Capítulo 13

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Era só o que me faltava! O que raios eles querem agora? Vou até a sala falar ao telefone.

— Sim, Luís. Pode falar.

— Alô Heitor? Graças a Deus, estamos procurando os senhores. Está quase anoitecendo e não temos uma pista sequer do nosso lobo, mas e vocês? Tem alguma novidade?

— Nada muito relevante. Estamos acabando de interrogar os funcionários da Bom Lugar. Depois iremos à cidade investigar outras pessoas.

— É incrível como este lugar sempre está envolvido, de alguma forma, com os lobisomens! Mas, enfim, se quiserem posso ir aí buscar vocês, para juntos irmos interrogar novos suspeitos.

— Não será necessário, já estamos quase acabando e o Matias vai nos dar uma carona.

— Está bem, mas não demorem, temos muito trabalho a fazer e decretamos um toque de recolher. As 18h não haverá uma alma viva nas ruas. Sabe, acho que precisaremos de mais homens. Estava conversando com o prefeito. Ele me mandou chamar reforço na cidade vizinha e disse que pediria ajuda ao governador. Não sei como ele vai convencê-los da existência de lobisomens, mas talvez ele conte com a sua ajuda, já que você aparenta ser influente nesse assunto. De qualquer forma, conversamos mais tarde, tenho uns suspeitos para interrogar.

Desligo o telefone e volto a biblioteca.

— O que ele queria?

— Ele está nos procurando. Deve querer ajuda para achar o suspeito. Afinal, você sabe como a polícia é incompetente por aqui. Mas não podemos ir agora, Jônatas. Não até termos certeza de que Francisco esteja bem acorrentado.

— Ah, que bom. Achei que havia acontecido algo na cidade.

— Ainda não, mas quem sabe à noite o nosso amiguinho apronte algo.

— Eu não entendo — comenta Edna — O que essa criatura quer com tudo isso?

— Talvez seja o seu instinto assassino. Vai ver a criatura tenha prazer em matar — após dizer isso. Jônatas, olha de relance para Francisco, ao perceber que ele não gostou em nada do comentário.

— Querem saber a minha opinião? Pode ter a ver com o desejo de matar, mas acredito que este não seja o objetivo principal da criatura.

— E o que seria? — pergunta Francisco. — Pois não é o que o episódio na festa junina mostra.

— Em minha opinião, o objetivo da fera não é matar propriamente. Mas, sim, criar novos lobisomens!

— O quê? Mas por quê? Ele estaria tentando fazer uma alcateia que nem os lobos, é isso?

— Você captou muito bem a minha hipótese. — falo para Francisco.

— Pensei a respeito depois que vi tantas pessoas mordidas na praça. Muitas foram apenas mordidas, mesmo com o lobisomem podendo dilacerá-las, elas foram apenas mordidas.

— Tá querendo dizer que ele, seja quem for, que formar um exército de lobisomens! — fala Jônatas assustado.

— Isso mesmo! — respondo — Já imaginaram uma epidemia desses bichos!

— Seria uma chacina — diz Jônatas.

— E se existe mais um, podem existir vários... — diz Edna. — Mas os amaldiçoados foram mortos, não é?

— Então hoje à noite ele terá que fazer mais vítimas. — Fala Jônatas.

— Que droga! Vocês não devem perder seu tempo comigo. Vão para a cidade eles precisam mais de vocês.

— Calma Francisco. A cidade não fica tão longe daqui e queremos estar presentes na hora da transformação. De qualquer forma, comunicarei as minhas preocupações para com o delegado. Com licença.

18h30. Trouxemos Francisco para a senzala. Realmente — Assim como Edna disse — o lugar carrega um clima pesado! É claustrofóbico, escuro e fedorento. As paredes são feitas de tijolos bem resistentes. Há reboco descascado por todos os cantos. O chão é de terra batida e o lugar cheira a mofo. Mas, felizmente, temos o que precisamos. Pegamos as correntes, as prendemos nos punhos, tornozelos, cintura e pescoço de Francisco. Também usamos a focinheira. Ela evita que ele morda ou uive. Olho para as paredes, há marcas de garras pelos cantos. Será que um dia o Senhor Horácio conseguiu se libertar?

Está tudo quase pronto. Agora só nos resta espera. Sinceramente, espero que não demore muito, isso vária de pessoa para pessoa. Algumas conseguem se transformar assim que anoitece, já outras quando o sol está quase para nascer. Só espero que as correntes aguentem, pois já estão há um bom tempo sem uso. De qualquer forma, Francisco me deu a ordem: se tudo der errado eu deveria pôr um fim em seu sofrimento.

— Está quase na hora. — Digo — Se prepare, Edna, com o que vai ver a partir de agora. Pode ser um pouco forte para você.

Ela balança a cabeça em sinal de confirmação.

— A lua cheia já se ergueu no céu — avisa, Jônatas.

“AHHHH!!!...” Os gritos começam a ser ouvidos. Ele começa a se contorcer e os seus olhos brilham, adquirindo uma coloração amarelada. Ele tenta quebrar as correntes, mas não consegue. Elas devem estar o incomodando, já que seu corpo começa a aumentar de tamanho. De sua boca saem sons bestiais, que aterrorizam a sua esposa, ela começa a dar gritos e tapa os ouvidos.

— Eu não consigo ver isso. — diz ela, e corre para fora.

Penso em segui-la, mas desisto dá ideia, pois não resta muito o que fazer, além de ver a transformação. Por segurança, aponto a minha arma para ele. No caso de a corrente não aguentar. Mas no fim a transição é completada com sucesso. E Ele se torna apenas uma fera irracional.

— Pode vir agora, Edna. Ela entra receosa na sala e separa os lábios, mas não fala nada. Apenas fica o admirando, pois deve ser a primeira vez que ver uma criatura dessas de perto.

— Bem, deu certo. As correntes aguentaram — digo, positivamente — Jônatas, andei pensando e acho que seria prudente você ficar por aqui, enquanto vou para a cidade. Assim, Edna se sentiria mais segura.

— Concordo — responde ele. — Ótimo, Edna posso pegar seu carro emprestado para...

Cesso de falar, quando vejo Maria entra no recinto, meio nervoso. Ela pensar em falar algo, mas sua atenção se volta completamente ao estado de seu patrão.

— Algum problema? — Pergunto. Ela confirma com a cabeça e volta seus olhos a mim.

— Tem alguém na casa — diz, quase sussurrando. Nos entreolhamos.

— Pode ser algum empregado — diz Jônatas.

— Não, pois dispensei todos. — Fala Edna.

— Vim correndo até aqui, mas acho que eles não me viram.

— Não tenha tanta certeza, Maria.

Fala, na soleira da porta, uma voz conhecida.

Serra do CondeOnde histórias criam vida. Descubra agora