Em Troca de Liberdade

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Mesmo que o sol já tivesse nascido, aquela área da floresta continuava escura. Se não fosse pelas velas acesas, dispostas em formato de círculo no chão, não seria possível ver-se muito bem por ali.

Diante do círculo, uma figura ajoelhada, as mãos juntas em posição de reza e os lábios movendo-se silenciosamente em preces rápidas. Concentrado em sua oração, ficou assim por longos minutos até acabar, só então assoprando as velas, colocando nos bolsos da calça suja que usava as pedras coloridas que antes ocupavam o centro do círculo de oração e apagando o desenho que havia feito nele com o pé, espalhando folhas pelo local para cobri-lo bem.

Bastou-se esses minutos para que sua mente estivesse feita e uma decisão final tivesse sido tomada.

Por fim, a pessoa respirou fundo, deu meia-volta e saiu da floresta.

~XØ~

Frank não desceu para tomar café naquela manhã. Na verdade, ele nem mesmo saiu de sua cama, exausto como estava. Ele jamais admitiria isso, mas havia passado a noite inteira chorando, desamparado e perdido. Mesmo depois do sol nascer, ele continuava sentindo-se transtornado.

Mikey havia tentado chamá-lo, mas o príncipe manteve a porta trancada e mandou-o embora. Ainda estava chateado com o amigo e não queria falar com ele naquele momento. Mesmo sabendo disso, Michael tentou persuadi-lo a deixar o quarto várias vezes durante o dia, sem obter sucesso algum. Depois de tantas tentativas, Frank estava preparado para proferir as palavras mais chulas possíveis ao Ila se ouvisse batidas na porta mais uma vez.

Faltava algumas horas para o sol se pôr e Frank estava olhando para o teto sem graça do quarto, ainda escuro por ele nem ao menos ter se dado ao trabalho de abrir as cortinas. Havia um bom tempo em que estava repassando em sua cabeça todas as memórias que tinha com sua mãe e desejando voltar no tempo para vivê-las novamente em loop, sem precisar voltar para aquela realidade revoltante em que estava no momento. Estava remoendo sua situação, amaldiçoando-se por não poder fazer mais.

Foi quando bateram em sua porta mais uma vez.

A ira de Frank foi imediata. Ele bufou irritado e gritou para a pessoa do lado de fora:

— Mikey, eu já disse para você me deixar em paz! Eu juro que se você me incomodar mais uma vez eu vou queimar a porra da sua cara de leite azedo…!

A resposta veio em uma voz suave e baixa, quase tímida:

— Não é o Michael…

Era Gerard.

Toda a raiva de Frank foi embora imediatamente, sendo substituída por confusão e preocupação. Se Gerard tinha se dado ao trabalho de vir até ali, era porque algo não estava certo.

Pela primeira vez naquele dia, Frank levantou-se da cama. Vagarosamente, o príncipe cruzou o quarto e destrancou a porta, cerrando os olhos quando se deparou com a claridade do lado de fora. Piscou algumas vezes para ajustar-se à luz e, quando finalmente pôde ver corretamente, lá estava Gerard, bem em sua frente, parecendo ainda mais bonito do que o dia anterior. Na verdade, Frank tinha a impressão de que o camponês parecia ficar mais atraente a cada dia passado. Ou talvez apenas fossem os sentimentos do príncipe por ele que estavam se fortalecendo diariamente.

— Oi — Gerard sorriu timidamente, algo totalmente fora de personagem. Frank tinha certeza de que nunca o viu daquela forma: tímido e envergonhado, parecendo desconfortável apenas por existir.

— Huh… Oi?

Os dois se encararam por alguns segundos antes de Gerard apontar com a cabeça para dentro do quarto e perguntar:

Between Vultures And Flames || {frerard}Onde histórias criam vida. Descubra agora