"O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a úmida trama (...)"
— Carlos Drummond (O chão é cama)
Se um dia o Alexandre do passado pensou em paixão, pode ter certeza que ele falou isso bêbado ou para impressionar alguma mulher. Ele era sensível de fato, amava tudo — a vida num todo principalmente — era respeitador realmente como todos constataram, sempre foi um lorde, como Marta se orgulhava em lembrar. Mas amor a dois era complicado. Mais do que todos imaginavam. E quando toda aquela memória desapareceu, era como se outro surgisse, um Alexandre que existia, mas que era mais comum na sua jovialidade.
O outro Alexandre teria medo de tudo, se envolveria, mas teria medo. Ele não estava preparado para amar. Esse era. Ele era todo amor, da cabeça aos pés. Olhos, corpo, alma e coração.
Por mais que tivesse medo, mas um medo comum, ele não atrapalhava o que realmente queria e naquele momento, ele queria viver até quando pudesse. Pediria a Deus, Santos, Guias e Orixás. Faria uma promessa. Faria simpatia. Andaria em romaria. Tudo para não perder o amor.
E naquele momento de corações acelerados, mãos suadas e bocas coladas. Ele sentia o gosto que sentiu na noite anterior, juntamente pingos de chuva que se misturavam à saliva trocada, que na alquimia de suas bocas virava um gosto somente deles. Uma adoração deles. Admirada apenas pela natureza de Pã.
Os beijos que começaram lentos tomavam forma de precisão, desejo, ardência. Fazendo o corpo de ambos entrarem em combustão. As bochechas douradas de Giovanna, agora ficavam vermelhas de tanto desejo e do atrito da barba que horas se esfregava diante dela — e ela jamais reclamaria. Além do cabelo já bagunçado pelas mãos de Alexandre que a puxava pela nuca. Ela pensava que para alguém que esqueceu de tudo, ele beijava tão bem que nem parecia verdade. Com seus corpos colados, era capaz de sentir a ereção do homem que a beijava com destreza.
Até que Alexandre para o beijo, deixando Giovanna totalmente sem ação.
— É melhor a gente parar. — dizia ofegante com os olhos nos dela. — Eu prefiro ficar com essa lembrança do que com arrependimento. — se afastou de seu corpo.
— O que? Não! — falou sem acreditar no que ele dizia. — Tu é surdo? Moco? Eu acabei de dizer que eu lembro e eu sei exatamente o que quero, você!
— Giovanna, quem me garante que Giovanna de agora e de amanhã vão bater nas respostas? — perguntou sério. — Que tu não vai se arrepender? Que não vai correr e dizer que não era isso? Que somos só amigos?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ilha da Fantasia
RomansaGiovanna é dona de um quiosque à beira da encantadora praia de Tamandaré, em Pernambuco. Alexandre, um renomado chef de cozinha, prestes a abrir seu mais novo restaurante. Ambos inicialmente se detestam. Porém, o amor surge como um prato de segund...