My Girl

CAPÍTULO 29

7 meses depois

Freen

Há alguns meses que tudo aconteceu, o fim de um pesadelo, e uma dor que não passará tão cedo.

Durante esses meses fiz acompanhamento psicológico por causa de tudo que aconteceu quando era criança e, por causa da tortura que sofri. Optei por fazer as consultas online e com Becky ao meu lado. Ela tem sido um pilar tão importante em minha recuperação tanto quanto meus pais. A recuperação não foi fácil, mas o apoio constante dela fez toda a diferença. Seus gestos de carinho, amor e paciência ajudaram a suavizar a dor, e ela me apoiou em cada passo do caminho.

Minha rotina agora é marcada por pequenas vitórias e momentos de superação. O acompanhamento psicológico tem sido fundamental para enfrentar os traumas, e ter Becky ao meu lado nas sessões é um conforto imenso. Às vezes, quando foi difícil falar sobre o que passei, mas ela sempre esteve ali, segurando minha mão e oferecendo apoio, mesmo que silenciosamente.

Nós duas aprendemos a valorizar ainda mais os momentos simples juntas. Seja assistindo a um filme, passeando pelo parque, cozinhando ou apenas ficando em casa jogando algum jogo, cada instante é precioso, e devemos aproveitar e valorizar ao máximo enquanto podemos.

Quando estou no meio de uma sessão de terapia e sinto que vou desmoronar, é o olhar dela, a sua mão apertando a minha, que me dá coragem para continuar. Seus gestos, por mais simples que sejam, têm um impacto profundo e positivo em minha recuperação.

Quanto a Rayan, nossa aproximação aumentou consideravelmente. Além de um ótimo irmão, ele se tornou um bom amigo.

E nos últimos dias tivemos uma conversa e, tomei uma decisão. Decidi ir até a cidade onde nasci e visitar o túmulo de minha antiga família, porque senti que não estaria completamente bem se não fosse até lá e deixasse tudo o que me perturbava ir de uma vez por todas. Então Rayan me levou até Chicago. E quando chegamos lá, pedi que me esperasse do lado de fora, pois essa seria a última etapa da minha recuperação.

•Flashback on•

Eu estava de frente para o túmulo deles, segurando um ramo de rosas brancas.

— Tem muito tempo que não venho aqui, não é? – Sorri fraco.

A brisa leve movia as flores que eu segurava, e eu me deixei absorver pela calma do lugar.

— Eu não sei se vou conseguir expressar o quanto a falta de vocês foi dolorosa. – Minha voz estava embargada, mas tentei manter a firmeza. — Mas eu quero que saibam que, apesar de tudo, eu nunca os esqueci. – Suspirei. — Ainda me sinto culpada por não ter protegido direito os pequenos, mas apesar de carregar essa culpa até hoje, me encontro feliz. Tenho pais maravilhosos, bons amigos, uma namorada que me ama na mesma intensidade que a amo, e também tem o Rayan. — Sorri. – Pai, espero que você esteja feliz por nós e, quem sabe orgulhoso.

Depositar aqui tudo o que sinto é doloroso, mas é preciso e, encontrar forças e coragem para isso é difícil.

— E Alex, apesar de tudo, eu te perdoo. Você destruiu a nossa família, me machucou de tantas maneiras e, mesmo assim não consigo sentir ódio de você. E talvez se não fosse tudo isso que aconteceu, provavelmente eu não encontraria o amor da minha vida. – É inevitável não me sentir emocionada com tudo. — Espero que você tenha encontrado um pouco de paz e arrependimento antes de ter dado seu último suspiro. De qualquer forma, eu te perdoo, meu irmão.

Eu me agachei em frente ao túmulo, colocando as flores sobre a lápide e deixando as lágrimas escorrerem.

— Vocês sempre estarão em meu coração, nunca vou esquecê-los. Quanto a você Alex, sempre levarei comigo os bons momentos que tivemos. Você sempre será aquele garoto alegre e que sempre me protegia de tudo e de meus próprios medos.

Dizer tudo isso é doloroso, porém, conseguir colocar tudo isso para fora é um alívio.

— Espero que estejam juntos e felizes, onde quer que estejam. Amo vocês.

•Flashback off•

Depois daquele dia, me senti mais leve, como se eu tivesse me livrado de um peso que não sabia que carregava. Senti uma paz que há muito tempo não sentia.

— Amor? – Becky me chama, me fazendo despertar de meus devaneios. — Tá tudo bem? Está bastante distraída.

Sorri.

— Estou muito bem. Apenas estou aproveitando a paz.

Ela sorriu para mim, um sorriso suave, cheio de ternura, aquele sorriso que sempre me encanta e faz meu coração bater forte. Becky sempre soube como me acalmar, como me trazer de volta para o momento presente. Ela se aproximou e passou os braços ao redor do meu pescoço, me puxando para mais perto.

— É só isso mesmo? – Perguntou arqueando uma sobrancelha, e assenti. — Então vamos, o pessoal já chegou.

Hoje é meu aniversário e meu pai decidiu fazer um churrasco, já que eu não queria festa ou algo do tipo. Foram convidados os amigos e os familiares mais próximos, ou seja, a Nam, Heng, Noey, Kade, Irin, Nop, Mind, Boomee, Rayan e meus sogros. E lógico que não poderia faltar a namorada mais linda e incrível desse mundo.

Becky me deu um beijo suave na bochecha antes de me puxar pela mão até o quintal, onde o som das risadas e das conversas animadas já podia ser ouvido. Quando chegamos lá fora, vi que que meus pais e os pais de Becky estavam mais na área da churrasqueira conversando e rindo, nossos amigos estavam na piscina.

— Aí está a aniversariante! – Nam gritou animada, sem sair da piscina.

— Freen! – Heng veio até mim, me puxando para um abraço apertado e molhado. — Parabéns! Tá ficando velha, em?

Ele soltou uma risada alta enquanto eu revirava os olhos, tentando me afastar do abraço encharcado.

— E você, moleque, parece que nunca vai amadurecer, né? – Respondi, rindo.

— Por enquanto não. Quero aproveitar minha juventude ao máximo! – Piscou, voltando para a piscina.

Balancei a cabeça, rindo da energia dele. Heng sempre foi um garoto alegre e cheio de energia, a única vez que vi ele triste foi quando seu cachorrinho morreu. Me virei para Becky, que me olhava com um sorriso divertido.

— Quer entrar na piscina agora, ou depois?

— Depois.

— Ok.

Fomos para perto da churrasqueira, onde Rayan estava cortando algumas carnes. Mais cedo eu carinhosamente o apelidei de tio do churrasco.