Capítulo 4 parte 2

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Em seguida, Matias nos levou para a sala de visitas da casa principal. Foi onde encontramos Edna, a esposa de Francisco, ela é uma mulher linda: apesar de uma pequena barriga saliente, ela possuiu a cintura perfeita, fina no torso e larga nos quadris. Ela tinha o cabelo castanho liso, preso em um penteado muito elegante. Ela tem olhos castanhos bem expressivos e o rosto simétrico e não possui a mesma vermelhidão que seu marido. Provavelmente, por não pegar tanto sol. Ela era muito simpática e conseguia ser tão desinibida quanto seu esposo. Porém, demonstrava ter mais juízo.

— Então vocês são os tais detetives que o meu marido fala? — disse se aproximando, com seu jeito elegante, para nos cumprimentar.

Rapidamente apertei a sua mão e disse:

— Sim, senhora. Estamos trabalhando no caso.

— Por favor, não me chame de senhora, faz eu me sentir velha — ela riu, revelando uma linda arcaria dentaria. Ela tinha dentes tão brancos quanto o algodão que plantavam. — Já descobriram algo sobre o suposto peludo que anda tirando o nosso sono?

— Não muito, mas já tenho os meus suspeitos.

— Meu Deus, se minha mãe ouvisse essa conversa, ela... Francisco! — gritou ela, notando o estado de seu marido — Você foi beber! Tinha dito que ia resolver negócios com o prefeito!

O seu marido estava escorado na entrada do corredor, fumando cigarro, ouvindo a nossa conversa.

— Mas eu fui, querida! Fomos ao bar falar de negócios. E acabei encontrando estes dois homens, que também acreditam no lobo mau. Aproposito, lembram sobre o que eu falei do meu tataravô? Pois bem, ele está bem atrás de vocês.

Atrás de nós, havia um grande autorretrato de um senhor de idade, de aparência austera, sentado em uma cadeira, numa sala rodeada por estantes de livros.

— Por muitos anos a minha família conta essa história. — Ele se sentou no sofá e apagou o seu cigarro em um cinzeiro que estava na mesa de centro. — Segundo o meu pai, o meu tataravô, Horácio, era trancado na antiga senzala da fazenda nas noites de lua cheia. E, até hoje, veem marcas de garras nas paredes do lugar.

— Ave Maria! — Disse Edna, fazendo o sinal de cruz.

— Mas desde a sua morte, nunca mais se teve notícias de feras como essas por aqui, até agora.

— Não sabia dessa história — disse Edna — Sabia que existia uma senzala no casarão, mas nunca fui àquelas bandas, não gosto desse tipo de ambiente, são lugares pequenos, escuros, mofados e exalam um clima pesado.

— Não se preocupe, querida, sei que você está preocupada com os últimos acontecimentos, mas a fazenda é muito bem vigiada e protegida. Tenho vários homens para montar guarda à noite.

— Mesmo assim, ainda não me confio. Falta um dia para a lua cheia e esse bicho já mostrou de que é capaz! Serão sete dias de puro terror!

— Ainda não tinha me atentado para a data de hoje — falou Jônatas — Pensei que teríamos mais tempo.

— Não, não temos — comecei — mas é melhor assim. Teremos uma semana para desvendar o caso. Senão, teremos que esperar a próxima fase e não quero ficar tanto tempo longe de casa. E por falar nisso, acho que já ocupamos demais o senhor. Está na hora de voltarmos para os nossos quartos de hotel. E amanhã, bem cedo, falaremos com o prefeito e o delegado. Se eles não nos achar malucos, poderão ser de grande ajuda.

Francisco se ofereceu para conversar com o prefeito primeiro. O que foi ótimo, pois, assim, teríamos mais chances.

Em seguida, fomos embora. Matias nos levou de volta para a cidade e nos deixou bem em frente à pousada e, quando desci do carro, fui surpreendido por um rapaz que, levantando os braços e gritando, avançou para cima de mim. Foi um susto e tanto. O rapaz, que agia como uma criança de três anos, ficou rindo da minha cara enquanto se babava todo. Eu estava tentando assimilar aquilo quando Matias saiu do carro e, esbravejando, disse:

— Eliseu, seu filho da peste! Sua mãe está doida te procurando. Vamos, limpe essa baba e entre no carro, seu filho da peste!

— Ele veio andando até aqui? — perguntou Jônatas, um pouco enojado com a baba que escoria do queijo do rapaz.

— Sim, e se deixar, ele vai mais longe! Só sendo doido mesmo para andar à toa nesse sol.

— Não quero ir! — Gritou Eliseu, como se fosse uma criança de três anos — Quero ir à praça ver as bandeiras coloridas.

E ele correu para o outro lado da rua, mas Matias, sem muita paciência, o agarrou pela nuca e o obrigou a entrar no automóvel. E foram-se embora, com o carro soltando fumaça pela rua.

E foi isso que aconteceu. Estou morrendo de sono, mas não conseguirei ir para a cama antes de terminar as minhas anotações. Gosto de praticar esse exercício para treinar minha memória e impedir que eu perca algum detalhe importante de minha pesquisa, pois preciso adquirir todas as informações possíveis para entender o que está ocorrendo. Já coletei uma grande gama de informações, mas nada chega a ser diferente de outros casos que já enfrentei. Porém, repito o que a mãe de Clara disse: "há algo de errado com aquela fazenda." Eu não sei o que é, mas alguma coisa me diz que a solução deste mistério reside lá. Quem sabe, Francisco não tenha nos contado toda a história de seu tataravô. 

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