Austin aguardou pacientemente, observando enquanto os outros alunos levantavam-se da mesa, um a um, até que finalmente apenas Atlas permaneceu ali, alheio à movimentação ao redor.
Aproveitando o momento em que o espaço estava ficando mais vazio, ele se levantou discretamente e começou a caminhar em direção a Atlas.
Atlas estava concentrado em seu caderno, onde rabiscava uma caricatura detalhada de um garoto magro que estava parado alguns metros a sua frente e se lambuzava de cheddar como um animal recém-fugido do zoológico. Ele parecia completamente absorto, se divertindo com a sua criação repleta de exageros, que nem notou Austin se aproximando.
— Atlas! Quanto tempo, cara! — Austin diz animadamente colocando as mãos sobre a mesa, buscando criar uma conexão íntima entre os dois.
Atlas ergue o olhar e faz uma expressão de estranhamento. O rosto dele refletia uma mistura de surpresa e desconforto, como se estivesse tentando processar a interrupção repentina. Após um breve momento de hesitação, ele franziu a testa e desviou o olhar de volta para seu caderno, ignorando o garoto à sua frente, como se tudo aquilo fosse uma grande loucura.
— Como se fôssemos grandes amigos. — Ele sussura, voltando a desenhar.
— Podemos ser. — Austin insistiu, tentando manter o tom leve e amigável.
Atlas levantou um olhar cético, distante e desinteressado.
— E por que você acha que eu estaria a fim disso? — Ele questiona despreocupadamente e indiferente, como se a conversa fosse um mero aborrecimento.
— Podemos fazer favores um ao outro. — Austin sorri de maneira maliciosa, acreditando que poderia convencer o garoto com um pouco de charme.
— Eu não preciso de favor nenhum. — Atlas diz irritado com a insistência — E do que você está falando, afinal? Esse papo tá bem estranho.
— Quê? Não é nada disso que você está pensando. — Austin balançou a cabeça, tentando afastar a sensação de constrangimento, percebendo o duplo sentido em sua frase. — Você é amigo da Denise, não é?
— Sim, mas o que é que tem? — Atlas responde como se não soubesse o que o garoto queria.
— Você poderia me dar uma ajudinha com ela, né? — Austin sorri amigavelmente, seus olhos implorando por misericórdia.
— E por que eu faria isso? — Atlas cruza os braços e deita as costas no descanso da cadeira, sentindo o poder em suas mãos.
— Pelo bem do amor? — Austin sugeriu, tentando apelar para qualquer sentimento de solidariedade que Atlas pudesse ter.
— Sou hater de casal.
O garoto era duro feito pedra. Nem toda a água do mundo ou argumento amoleceria aquele coração.
— Você gosta dela, é? Por isso não quer ajudar?
Atlas fez uma careta de nojo, como se o simples pensamento fosse repugnante.
— Não, que nojo! Somos só amigos, tipo irmãos. — Atlas faz uma expressão de desprezo. Ambos ouvem o sinal tocar, anunciando o início de uma nova aula. O garoto se levanta e começa a guardar suas coisas na mochila.
— Então por que não pode me ajudar, cara? — Austin insistiu, a frustração evidente em sua voz, enquanto observava Atlas se preparar para sair.
— Porque eu nem te conheço, você não me conhece, nós não nos conhecemos. Não somos amigos. Nao vou perder meu tempo com essa bobagem. Esquece. — Atlas respondeu, claramente enfurecido, antes de se levantar e sair da cantina com passos pesados e decididos.

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Desafeto
HumorAustin e Atlas nunca se falaram de verdade na vida. Atlas acredita que Austin nem ao menos tem consciência da sua existência. Austin acha que se ele sumisse hoje mesmo, Atlas agradeceria, talvez até soltasse fogos de artifício. Mas toda essa parede...