O refeitório do Colégio Carola estava lotado, jovens alvoroçados e famintos formavam longas filas desorganizadas para servirem o almoço.
O cheiro de comida recém-preparada se espalhava pelo ar, misturando-se com o perfume de desodorantes e o leve odor de suor. O barulho das conversas animadas e o som de talheres batendo em bandejas ecoavam pelo amplo salão.
No canto do refeitório, um grupo de garotos conversavam inquietantemente, as vozes sobrepondo-se umas às outras, enquanto ainda recuperavam o fôlego após uma intensa partida de handebol na aula de educação física.— Austin, se eu ouvir o nome Denise de novo, eu juro que vou me matar na sua frente. — Hugo servia sua bandeja com uma pasta estranha que ele não sabia se era purê ou algum tipo de patê malfeito.
O cheiro era indefinido, algo entre ervas e um toque ácido. Ele olhou ao redor, procurando algum sinal de confirmação nos rostos dos colegas, mas todos pareciam igualmente confusos. Ele hesitou por um momento, observando a massa tremer sobre a bandeja, antes de finalmente sentar-se e preparar-se para a primeira mordida.Austin tinha uma certeza inabalável: Denise Bloom era, para ele, a pessoa mais extraordinária e linda da face da Terra.
Sempre que podia, arranjava uma forma de falar sobre ela, de como ela era a melhor goleira que o Águias já teve, de como seu cabelo brilhava ainda mais quando era tocado pela luz do sol e de como gostava do seu estilo autêntico – uma combinação única de simplicidade e charme natural.
Mas o que mais o cativava era o seu coração generoso e sua simpatia que irradiava, conquistando todos ao seu redor, tornando-a não apenas a mais incrível, mas também a mais amável das pessoas que Austin já conhecera.— Você ficou obcecado por ela só porque um dia ela elogiou o seu sapato? — Ernest questionou ironicamente.
— É. Basicamente. Mas não foi só isso, Denise Bloom é simplesmente a garota mais legal de todo o colégio Carola.
Austin se lembrava daquele momento de forma muito vívida. Ele estava sentado no fundo do ônibus, quando Denise se aproximou e se sentou ao seu lado. Tudo bem que era o único lugar vazio, mas ele sentiu como se aquilo fosse realmente destino.
A garota se inclinou levemente, os olhos fixos no tênis branco com listras cinza e azul que Austin usava. Com um sorriso enigmático, ela soltou um mero "bacana", enquanto seus dedos se moviam para afastar uma mecha de cabelo do rosto.
Os olhos de Austin arregalaram-se ligeiramente, e por alguns segundos ele ficou ali, parado, boquiaberto, sem conseguir encontrar as palavras certas. O elogio dela, embora breve, parecia ter ressoado em sua mente como um eco, deixando-o desnorteado.Depois de um momento que para ele pareceu uma eternidade, a única coisa que conseguiu dizer, em um tom agudo e nervoso, foi: "Eu te empresto, se quiser." A resposta saiu de forma tão desajeitada que ele mal conseguia acreditar no que tinha acabado de dizer. Denise, no entanto, apenas sorriu de volta, com um olhar doce, como se estivesse diante de um filhote de cachorrinho fazendo alguma travessura boba.
E pronto, aquilo já foi o bastante para o garoto ficar hipnotizado.Seus amigos acham que é uma grande idiotice. Imagine só, ficar fissurado em alguém sem nem mesmo se conhecerem? Mas para Austin, algumas pessoas não precisam de muito para se apaixonarem.
Nos minutos que se passaram até chegarem nos seus respectivos pontos, ele pensava em mil assuntos que poderia falar com a garota, mas nenhum parecia ser interessante o suficiente para uma primeira conversa. Qualquer frase errada e tudo poderia ir água abaixo, então, às vezes, é melhor não dizer nada.
Em meio a dualidade do que deve ou não ser dito, Denise desceu do ônibus e a melhor oportunidade que ele havia tido na vida se foi junto.
— Ok, não querendo rotular ninguém, mas você não acha que ela é o típico estereótipo lésbico?
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Desafeto
HumorAustin e Atlas nunca se falaram de verdade na vida. Atlas acredita que Austin nem ao menos tem consciência da sua existência. Austin acha que se ele sumisse hoje mesmo, Atlas agradeceria, talvez até soltasse fogos de artifício. Mas toda essa parede...