Ansioso. Paranóico. Obsessivo

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Quando coisas boas acontecem nos momentos em que nos sentimos no nosso pior, é normal nos sentirmos indignos daquilo, como se não fosse nosso ou não deveria ser. Era uma espécie de síndrome do impostor por isso, quando Sabrina sentou ao lado dele naquele momento em que ele estava se sentindo um lixo de pessoa, ele não ficou imediatamente extasiado.

Parte dele desejava pelo seu reencontro há muito tempo, mas a outra parte se recusava a aceitar a aproximação dela. Eles não se falavam a muito tempo e ela tinha lhe magoado de verdade - se foi involuntário ou não, isso um dia saberia - ele estaria disposto para voltar a ser o que eram - ou o que não eram - há qualquer momento, mas, aquele simplesmente não era o
tempo.

O sino de entrada tocou, ela não se moveu, continuou sentada ao lado dele.

Era como se estivesse tendo um deja-vu do primeiro dia de aulas, onde tinham se conhecido - o sino tinha tocado mas eles continuaram se encarando por um tempo - pensar nesse momento com certeza reaviva os sentimentos que ele queria declarar mortos e enterrados mas,
por alguma razão ridícula não podia.

Eles eram - ou foram - amigos. O sentimento sempre estaria lá, nem mesmo a mais profunda das magoas apagaria os momentos de companheirismo que tinham vivido, tinham sido bons demais, profundos demais, reluzentes demais.

- tenho que ir para a aula - falou ela com a voz baixa.

E assim ela se levantou e desapareceu da vista dele.

Ele não tinha vontade de assistir as aulas. Não tinha vontade de nada, tudo que queria era falar com Maria e resolver o mal entendido entre os dois. Não queria carregar o peso de ter ferido assim tanto uma pessoa, ele era demasiado frágil para suportar aquilo. Trazer desgostos aos
outros era algo que simplesmente não queria fazer - era do tipo que preferia ser magoado do que magoar - ele não podia se converter no mais repudiava, nunca!

Viu ela passar por ele com as amigas em direção ao cemitério.

Cemitério era o nome dado ao espaço adjacente ao refeitório, que era rodeado de bancos e árvores formando um quadrado. Tinha recebido esse nome porque os alunos que matavam as aulas, as enterravam lá - além de que, de certa forma, meio parecia um cemitério.

Ela estava acompanhada de um rapaz, Omar não o conhecia mas pela maneira que davam as mãos
- com os dedos entrelaçados - ele devia ser mais que um amigo.

O diretor estava vindo em direção a ele - o diretor pedagógico.

Por mais que não quisesse se levantar, era com Zé que estava lidado, aquele homem tinha
uma capacidade única de repelir as pessoas. E por isso, a contragosto entrou para a sala.

****

O dia podia ter passado umas 5 vezes mais rápido, não tinha prestado atenção a nenhuma das aulas, seus colegas estavam gritando e falando alto demais. Enfim, era tudo demasiado.

Ao cruzar os corredores, encontrou-se com Patrícia, a melhor amiga de Maria.

Ele se aproximou dela e mal entreabriu os lábios para dizer algo ela disse:

- Não. Ela tá destroçada com o que fizeste com ela - falou apontando-lhe o dedo - é melhor você se afastar...

Ele voltou a abrir a boca mas, ela foi mais rápida que ele:

- Omar, você nem teve a decência de olhar nos olhos dela - falou, em um tom de voz grave enfatizando a frase - chega. Fica longe dela.

E assim, desistiu - não de se redimir para Maria, disso nunca iria desistir.

Mas sim, de tentar falar com Patrícia.

Era frustrante o quanto agora queria vê-la. Antes não queria apenas acabava por ver, quando ela ia ao seu quarto sem avisar - algo que ele esperava ter acabado, vai que ela aparece lá com uma faca? - ou quando precisava dela para fazer ciúmes a Sabrina - o que parecia não ter resultado, o que tornava tudo pior, além de a ter magoada, a magoou sem fins conclusos.

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