44 | Por bem ou por mal, cara ou coroa

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When you're young
You just run
But you come back
To what you need

Quando se é jovem
Você só corre
Mas você volta
Para aquilo de que precisa

This Love

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Uma chuva fina cai lá fora quando Alana se aproxima de mim na academia, dizendo:

— A internet já sabe seu nome, Rebeca Ferraz.

Ela se senta de pernas cruzadas, dividindo comigo o tapete estendido diante das janelas altas. Ao nosso redor, a maioria das jogadoras está guardando pesos, correndo os últimos minutos na esteira ou, como eu, fazendo os alongamentos finais. Dobro um braço atrás das costas, puxando meu cotovelo com a outra mão, e Alana imita o gesto.

— Já era hora — eu digo, forçando um sorriso.

— Para ser sincera... — Ela estufa o peito, endireitando a postura, mas não perde a chance de me dar uma piscadinha marota. — Muita gente sabia o seu nome faz tempo, mas agora é ainda maior.

— Por causa do hat-trick — eu adivinho. Não estou acompanhando tudo o que dizem sobre mim, mas já não faço esforço para ficar alheia às notícias. Meus gols no primeiro jogo do Brasil causaram um rebuliço nas redes sociais e me garantiram alguns milhares de seguidores que, honestamente, não sei bem como manter. — Foi bem chamativo, mas logo a maré vira e começam a me cobrar por ainda não ter marcado mais nenhum gol.

Os dois últimos jogos, ainda na fase de grupos, foram contra a Espanha e o Canadá. Emily e eu nos vimos cara a cara com nossas colegas do Barça.

Primeiro Alba, Sofia e Pilar, numa partida que custou a sair do zero a zero. Se não fosse pelo pênalti marcado por Bianca, teria continuado assim. Vencemos por muito pouco. Não que eu vá reclamar disso, uma vitória é uma vitória não importa como ela aconteça.

Depois, quando enfrentamos o Canadá, Emily partiu com tudo para cima delas, marcando dois gols. Levamos mais dois, mas, nos últimos minutos, Tati fechou o placar em 3x2 para o Brasil. Terminado o jogo, Emily e eu consolamos uma Marge chorosa no campo. Embora meu coração tivesse ficado apertado porque aquilo significava a eliminação precoce do time da minha colega canadense, a maior parte de mim só sentia alívio por não estar em seu lugar. Esportes são assim, afinal. Há vencedores e perdedores, e todo mundo sabe de qual lado quer ficar.

— Nem tudo é gol — Alana contrapõe, diante de mim. — Pelo menos você jogou as últimas partidas.

Comprimo os lábios, percebendo meu erro. Não foi a minha intenção soar ingrata, mas de que importa o que eu queria? Estou reclamando de barriga cheia, e justo com Alana. Por causa de uma sensibilidade no joelho, ela ficou de fora dos últimos dois jogos.

— Você vai fazer valer a pena amanhã — eu garanto. O treinador não quis arriscar colocá-la em campo nas partidas da fase de grupos, mas agora é pra valer. — E aí a internet vai saber o seu nome.

— Ah. — Ela dá um sorriso pequeno, estranhamente tímido. Sou pega de surpresa. É difícil ver Alana tímida, ainda mais com as bochechas adquirindo um rubor aparente. — Não ligo para isso. Só falei da internet porque sei que você liga. No meu caso, fico feliz em ser apenas a melhor.

— Apenas, é? — Ergo as sobrancelhas.

Ela finaliza o alongamento e dá de ombros.

— Quero ser a melhor goleira que posso, mas não são as redes sociais que vão julgar isso. Eu poderia ser a melhor no escuro, em segredo. Desde que eu saiba e vocês do time saibam, já está valendo.

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