Capítulo 2 parte 2

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No caminho de volta para a pousada, conhecemos mais da cidade. Não há muito o que se ver. Para quem está acostumado a cidades grandes como São Paulo e Rio de Janeiro, como o Jônatas, não há nada de interessante. Serra do Conde é constituída, basicamente, de ruas pavimentadas, blocos de pedras e casinhas coloridas coladas umas nas outras; algumas, com seus pequenos muros na frente e Janelas grandes com as bordas pintadas de branco. As únicas construções que se destacam são a prefeitura, a igreja e a delegacia, que possuem uma arquitetura mais requintada.

No caminho, passamos pela praça da cidade que fica em frente à igreja católica. Um grande Templo, constituído por duas torres de onde soam os sinos. A praça estava enfeita com bandeirinhas e balões. Dá até para sentir o clima de São João no ar. Várias pessoas transitavam pelo lugar, muitas delas nos encaravam. As notícias já devem ter se alastrado como fogo e todo mundo já sabe da presença dos forasteiros, mas o meu foco está em achar um carro. Quem sabe não achamos o seu Francisco pela cidade, como a mãe de Clara falou.

E, bingo!

Em frente ao bar, estacionado, está um Chevrolet 1940. Com certeza, o seu dono está por perto. Faço sinal para o meu parceiro e entramos no bar. O estabelecimento está cheio.

Há uns bêbados no balcão balbuciando palavras inaudíveis ao dono do bar, mas é em uma mesa à direita que o encontramos. É fácil diferenciá-lo, pois usa roupas elegantes: está trajando um terno branco muito refinado, com um chapéu da mesma cor combinando. Usa sapatos de couro legítimo e está ocupado lendo o jornal. Em sua mesa, está uma garrafa de cerveja cheia pela metade, com um copo que nunca o deixa vazio. Ele é jovem e parece ter a idade próxima a de Jônatas. Não tem barba, mas possui um bigode pequeno. Tem o rosto fino, olhos castanhos escuros, pele branca um pouco vermelha por conta do sol. E demonstra ser desinibido segundo a sua postura.

Sem fazer cerimônia, puxo uma cadeira e me sento.

— Bom dia, senhor, tem um minuto? — Falo num tom de voz calmo e amigável.

— Pois não? — Diz, tirando os olhos do jornal.

— O senhor é o Francisco? Dono da fazenda, bom lugar?

— Sim, sou eu mesmo.

— Me chamo Heitor e sou detetive particular, eu e o meu parceiro estamos investigando os assassinatos que vêm acontecendo na cidade.

— E o que isso tem a ver comigo? — Fala, não parecendo intender o motivo da conversa.

— Soubemos por alguns moradores que um grupo de pessoas foram mortos próximo à sua propriedade. Isso vem acontecendo com muita frequência por aquelas bandas?

Ele pegou o seu copo e bebeu tudo de uma vez. Talvez ele estivesse exagerando um pouco na bebida, mas era bom. Fazia a pessoa se abrir e contar o que não devia.

— Infelizmente, sim; perdi ótimos trabalhadores naquele dia. Nunca vi algo assim. Não é à toa o povo estar dizendo que se trata de um lobisomem. Eu até riria, se não tivesse visto os corpos com meus próprios olhos.

— Então, você acredita se tratar de um lobisomem? — disse Jônatas.

— Podem rir de mim, mas, sim, eu acredito. Aquilo não foi obra de um homem comum e muito menos de um animal!...

— Não tem problema, também acreditamos nesse tipo de coisa. — Falo.

— É sério? — ele arregalou os olhos, indicando surpresa. — Achei serem homens sérios — ele riu e afundou o seu corpo na cadeira. — Bem, não encontro outra explicação, vários peões dizem tê-lo visto e, em uma noite, ouvir um uivo vindo da área da frente do casarão. Minha esposa, Edna, morre de medo, ela quer ir embora daqui, mas quem iria cuidar dos negócios? — Ele deu uma pausa — acho que já bebi demais. — disse, afastando o copo.

. — Concordo, está muito cedo para ficar bêbado, antes precisa nos ajudar. — Falo afastando o seu copo — Queríamos uma carona, se não se importa, até a cena do crime.

Ele nem pensou muito e concordou.

— Está bem. Já ia para casa mesmo. 

Serra do CondeOnde histórias criam vida. Descubra agora