Capítulo 9

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O delegado Luiz chega finalmente com seus homens e tenta pôr ordem na situação. No fim das contas, a rede não foi necessária. Mas só há uma coisa que não entendo, por que diabos Matias está aqui?

— O que está fazendo aqui? — Pergunto.

— O seu Francisco achou melhor enviar alguns homens a mais. Afinal, não teríamos muita utilidade na fazenda. — Ele responde tentando estancar o sangue com a mão. — Chegamos há pouco tempo e quando vi a cena decidir ajudar. Nossa você lutou corpo a corpo com um lobisomem!

— É verdade — diz a mulher que observava da janela. — Eu vi tudo! E foi assustador!

Em seguida, um coro começou a surgir de contentamento pôr a cidade estar livre dos ataques de lobisomens.

"A cidade estar salva!"

"Agora podemos andar à noite em paz!"

"Não precisamos mais nos esconder!"

***

Nas horas que se procederam, fui levado ao meu quarto na pousada, para receber os primeiros socorros do médico local. Nada muito grave. Desabei na cama e só acordei depois do meio-dia. Após o descanso, fui chamado para ir à prefeitura. O prefeito da cidade queria dar os seus agradecimentos por termos resolvido o problema das mortes. Até mesmo o delegado me agradeceu. Ato que, sinceramente, não esperaria receber dele. Logo depois, fomos à Fazenda Bom Lugar, nos despedir e ver o estado de Maria.

— Ainda não acredito que esse tempo todo era o Eliseu, o causador das mortes. — Comenta Edna. — Ele dormia nessa casa... E parecia ser uma pessoa tão boa...

— Acredito que ele era, senhora Edna. A maldição somado a seus problemas mentais, resultou nessas mortes. Isso explica os comportamentos esquisitos.

— Então, ele seria o equivalente a um cão com raiva — comenta Jônatas — Saí atacando todo mundo. E foi o que ele fez!

— E pensar que quase chegamos a mandá-lo para um Hospital psiquiátrico. Imagine quantos lobisomens ruins do juízo iriamos ter por aí. — Fala Francisco, em seguida toma um gole de café. — Só não o mandamos porque Maria não permitiu.

— E por falar nela, o que vocês farão com a seu respeito?

Perguntei por que realmente fiquei preocupado com a pobre mulher. A essa altura, com certeza já sabiam que ela tinha conhecimento sobre a maldição do filho. Pois, como não saberia se dorme no mesmo quarto que o rapaz? Mas sei que estava tentado protegê-lo da única forma que encontrou. Agora está sem filho e todos sabem da verdade. Talvez até tenha que se mudar.

— Quando descobri, pensei em demiti-la na hora. — Falou Edna, calmamente. — Mas eu e Francisco pensamos melhor e decidimos não o fazer.

— Maria é uma boa pessoa eu sei disso — Começou Francisco — Eliseu também. E sei perfeitamente como é difícil a vida de uma pessoa que vive com um segredo como esse. Ela já sofreu demais, não precisamos aumentar os seus problemas.

— Ouvi falar que não a deixaram enterrá-lo no cemitério... — diz Jônatas.

— Idiotas — fala Francisco. Enquanto mexe sua xícara de café.

— É uma pena ela não estar aqui, queria vê-la antes de irmos embora.

— Pensei que iriam ficar até a festa. Com o Lobisomem morto, as pessoas poderão comemorar a festa junina.

— Eu gostaria muito, senhora Edna, mas ainda tenho muito trabalho na faculdade para fazer. Além disso, queria visitar o meu amigo, Isaque, antes de voltar.

Me aproximei deles.

— Muito obrigado a toda ajuda, Francisco. E a toda a hospitalidade, Edna.

Eles sorriram e responderam aos gestos de despedida.

— Nos que agradecemos, Heitor. E volte um dia para nos visitar.

Sem o lobisomem esse lugar fica tão entediante — ela riu.

E fomos embora.

Matias nos levou até a pousada. O sol já havia se escondido e o movimento de pessoas era maior do que o dia anterior. Até estabelecimentos, como o bar, por exemplo, voltaram a ficar abertos no seu horário habitual e Serra do conde voltou a ser uma cidadezinha do interior como todas as outras. Antes de ir embora agradecer a Matias pela sua participação.

— Espere — falei — Queria te agradecer por ter salvado a minha vida.

Ele sorri e diz:

— Não precisa me agradecer, eu sou impulsivo desse jeito e não sabia direito o que estava fazendo.

A gente dá uma gargalhada, ele se despede e vai embora.

— Boa viagem a vocês.

Subimos as escadas e chegamos ao quarto. Assim que entro, guardo o meu chapéu no cabide e começou a preparar as malas.

— Vou arrumar as minhas malas, para não termos atrasos. O próximo trem só chega à estação amanhã bem cedo.

— Nós precisamos mesmo ir tão rápido assim, senhor?

— Já terminamos o que viemos fazer, o que mais faríamos aqui?

— Ora, poderíamos ir à festa de São João, que ocorrera na praça. Tem outro lugar melhor para se comemorar essa festa do que aqui?

— Ah! Agora entendi. — Falo com um sorriso.

— E além do mais, a universidade não nos deu um prazo para voltar. Então por que não tirar um tempo de descanso?

Ele tem razão, fazia tanto tempo que só viajo a trabalho... Seria bom apenas conhecer a cultura de um lugar e aproveitar uma boa música.

— Tem razão, não precisamos ir agora.

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