Não podemos demorar, há essa hora Matias e seus homens estão chegando na cidade. Provavelmente, o pânico já se instaurou naquele lugar. E o delegado Luiz enfrenta um grande problema. Felizmente, depois de sair da biblioteca, liguei para a delegacia de polícia e comuniquei ao delegado o plano de Matias. Pelo menos não serão pegos de surpresa. Pegamos o Chevrolet de Francisco e partirmos. Edna e Maria Vem conosco, pois ficar numa casa afastada, com um lobisomem preso, um corpo no corredor e sozinhas, não pareceu uma ideia muito agradável. Podemos deixá-las na casa de algum amigo, seguras, até tudo acabar. Também demos uma olhada em Francisco antes de irmos embora. Ele está bem. E continua amarrado as correntes. Pelo menos não precisaremos nos preocupar em confundi-lo com os outro, pois, hoje à noite, pretendo exterminar todo o bando de Matias! E de hoje não passam!
. — Onde devemos deixá-las? — pergunto a Edna. Já chegamos na cidade.
— Na casa rosa em frente da prefeitura, minha amiga mora lá.
— Vamos passar pela pousada antes de irmos à delegacia, para pegarmos algumas armas. — diz Jônatas. Assim que paramos o carro, em frente à prefeitura.
— Vou rezar a nossa senhora por você — Fala Maria, tocando no meu ombro.
— Por favor, Heitor. Traga a cabeça daquele Maldito! — Fala Edna, com sangue nos olhos.
— Não se preocupe. Não só vou lhe trazer a dele como mais três.
Digo isso e vamos embora. Ao dobrar a esquina ouvimos barulhos e vozes. Parecem vir da delegacia, mas a minha prudência me manda continuar na rota. Não demora muito. Os gritos continuam a aumentar e uivos são ouvidos. Estaciono o carro em frente a pousada e saímos correndo para dentro, como se estivéssemos sendo perseguidos. Entro no quarto, acendo as luzes e começo a tirar, de pequenos esconderijos, meus equipamentos de trabalho. É quando Jônatas da janela me chama.
— Venha ver isto.
Vou até a janela e vejo um brilho bruxuleante vindo da delegacia.
— Atearam fogo na delegacia. — Falo, indo para fora — Devem estar eliminando as autoridades primeiro.
Assim que chegamos à rua ouvimos um grito de ajuda, seguimos o som e eles nos leva a estação de trem, onde bem ao lado há um depósito de dois andares. Um policial é arrasto por um lobisomem para dentro do lugar, ele grita por ajuda, mas ninguém ousaria sair de sua casa para cometer tal ato de coragem. Ele desaparece lá dentro e nós invadimos o lugar.
O lugar é cheio de caixas e sacos de café, farinha, açúcar e algodão. Os gritos pararam, andamos pelo lugar e, um pouco escondido por um monte de sacas de café, com metade do corpo aparecendo, está o policial meio atordoado, aparentando não poder se levantar. Com uma voz falha, ele pediu por ajuda, mas é arrastado por algo antes mesmo de chegarmos até ele. Tomamos um susto e olhamos por detrás das sacas de café, para espanto nosso, não há nada. Nem policial, nem lobisomem e muito menos sangue. Eu levando as duas armas que seguro e aponto para todos os lados. Já entendo a forma dele agir, sei que dará uma de esperto e pulará de algum canto escuro, para nos matar. Tenho que deixá-lo pensar que baixei a guarda. Então, abaixo a minha arma e espero o momento certo. Percebo algo voando sobre a minha cabeça, mas não me mexo, pois percebo se tratar do corpo do policial, que cai em cima de umas caixas de madeira e fica estalada lá. Isso só reforça a minha teoria, ele está brincando conosco. Mal sabe ele que esse joguinho será a sua derrota, só preciso esperar mais um pouco...
Sinto um vulto se aproximando em cima de mim. Em uma questão de milissegundos, atiro contra o vulto. Ele colide contra as sacas de café e eu aproveito seu atordoamento para lhe dar o golpe fatal. Pego uma barra de ferro pontiaguda e cravo nele, como se fosse um vampiro, lhe sentenciando a morte. Seu rosto se torna humano e, olhando bem para ele, percebo se tratar de um rosto conhecido. Ele era um dos homens que, na primeira noite de lua cheia, ajudaram a capturar a criatura. Não! Para ser mais exato, foi ele a soltar a corda, libertando o lobo! Aquela ideia nunca daria certo mesmo, pois tínhamos traidores entre nós! Isso explica muita coisa.
— Vamos — digo para Jônatas — temos mais...
Paro de falar, pois há mais um deles, nos olhando da porta do armazém. Felizmente, esse nem teve tempo de olhar para trás, pois um tiro o mata na hora. Ele cai para frente, revelando o atirado. O delegado Luiz está coberto de fuligem em seu uniforme rasgado. Ele está com uma espingarda levantada e possuí um rosto sério e de poucos amigos. Mas ele muda ao nos ver.
— O que aconteceu? — pergunto.
— Eles invadiram a delegacia. Ouve uma confusão e no final atearam fogo no lugar. Por sorte consegui escapar, mas outros não tiveram tanta sorte. A situação só não foi mais crítica porque você nos avisou com antecedência. Então já estávamos preparados.
Ele esboça uma cara de dor e se senta no chão.
— Não sei se consigo enfrentá-los. — Fala ele — Estou muito cansado.
— Nós também, mas não temos muita escolha. Se perdermos, será o fim de Serra do Conde e muitas outras cidades por aí, mas temos uma vantagem, Luiz. Os homens de Matias não são tão fortes quanto ele. Se nos unirmos, podemos derrotá-los, mas é com o chefe que me preocupo; de todos, ele é o que tem mais sede por sangue.
— Percebi. Mas não estamos sozinhos, meus homens estão logo ali na esquina e suponho que você tenha um plano, não é?
— Na verdade, eu tenho sim.
— Espero que não tenha a ver com rede.
— Sinto muito, mas tem, sim, a ver.
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Serra do Conde
WerewolfHeitor é um pesquisador que estuda os seres mágicos que habitam o mundo. Ele é enviado pela '' universidade'' para investigar estranhos assassinatos numa cidadezinha no Nordeste do país, chamada de Serra do Conde. Tudo indica ser obra de um lobisome...