrigação de nos perdoar.

_E o que eu devo fazer? _Pergunta Limão, já sem esperanças.

_Antes de ir até ele, precisa decidir o que quer, se ele não sentir segurança em você jamais vai te aceitar, se você o ama, se torne melhor por ele.

  Limão ouve tudo atentamente e fica refletindo por alguns instantes em silêncio.

_Tô ligado, acho que entendi, ...Qual o seu nome padre?

_Augusto. _Responde o padre, com um sorriso simpático.

  Muito conhecido na comunidade, padre Augusto é um senhor de sessenta anos, pardo e calvo, com uma barriguinha sobressalente, está sempre sorrindo e cuidando das pessoas que o procuram.

_Valeu padre, só fortalece! _Diz Limão se levantando e apertando a mão do padre.

_Espero que você venha mais vezes, e traga esse rapaz. _Diz o padre, antes do Limão sair em disparada, o senhor vai até a porta, mas quando chega Limão já partia em sua moto, enquanto os fiéis estavam confusos e com medo, o padre ria sozinho na porta da igreja. _Ai,ai esses jovens.

... 

Limão doce; amor e sangue.     (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora