Capítulo 2

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Acordo bem cedo. A primeira coisa que faço é desfazer as minhas malas. Tiro roupas, livros e armas. Tenho uma mala especial cheia delas. Pistolas, adagas e outros acessórios, criados exclusivamente para lidar com criaturas mágicas. A minha profissão requer isso, nunca saio de casa sem elas. A prudência é fundamental neste ramo, pois nunca se sabe em quem se pode confiar. Já ouvi relatos de colegas meus que deixariam arrepiados os cabelos de qualquer um. Planejo, um dia, escrever um livro sobre o assunto. Quero que meu conhecimento e minha experiência ajudem outras pessoas algum dia.

Após desfazer as malas, desço para o restaurante que fica no andar de baixo, para tomar o meu café da manhã. Tomo um bom café com pão, enquanto leio um jornal que comprei de um menino que os oferecia aos pedestres na frente da pousada. Após isso, resolvi coletar informações com moradores locais. É incrível as informações que você consegue numa roda de conversa; descubro, através de um grupo de senhores, que só no mês passado, ouvi mais de 10 mortes registradas. E todos os cadáveres apresentavam as mesmas características: todos aparentavam ter sido mortos por uma fera, ou foram decepados violentamente. E todos — sem exceção — morreram à noite, em época de lua cheia.

Segundo o que me disseram, os habitantes estão divididos sobre quem pode ser o causador. Alguns dizem ser obra de onças, outros — O prefeito e a polícia local — dizem ser um novo bando de cangaceiros, mas a maioria está convicta de que se trata de um lobisomem, ou algo do gênero. Penso sobre isso quando encontro Jônatas, sentado em uma mesa no canto, tomando seu café. Me juntei a ele para discutir algumas questões.

— Ah, bom dia, Heitor. Já ia atrás de você.

— Acordei bem cedo e fui atrás de pistas — falei.

— E descobriu algo?

— Sim, mas ainda preciso de mais informações. Pelo menos temos um norte. Eu estava conversando com moradores locais e coletei algumas informações sobre as vítimas. Até onde me contaram, as pessoas não têm nenhuma ligação aparente, além de serem conhecidas umas das outras, nada mais que isso. Elas morreram em pontos diferentes, algumas na cidade, já outras em lugares mais afastados, como alguns vaqueiros que morreram próximos a uma fazenda a 5 quilômetros daqui, mas vamos focar nos que morreram na cidade, por enquanto. A última vítima foi uma mulher de 20 anos chamada Clara, encontrada morta num beco próximo de sua casa. Vizinhos a ouviram gritar e, quando chegaram ao local, a encontraram caída numa poça de sangue. Era uma jovem bonita, de família, conhecida por todos e estava noiva, mas o seu pretendente não estava na cidade no momento. Viajou a trabalho. Ela morava aqui perto, acho que seria um ótimo jeito de começarmos interrogando a sua família. Mas antes tome o seu café.

A casa da finada Clara fica próxima à saída da cidade, perto do fim da rua de pedra, que termina numa longa estrada de terra, que se estende por vários quilômetros. A casa da vítima é pequena e humilde. A frente é pintada de branco e a moradia é grudada às casas vizinhas. Nos aproximamos e batemos na porta. Quem nos recebe é uma

mulher de uns 40 anos, magricela, vestida com roupas simples, de aparência frágil e de pouca saúde. Tem grandes olheiras em seus olhos, que estão inchados. Provavelmente, de tanto chorar. Quando nos ver, arqueia as sobrancelhas.

— Posso ajudar? — diz ela.

— Bom dia, senhora. Me chamo Heitor e esse aqui é o meu ajudante, Jônatas. Somos detetives particulares e estamos investigando as mortes que vêm acontecendo. Nós soubemos que a sua filha foi assassinada há algum tempo e, se estiver disposta, gostaríamos de um depoimento seu.

Já havia conversado com Jônatas, enquanto caminhávamos, a respeito disso. Era melhor nos declararmos como "detetives particulares." Pois seria mais fácil de cooperarem do que nós termos que explicar as nossas verdadeiras profissões e o real motivo de estarmos aqui.

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