Capítulo 20 - Retrocesso

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Olá, queridas leitoras. Ainda estão aí?

Devido ao contratempo dessas duas autoras, ficamos um mês sem postar. Creio que estejam nem lá e nem cá conosco - e talvez a partir de hoje estejam mais pra lá.

Nossas sinceras e singelas desculpas.

Diante disso, capítulo novo para vocês nesta noite de sábado. Beijos e boa leitura!

Isa e Pi ❤️

"Um dia vestido de saudade viva faz ressuscitarCasas mal vividas, camas repartidas faz se revelar"- Fagner

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"Um dia vestido de saudade viva faz ressuscitar
Casas mal vividas, camas repartidas faz se revelar"
- Fagner

Existiam coisas que nos dilacerava sem pensar duas vezes. O coração partido, a falta de memória e um porre de sei lá do que seja. Os três juntos talvez eu nunca tivesse experienciado, mas como tudo nessa vastidão de mundo tem uma primeira vez e eu odiava ser o primeiro, em absolutamente tudo. O primeiro filho, trazendo comigo a responsabilidade de coisas que não queria e nunca pedi. O primeiro na chamada regular da escola. O primeiro a se frustrar. O primeiro cozinheiro. O primeiro a perder a memória. O primeiro a perder o grande amor sem ao menos entender.

Parecia que nessa vida eu vinha com uma sina totalmente fora do comum e normal para um único ser humano. Eu só queria viver minha vida em paz com os temperos, legumes, uma cozinha lotada, os meus e a minha mulher. Mas parece que sempre que tentava alcançar a felicidade, eu era roubado. Primeiro a memória e agora isso. Me isolar e esquecer todo esse devaneio seria uma solução plausível? Eu não aguento mais lutar e sempre cair.

Cair como Alice caiu em um buraco enquanto perseguia uma lebre e até chegar em um paradoxo que consegue ser mais complicado que sua própria vida. Assim como ela, minha queda parecia não ter fim, atravessando camadas e mais camadas de incertezas e contradições. Alice, ao menos, tinha coelhos falantes, cartas de baralho que andavam e uma Rainha insana para lhe dar alguma orientação, por mais absurda que fosse. Eu, por outro lado, tinha que lidar com as armadilhas e labirintos da minha própria mente, que se desenrolavam em um ritmo frenético, tornando minha própria irrealidade mais complicada que a realidade.

No País das Maravilhas, Alice encontrou portas trancadas, frascos com líquidos misteriosos e cogumelos mágicos que ora a encolhiam, ora a faziam crescer. Da mesma forma, eu enfrentava situações que, se não me diminuíam, me deixavam ainda mais confuso sobre quem eu era e o que realmente queria. A diferença crucial, talvez, fosse que Alice tinha uma curiosidade infantil que a impelia a continuar explorando, enquanto eu, já cansado de tantos tropeços, só desejava encontrar um canto seguro para descansar.

A cada nova tentativa de encontrar paz e estabilidade, parecia que uma nova reviravolta surgia, um novo capítulo absurdo se desdobrava. Eu não tinha um gato sorridente para me aconselhar, mas minha própria sombra me provocava, lembrando-me das perdas e frustrações. Tal como Alice, que se perguntava se tudo não passava de um sonho maluco, eu também começava a duvidar da minha sanidade. Será que minha vida era realmente uma sequência de eventos desconexos e inexplicáveis, ou eu estava apenas preso em uma espiral de pensamentos delirantes?

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