CAPÍTULO 21

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Becky


Já tem um mês, um mês desde que Freen desapareceu, e até agora não temos nenhuma notícia dela, e isso me deixa em dúvida se vão encontrar ela. Todos estão tristes e desanimados, principalmente os pais de Freen.

Quando a mãe dela soube o que aconteceu, ela teve uma cardiomiopatia, e o senhor Arthur teve que levá-la ao hospital, e desde então ela está sob medicação constante para ansiedade e estresse.

No colégio, sentia que apenas o meu corpo estava presente, enquanto minha mente e alma vagavam por lugares desconhecidos e sombrios. Mal tenho dormido e me alimentado, meus pais fazem de tudo para me animar um pouco, pois eles têm medo de que eu acabe caindo numa depressão.

— Filha, você tem que comer algo. – Insistiu minha mãe, colocando uma bandeja com um prato de comida na minha frente. — Sei que está difícil, mas você precisa se cuidar.

— Eu sei, mãe... – Suspirei, olhando para o prato de comida sem ânimo. — Só tô sem fome.

Meu pai se aproximou, se sentando ao meu lado na cama e me abraçou.

— Princesa, entendemos o que está sentindo e passando, mas você precisa se cuidar. – Fechei os olhos sentindo um carinho sendo feito em minha cabeça. — Você acha que a Freen iria gostar de saber que não tem se cuidado e se alimentado direito?

— Não... – Respondi baixinho.

— Então não fique assim. Logo logo teremos notícias dela, você vai ver. –  Disse meu pai, tentando me reconfortar.

Eu queria acreditar em suas palavras, mas é tão difícil quando o medo toma conta de tudo.

— Nem sei se consigo acreditar nisso, pai... – Murmurei, sentindo as lágrimas ameaçando cair.

Minha mãe deixou a bandeja em cima do criado-mudo e sentou-se ao meu lado, me abraçando também, dizendo:

— Eu sei, querida. Mas precisamos ter esperança e fé. – Ela disse, me dando um beijo na testa.

— Mas se ela estiver... – Minha voz falhou ao pensar no pior.

— Não diga isso, Ela vai voltar viva e bem. Quando menos esperarmos, ela estará de volta. – Sorriram.

Meus pais têm razão.

Por mais que a esperança não esteja totalmente presente, meu amor por ela ainda estará. Mesmo que meu coração queira parar por não sentir o seu, ele ainda continuará a bater por nós. Posso não acreditar que seu coração ainda bate forte como antes, mas consigo sentir que ela está lutando para que ele não pare.

— Tem razão, não posso perder as esperanças.

Depois de algum tempo conversando, eles conseguiram me convencer a comer pelo menos um pouco. Mesmo que a comida mal passasse pela minha garganta seca, eu sabia que precisava me manter forte, não só por mim, mas também por Freen.

Os dias se arrastavam vagarosamente, e a espera se tornava cada vez mais insuportável. Os minutos pareciam horas, e os dias pareciam semanas.

Quase todos os dias, eu vestia um casaco branco de moletom, que Freen deixava no meu guarda-roupa, para usar quando ia na minha casa, ou para que eu vestisse quando quisesse. E o melhor, seu cheirinho ainda permanece nele.

Vestir seu casaco era a única forma de sentir ela um pouco mais perto. O cheiro familiar trazia uma mistura de conforto e tristeza. Fechava os olhos e imaginava que ela estava ali, ao meu lado, sorrindo e me dizendo que tudo ficaria bem. Mas ao abrir os olhos, a realidade cruel voltava com toda a força.

Cada dia parecia mais com um teste de resistência, uma luta constante contra a desesperança.

Minha rotina diária se tornou um ciclo de ansiedade e desespero. Toda manhã, acordava com a esperança de que aquele dia traria boas notícias, mas a cada noite, ia para a cama, sem notícias.

Frequentemente abro a galeria do meu celular e fico vendo nossas fotos e relembrando todos aqueles momentos que tivemos. As lembranças me faziam chorar e sorrir ao mesmo tempo, um lembrete constante do quanto ela significava para mim.

Cada sorriso, cada bobagem, cada olhar, todos os momentos que compartilhamos, se transformaram em uma faca afiada que corta ainda mais profundamente o meu coração

A ideia de que nunca mais poderei ouvir sua risada ou sentir seu abraço me consome. E, no entanto, sei que preciso encontrar uma maneira de continuar, não apenas por mim, mas também por ela, e todos ao meu redor.

Decidi ir ver os pais de Freen, para saber como estão.

Cheguei à casa deles e toquei a campainha. O senhor Arthur abriu a porta, com um olhar cansado e abatido.

— Becky, que bom te ver. Entre, por favor.

Entrei na casa e a atmosfera pesada era palpável. Natalie estava sentada no sofá, com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. Ela olhou para mim e forçou um sorriso.

— Oi, Becky. Como você está, querida? – Perguntou, sua voz fraca.

— Oi. Estou bem, na medida do possível...

A mãe de Freen fez um gesto para eu me sentar ao lado dela, e eu me acomodei no sofá. A presença deles era reconfortante, apesar da dor que todos compartilhamos.

— Obrigada por vir. – Esboçou um pequeno sorriso cansado.

— Não precisa agradecer. Eu vim para saber como estão.

O senhor Arthur se sentou ao meu lado, parecendo tão cansado quanto a esposa. O silêncio que se seguiu era pesado, mas também era um conforto estar ali com eles, compartilhando aquele momento de tristeza e esperança.

— Não sei se tenho palavras para expressar o quanto a sua presença é importante para nós. – Disse o senhor Arthur. 

A mãe de Freen, com um olhar triste, puxou um álbum de fotos do sofá ao seu lado e o abriu lentamente. Ela começou a folheá-lo, mostrando algumas das fotos de Freen.

— Essa e de quando adotamos ela. – Sorriu. — Ela era muito tímida, não gostava muito de conversar, mas se animava bastante quando ganhava um doce. – Disse enquanto me mostrava uma foto dela feliz ao receber um doce.

— Essa foi de quando ela conheceu Heng, os dois não se desgrudavam, pareciam irmãos inseparáveis.

O pai de Freen se levantou para atender a porta. Quando ele abriu, deu para ouvir vozes baixas e murmuradas do lado de fora. Natalie e eu nos entreolhamos, ansiosas. Após alguns segundos, ele voltou, trazendo com ele o oficial Davis.

— Oficial Carter, por favor, entre. – Disse o senhor Arthur, abrindo espaço para ele passar.

Ele, tirando o chapéu e segurando-o contra o peito. – Boa tarde. Desculpe interromper, mas tenho notícias sobre Freen.






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