"Tu não te lembras
Que o meu cheiro
Acelera o coração"- Alceu Valença
GIOVANNA POV
Faziam dois dias desde o ocorrido. Não tive força e me faltava coragem de permanecer na casa que deixou de ser minha, de ser meu espaço, de ter minha bagunça, meu cheiro e meu toque, porque tudo tinha um pouco dele. Tudo me lembrava ele e eu não queria.
Permaneci esses últimos dias na casa de Alessandra. Quando mandei Alexandre ir, liguei o automático e quando vi estava chorando no colo da minha amiga, inclusive foi ela quem voltou em casa, pegou umas mudas de roupas e me fazia voltar pra vida com seus conselhos.
A dor já não era sentida só no emocional, minha parte física também doía. A dor no peito, o peso e nunca tinha sido do meu feitio, mas as noites se tornaram ainda mais longas por não conseguir dormir.
Havia um ditado francês que dizia "partir c'est mourrir un peu" (partir é morrer um pouco), mas a situação de como foi aquela partida não era nada agradável aos olhos e muito menos para o coração.
Anestesiada e inerte era como eu estava. Assimilando tudo. Ninguém se junta a alguém pensando um dia romper. Éramos aqueles complementares diferentes, mas não nos atentamos e até esquecemos do adjetivo presente.
Demorei para sentir, demorei para me entregar, vivi pouco e senti muito. Ainda sinto, não posso negar. A gente não deixa de amar de um dia para o outro, muito menos algo como eu tinha vivido com Alexandre.
E de um dia para o outro, com toda força, os bons momentos sumiram, os sonhos foram desfeitos e só havia tristeza pelo que poderia ter sido, mas não foi. Foi curto, mas o mais avassalador dos amores.
Não procurei saber e ninguém veio me dar notícias. Era melhor assim!
Alessandra teve que sair para resolver algumas pendências na sua agência logo após o almoço e fiquei lá me distraindo como podia. Ajeitei a cozinha, dispensa, quarto, sala, mesmo sabendo que o que precisava ser ajeitado não era aquilo tudo.
Havia um quarto ainda desarrumado e não pensava em arrumá-lo tão cedo. Meu olhar voltado para a janela vendo a movimentação das pessoas que desciam pra praia me dava saudade daquele que desorganizou todo meu ser, que marcou meu corpo e alma como dele, eu sei, eu ia demorar pra esquecer, mas nada como o dia após o outro.
Com os olhos ainda na janela, me despertei e terminei o restante dos afazeres, eu precisava manter a mente ocupada para não viver o ócio e lembrar do que me recusava. Fui até o quarto de Alessandra e comecei a dobrar algumas roupas que ainda estavam jogadas pela cama, até ouvir uma batida na porta.
- Já vai! - respondi enquanto andava pelos corredores até chegar na sala e ouvir outra batida na porta. - Alessandra, você não sabe o que signif... - minhas palavras sumiram, ao ver Emílio parado em minha porta - Emílio?
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Ilha da Fantasia
RomanceGiovanna é dona de um quiosque à beira da encantadora praia de Tamandaré, em Pernambuco. Alexandre, um renomado chef de cozinha, prestes a abrir seu mais novo restaurante. Ambos inicialmente se detestam. Porém, o amor surge como um prato de segund...