Casamento II

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O ruído dos insistentes, e gradativamente altos, badalares do enorme sino angelical ecoavam ao longe, lhe tirando daquele sono confortável e profundo.

- Céus... Isso só pode ser um pesadelo. - Concluiu ao se levantar pela quarta vez na mesma situação detestável seguida.

Naquele momento, Alastor sequer se preocupava em esconder a própria nudez quando aquela porta metálica, mais uma vez, se deslizou após o cessar das marteladas à fora.

- Acho que você está no setor errado, amigo. - Comentou um demônio corpulento, o qual já estava se familiarizando tendo em vista que era a quarta vez que o ouvia dizer a mesma coisa - O andar do estúdio pornográfico do Valentino, é o segundo...

- Valentino contratou mais uma puta? - Questionou, de novo, outra voz.

- Ei, esse não é o Demônio do Rádio? - Reconheceu, novamente, outro.

- Que se dane! Eu estou atrasada há qua-

- Quarenta minutos para a sua reunião com Vox por causa dessa porra de porta emperrada. - Ditou monotonamente, observando a expressão de surpresa surgir no rosto daquela mulher - Já ouvi essa sua voz aguda e irritante dizendo a mesma coisa quatro vezes.

- Lunático! - Vociferou a mesma mulher irritada folheando suas pastas e adentrando o elevador, com pressa - Você vai sair daqui ou nã... Você é mesmo o Demônio do-

- Sim. - Cortou o pecador, escorando-se de braços cruzados na parede metálica.

O silêncio pairou sobre o ambiente com todos olhares voltados para a depravação explícita do pecador.

Balançando a cabeça para dissipar seus pensamentos incoerentes sobre o demônio ao seu lado, a mulher pressionou alguns botões do elevador, fazendo com que a porta metálica se fechasse, os deixando sozinhos.

Em outra ocasião, Alastor até se incomodaria com o olhar descarado da demônia ao seu lado, mas, estava demasiado confuso e irritado para se preocupar com um pormenor tão irrelevante, tendo em vista que seu ser parecia estar contido em uma espécie de linha temporal. Em outras palavras, o Demônio do Rádio parecia estar preso no tempo, revivendo o mesmo momento diversas vezes.

- Desculpe a pergunta, mas, como um demônio tão famoso veio trabalhar para o Valentino? - Questionou a mulher, alternando seus olhares entre o baixo ventre exposto de Alastor e a expressão sorridente do mesmo.

- Oh, não devo satisfações para extras, minha cara miragem. Afinal, vocês são apenas alucinações da minha cabeça. E quando eu ouvir o badalar, voltarei para esse mesmo elevador, no mesmo estado execrável e com os mesmos figurantes na porta enquanto eu ainda tenho um casamento para comparecer. - Dialogava Alastor, sem notar os olhares de incredulidades lançados pela demônia ao seu lado, a qual se afastou o máximo possível do Demônio do Rádio.

- Essa loucura sua, é contagiosa? - Indagou analisando o demônio de cima abaixo mais uma vez.

- ...Talvez! - Exclamou o pecador com um sorriso tão medonho que fez arrepios surgirem pela coluna de sua acompanhante.

Por fim, a porta do elevador se deslizou, revelando uma sala ampla de tonalidades em azul escuro, contrastando com poucas linhas luminosas no teto. Havia também, uma mesa retangular e extensa onde uma espécie de trono estava alojada no final de seu comprimento.

Vox imediatamente deteve seu olhar na figura desnuda ao fundo do elevador.

Ao sair do mecanismo metálico, juntamente com a mulher demônio, Alastor notou que as paredes daquele salão eram, na verdade, uma espécie de aquário vultoso e escuro.

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