Em Segredo

Uma rapariga, Dois primos

Sabe aquela sensação de algo está prestes a acontecer? Aquele aperto no peito intuitivo
que sentimos, aquelas coisas aparentemente normais que começamos a ver como sinais de que algo muito, muito mau está prestes a acontecer?

Tudo começou com um bater de porta.

A tia Marinela já tinha ido por isso Omar foi abrir a porta.

- Quem é? - perguntou.

- A Maria.

Até aí tudo bem, ela já tinha entrado e saído da sua casa muitas vezes e era bom ouvi-la
realmente a bater a porta e não apenas entrar como um gato como sempre fazia.

Ele abriu a porta deixando-a entrar.

Ela o abraçou, envolvendo as suas mãos no pescoço dele.

De início ele estava relutante mas lembrou-se que aquela miúda tinha sempre o que queria, então, por que mudar a narrativa naquele momento?

Ela nem tinha aberto a boca para falar quando bateram a porta brutalmente.

PUM! PUM! PUM!

O portão estremecia. Em meio a confusão e o nervosismo ao alguém ser tão desrespeitoso, ele abre a porta.

Em um momento ele estava na porta e no outro, estava encostado a parede com as mãos de Mariano no colarinho da sua camisola.

- Que lixo você foi meter na cabeça da Sabrina?

Credo! Omar nem tinha pensado nisso. E nem tinha imaginado que ele se importaria tanto.

- Do que falas? - perguntou, com a voz saindo engasgada.

- Não te faças de parvo! Eu sei da foto.

Ele praguejou horrores na sua cabeça. Nunca tinha passado pela sua cabeça que Sabrina ia
contar que foi ele.

- Eu posso explicar... - falou agarrando a mão de Mariano e fazendo-o soltar a sua camisa - eu não o fiz com más intenções.

- Mas também não fizeste com boas intenções - rebateu Mariano.

Lá nisso ele tinha razão, ele também não tinha sido exatamente bem intencionado a
verdade era que no fundo do seu coração, ele queria que eles rompessem o que fosse que estava acontecendo entre os dois, só não imaginava que os sentimentos do primo por ela fossem assim tão fortes.

Maria estava observando os dois apavorada.

- Eu apenas dei a minha opinião - justificou Omar.

- Podias ter-te mantido calado - retrucou Mariano tentando agarrar o colarinho de Omar de novo.

- Isso tudo por aquela sem sal da Sabrina? Por favor - falou Maria desdenhosa.

Os dois olharam para ela com os olhos cheios de intensidade.

Esta tudo acabado - pensou Omar olhando para ela.

- Diz na tua vadia para se manter calada - falou Mariano para Omar.

- Eu não sou vadia dele - rebateu Maria cruzando os braços ofendida e um pouco envergonhada.

Omar olhou para ela cansado - O que foi que eu vi nela?

- Omar, vais deixa-lo tratar-me assim?

Ele olhou para ela com vontade de faze-la desaparecer, ela não conseguia perceber que aquele
não era o momento.

- Maria, podes ir embora? Por favor? - pediu tentando não ofender ela.

Mas seus esforços foram em vão ela des-cruzou os braços levantando-os ao ar e saiu.
Mariano finalmente soltou-o.

- Eu achei que fosses um real nigga - falou sem olhar para os olhos dele.

E ele se considerava um, aquele momento com Sabrina, foi apenas isso. Um momento, um
período de curta duração dentro do espaço tempo tudo bem, ele tinha se metido, sim, tinha
mostrado a foto, mas ele também precisava de entender que não era fácil para ele. Ele não estava habituado a desejar tanto alguém mas não se permitir ter a pessoa, não havia sentimento mais frustrado que esse.

Ele afastou-se da parede, ajeitando a camisola.

- Eu errei, eu admito - falou Omar como se aquilo fosse o que Mariano queria ouvir - eu fui estúpido, eu apenas...

- Querias afasta-la de mim - interrompeu Mariano, terminando a frase que Omar nunca se atreveria a dizer.

- Não, eu...

- Você queria Omar. Você quer! - Disse Mariano com uma risada nervosa no fim - mas, você não se apercebe que tudo que fazes é complicar as coisas? Magoar os outros? Não podes deixar o teu egoísmo de lado e pensar nos outros? Nas vidas que eles têm que seguir?

Omar ficou em silêncio.

Ouvir aquilo era doloroso, ainda mais vindo de Mariano, eles podiam não parecer muito
próximos no momento mas eles cresceram praticamente juntos - antes de Mariano ir com a
família para a Namíbia - e ele não queria magoar Mariano - nunca achou que o fosse fazer - tudo que ele queria, era...bom, era... - ele soltou um suspiro frustrado - nem ele sabia o que queria.

Passou a mão pela cabeça.

- Eu sei que sou errático - admitiu - e sei que eu causei danos a ti e a ela, mas eu juro. Eu te juro que nunca. Nunca! pretendi magoar você.

Mariano assentiu, mas sem convicção.

Era como se as palavras de Omar não bastassem, como se não surtissem efeito.

- Você precisa crescer, Omar!
E assim ele saiu, deixando Omar sozinho com os seus pensamentos.

"você precisa crescer, Omar" essa frase ficou ecoando em sua cabeça a noite toda, até que
por fim pregou no sono, sonhando com a mesma frase, o seu cerebro só repetia:

- você precisa crescer, Omar.

- você precisa crescer.

- você!

- você precisa!

- crescer!

- crescer, Omar...

Crescer, crescer, crescer, crescer, crescer...