43 | Mais doce que a ficção

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Your eyes are wider than distance
This life is sweeter than fiction

Seus olhos são maiores que a distância
Esta vida é mais doce que a ficção

Sweeter than fiction

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Meus olhos arregalados, fixos em Connie, dizem mais do que qualquer declaração de amor. É assim que me parece, mesmo pela décima, ou vigésima, ou talvez centésima vez que encaro a foto quadrada. Essa imagem, menor do que a palma da minha mão, me expõe mais do que qualquer outra câmera poderia. É um consolo. Em breve, vou aparecer em telas de televisão pelo mundo inteiro, mas a foto que seguro é o que me revela. E ninguém a verá além de mim. E de Connie. E, bem, de Emily, que a espia sobre o meu ombro.

— Ainda olhando para isso aí? — ela murmura, e nem preciso me virar para saber que balança a cabeça.

Eu assinto, ainda absorta.

Troco para a outra polaroid, que trouxe comigo daquele hotel em Madrid, onde Connie a deixou, para o Rio de Janeiro, depois até a Vila Olímpica em Paris. Analiso a menina de olhos fechados e língua estendida para a neve que cai. Essa é a verdadeira Rebeca Ferraz. Não a da televisão — ou dos posts em redes sociais e das notícias tendenciosas.

Não importa o que digitem, sussurrem e berrem durante as Olimpíadas, se ganharmos ou perdermos, se me amarem ou odiarem, nada disso pode realmente tocar essa mulher da foto. O que significa que não podem me tocar.

— Volta para a Terra, bebê. — Emily toca o meu ombro, e pisco os olhos atônitos para ela. — Ainda precisamos mostrar que merecemos as nossas convocações.

Olho ao redor, de fato tentando colocar os pés no chão e focar no que importa, mas voltar para a Terra não parece vir ao caso. Durante os dois dias que passei na área de treinamento reservada aos atletas brasileiros, me sinto distante de tudo, em outro planeta, e às vezes até imune às leis da gravidade. É o País das Maravilhas. A Terra do Nunca. Aqui é onde damos de cara com os nossos sonhos, não importa se eles vão ou não se realizar no fim de tudo.

Mas é real, e eu respiro fundo. Estou aqui. Pronta para o que der e vier.

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Meu aniversário é no terceiro dia de Vila Olímpica, ainda antes do início dos jogos.

O despertador toca às 4h30, e seleciono o modo "soneca" duas vezes antes de me dar conta do motivo para ter programado o alarme. O travesseiro que Emily joga na minha direção me ajuda a acordar.

— Desliga isso, sua louca — ela resmunga no cômodo escuro.

Sento rápido na cama, afastando o travesseiro dela de perto do meu rosto, e agarro o celular na mesa de cabeceira. Depois me esgueiro para fora do nosso studio e, só quando fecho a porta, me dedico à primeira tarefa que preciso realizar no dia do meu aniversário. Abro a lista de contatos e aperto em um único nome.

O telefone chama por um tempo, depois encerra a ligação automaticamente. Eu tento de novo. E de novo.

Na terceira tentativa, sou finalmente agraciada com o som da voz mal-humorada de Andressa.

— O que foi, caralho?

Sorrio contra o celular. Já são 4h52 do dia 21 de julho em Paris, mas no Brasil ainda não é meia-noite.

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