Capítulo 5

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Como prometido, Francisco conseguiu marcar uma reunião com o prefeito e o delegado. Estamos no escritório da prefeitura, cara a cara — eu, Jônatas e Francisco — com o prefeito, Euclides, e o delegado, Luiz, que está de pé ao seu lado.

— Então, os senhores devem ser os homens de quem Isaque falou. — Disse o prefeito.

Ele é um homem de uns 40 anos, pançudo e bigodudo. Ao contrário do delegado, que é mais jovem, possui ombros largos, barba e um pequeno bigode bem aparado. A única característica parecida entre os dois é a desconfiança que ambos têm por nós.

— Ah, então conhece o meu amigo, Isaque?

— Conheço, é um ótimo sujeito, sempre ganha de mim no dominó e no xadrez, mas não me surpreende, inteligência nunca foi meu forte, ao contrário dele, que comia livros, enquanto eu matava aula pulando o muro da escola — ele colocou as mãos na barriga e soltou uma gargalha — Bons tempos... Se fosse outra pessoa que puxasse esse tipo de papo comigo, eu já o teria mandado para a baixa da égua! Mas então? O que tem a me dizer?

— Fomos enviados a mando do seu amigo e pelo curto período que estivemos aqui descobrimos pistas consideráveis. Realmente estamos lindando com um amaldiçoado e podemos pegá-lo. Sei que são um pouco céticos a respeito do que está acontecendo, mas temos provas concretas de que lobisomens existem.

— Eu duvido muito — falou o delegado, com os braços cruzados — como vamos saber que estes homens não são dois vigaristas! — disse para Euclides — Francamente, senhor prefeito, vamos dar palco para uma história da carochinha como essa?

— E como você explica os relatos e as mortes que aconteceram próximas de minha propriedade? — questionou Francisco.

— Simples, o povo ama inventar historinhas como essa e estou convicto de que as mortes se deram por um ataque de bandidos. Podemos até estar lindando com um novo bando de cangaceiros!

— Ah, por favor! — disse Francisco — O cangaço está extinto. Desde que Lampião morreu, nunca mais foi o mesmo.

— Se o senhor quer uma prova de que lobisomens existem — comecei — aqui está — disse, fazendo sinal para Jônatas.

De sua mala, ele tirou fotos coletadas de minhas antigas aventuras: eram fotografias de corpos em processo de transformação; já outras mostravam uma imagem da criatura de corpo inteiro, de várias espécies diferentes de lobisomens.

Os dois homens arregalaram os olhos e se inclinaram para a frente.

— Como podem ver, temos experiência no assunto — falei.

— Uma foto vale mais do que mil palavras — comentou Jônatas.

— E caso não acreditem, trouxe esse documento.

— O que é isso?

Perguntou Luiz.

— É uma autorização que ganhei do governador de Sergipe para caçar lobisomens. Podem ver que é a assinatura dele.

Os dois ficaram nos encarando de boca aberta. 

***

O prefeito resolveu nos dar um voto de confiança e prometeu nos ajudar no que estivesse ao seu alcance. Pedimos ajuda da polícia e um meio de transporte. O que não agradou o delegado Luiz. Para uma autoridade, ele é um homem bem medroso quando se trata de lobisomens, mas concordou em nos ajudar. O prefeito disponibilizou a viatura da polícia para que pudéssemos transitar por aí. Assim, Poderíamos chegar mais rápido a Fazenda bom lugar, o nosso alvo principal, para encontrar o nosso amigo peludo.

Olho para as minhas anotações escritas a caneta. Quem sabe um dia esses rabiscos virem um livro, falo para mim mesmo. Em seguida, pela janela, olho para o céu limpo. Amanhã é noite de lua cheia, nesses dias tudo pode acontecer... Desligo o abajur e vou para a cama.

Serra do CondeOnde histórias criam vida. Descubra agora