Capítulo 3

4 3 0
                                    


— Tem certeza de que pode dirigir?

— Claro que tenho, preciso de muito mais que essa cervejinha para ficar chapado.

— Eu duvido muito — falou Jônatas, cochichando.

Entramos no carro e vamos em direção à saída da cidade.

Não é muito longe, mas a estrada de terra possui um excesso de buracos, tornando a viagem um pouco desagradável. Uma grande nuvem de poeira seguia o carro por onde quer que fosse. Pela janela, podemos ver morros e planícies do semiárido nordestino. Grandes pedregulhos e mato seco são vistos ao redor, junto dos mandacarus dispersados pelo horizonte. De vez em quando, no caminho, avistávamos solitárias casas, com os seus terreiros limpos e arrodeados por cercas feitas de varas ou cactos.

— Desde pequeno, ouvia causos de lobisomens — Francisco começou a dizer enquanto tentava desviar dos buracos. — Meu pai contava que o meu tataravô era um. Ele adquiriu a maldição por ser o sétimo filho. Coitado! Não deu outra.

Não sei se a história que ele conta é verdadeira. Até hoje, não achamos nada que comprove a lenda do sétimo filho, mas, claro, pode haver possibilidades. Só porque não foi descoberto, não quer dizer que não exista.

— Você disse no bar que ouviu uivos à noite. Quando foi isso?

— Lembro que foi há alguns dias, depois da primeira morte, muita gente os ouviu. Quanto tempo faz mesmo? Ah, sim! Acho que faz uns 3 meses. Desde então, todo tipo de desgraça está acontecendo.

Eu ia falar, mas Francisco freou bruscamente o carro, nos fazendo colidir com as costas do banco da frente.

— O que aconteceu?! — perguntou Jônatas.

— Quase ia me esquecendo. Foi aqui que aconteceu. Foi bem ali que os encontramos. Disse ele e saiu do carro, após a poeira baixar. Nós o seguimos.

O lugar fica fora da estrada, é uma pequena clareira entre as árvores e há muita vegetação seca ao redor.

— Precisavam ver, havia membros decepados por todos os cantos!

— É uma criatura muito forte — sugeri Jônatas enquanto faz cara feia para o sol — Faria mais sentido a criatura ser um amaldiçoado veterano, como falávamos na faculdade, senhor Heitor.

— Faz sentido também, ou talvez apenas estivesse descontrolado... Poderíamos falar com os seus empregados?

— Acha que algum deles pode ser o bicho?

— Quem sabe — falo dando de ombros — Qualquer um pode ser. 

Serra do CondeOnde histórias criam vida. Descubra agora